O coelho da Mônica




Repare bem: todo mundo tem uma receita para resolver os problemas dos outros. O pulo do gato do Maurício de Souza foi criar os planos infalíveis do Cebolinha. É a metáfora perfeita para os nossos dramas diários completamente falíveis. Agora vou viajar de avião de novo. A última vez foi em novembro passado e  quase tive um piripaque com a famigerada turbulência, que proibiu a moçoila dos aires de servir o tal lanchinho peba. 

E aí você escuta de tudo para tentar sanar a sua fobia de voar. Se eu quisesse estar a quilômetros de altura do chão tinha nascido condor, né? O mundo está cheio de boas intenções, mas é um inferno tanta bondade! O mesmo acontece com a danada da insônia (será que está ligada com o medo de avião?) 

Já li de tudo, já fiz de tudo, já ouvi e apliquei mil e uma mandingas e já submeti meu organismo à vasta farmacologia existente no planeta para domar o indomável. Até no mundo do crime eu caí, contrabandeando melatonina dos Estados Unidos e da Argentina. É a escória mesmo. Sofrer faz a gente cometer loucuras. 

Pior é quando alguém crê que seu medo de voar é charme puro e começa a contar casos macabros de desastres aéreos e não para mais. Aconteceu isso outro dia na festa do meu amigo. A pessoa não se mancava com o meu desconforto. Dizia, em tom de piada, que preferia morrer num acidente de avião, pois todo mundo iria comentar, do que de ataque cardíaco. Deu-me impulso de esganá-la amigavelmente até que os olhos dela saíssem das órbitas. Ela deveria tomar mais cuidado com mulheres viciadas em séries psicopáticas. 

Mas tem o outro lado também. Você descobre que muita gente é igualzinha a você, ou seja, não gosta de voar e dorme mal. Há algumas semanas, entrei numa loja que eu gosto porque me lembra a Brasília que não existe mais. Até o nome da loja é antiquado: “A sua casa”. É nela que sempre compro camisetas Hering básicas (mangas compridas) para os meninos. São ótimas para ser colocadas por debaixo do uniforme e aquecer corpinhos magricelas nas manhãs frias. 

Aproximei-me do caixa e o dono da loja (um legítimo turco/árabe) conversava com um cliente que lhe confidenciava o quê? “E aí eu cheguei na porta do avião e parei. Não consegui entrar. Perdi o voo. Me mandaram fazer terapia. Mas o preço da terapeuta me fez desistir. Acho melhor ficar sem voar mesmo”. 

Entrei na conversa e dividi com ele as minhas aflições tão semelhantes. Mas eu não pretendo parar de voar, não. Venço minha fobia toda aflitiva vez. Fico em frangalhos, porém não posso abrir mão de viajar, prazer tão bacana, em nome de um medo despudorado. Não sei se terapia resolve mesmo esses lances de fobia, pois nunca experimentei algo focado para o meu problema aeroespacial. Sei que não resolve para insônia. Aliás, nada resolve insônia, só dormir! 

Então amanhã eu vou me cobrir de pensamentos positivos. Neuropeptídios focados no lado zen da vida. Claro, estarei munida com a medalha de São Judas herdada da madrinha; colar do OM trazido da Índia pela mestra do yoga; bloquinho e caneta para anotar impressões literárias do desespero; revista “Vida Simples” - leitura obrigatória de voos complexos; chocolates, pois qualquer desculpa serve para alimentar o vício e o coelho da Mônica nas mãos, se o meu plano Cebolinha, enfim, desse certo: cair no sono como os demais passageiros que tanto invejo. 


Comentários

  1. Eu tenho medo de ficar sem empregada!!!
    A minha foi embora hoje, deve ter recebido um lance bom no leilão das vizinhas bacanas. Demissão por mensagem de texto, ainda por cima...

    Beijo chuvoso,

    Ana

    PS.: Vistes que andei pelo blog?

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  2. Lu,

    Não sabia que você tinha tanto medo de voar.

    Bjus,

    Davide

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  3. Minha querida Lu, voe..voe muito alto...você não precisa de terapia para voar, só de encarar o seu medo, você já está vencendo esse obstáculo, pois o seu Ser(assim mesmo com s maiúculo) sabe que ele verdadeiramente não existe.Você é uma verdadeira yoguini, pois assim como o passáro mitólogico Garuda, aquele que já nasce com suas penas prontas para alçar seus vôos,mas ainda está dentro de seu ovo, precisar quebrá-lo para poder lançar-se, e você Garudasana consegue fazê-lo por si só...e sempre vence...e sempre voa, iluminada pela luz do Yoga!!!"...é, eu vou voar pro azul mais lindo e me guiar...eu quero encontrar a rosa dos ventos e só voar..."
    Beijo grande e boa, muito boa viagem...Namastê!
    Cynthia

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