Tempo de despertar




Tá, o Carnaval acabou. Chega, vamos lá. Engata a primeira, toma um café colombiano (nossa, é bom, viu?), acorda. Faça alguma coisa. A coisa certa, de preferência. Corra e olhe o céu! Repare no sol tingindo a grama de amarelo num enfoque bem Brasil: verde e ouro. Acredite que tudo vai ser diferente. Afinal, o ano começa e nessa semana você ainda celebra o seu aniversário! 

A vida está me chamando, mas quem disse que eu escuto? O tempo passa e a juventude vai se embora em novas safras de fios brancos. A cada dia encontro mais gente com a metade da minha idade. Taí: envelhecer é colecionar o dobro de memórias, chateações e alegrias. 

Continuo presa na âncora da falta de inspiração. Que pesada! Arrasto, puxo, mergulho e tento tirar os grilhões do meu tornozelo, pois eles maltratam o peixe tatuado. Não deixam a lulupisces nadar. Tenho participado de tantas cenas interessantes, porém não consigo expressá-las em palavras. Os mil e um vocábulos... Aqueles pelos quais tenho apreço flutuando ao lado dos que eu não gosto de usar... 

No domingo, tive um breve momento criativo. Uma iluminação - ou seria iluminura? Transportada para a Idade Média, era a própria “O Nome da Rosa”. Livro que encantou minha adolescência como a Rosa da “A Casa dos Espíritos’. Personagem-bruxa, maga... Enredou seus longos cabelos verdes na imaginação da Luciana e da sua dupla de amigos infalíveis: Cacau e Dedéia. Vivíamos imersos naquela realidade fantástica e nos esquecíamos da aula de Química, Física e Matemática. Irresponsáveis sonhadores... 

O sino ecoou nas margens do Paranoá... Um frêmito tomou de assalto os corpos dos fiéis reconhecendo o chamado. O incenso era o portal para a viagem ao centro de si mesmo. ‘As Brumas de Avalon” cobriram o presente. Pousei no mosteiro recluso no meio da Europa. Entonações em Latim: “Credo in unum Deum Patrem ominipoténte, factórem caeli et terrae visibilum omnium et invisibilium...” 

Invisível era eu a testemunhar aquele ritual... Os sininhos dourados em suave canção. O mantra gregoriano: “Quando meu servo chamar hei de atendê-lo. Estarei com ele na tribulação. Hei de livrá-lo e glorificá-lo e lhe darei longos dias”. As vestes roxas transcendentes. Cor d’alma, gravidade. Cuore. 

Os italianos não poderiam ser menos dramáticos do que são. O Latim não deixa. Roma não seria Roma sem sua vocação para a teatralidade. A crença religiosa é, antes de tudo, encenação a nos levar para o terreno do pecado, céu e inferno. A induzir a participação ativa na batalha entre o Bem e o Mal. Cavaleiros desse mundo redondo. “A tentação faz parte do caminho da perfeição”. 

As missas nada têm a ver com a prática do cristianismo no que ele tem de mais sincero: solidariedade e comprometimento com o humano em nós. Mas esses processos ritualísticos ajudam a gente a entrar num universo mítico que nos conecta com o inexplicável. Não é preciso ter fé em Deus para ser gente. Isso é fato. Mas acreditar no corpo e sangue de Cristo enriquece muito o espírito vivente. Alenta, acalenta. 

Perco-me nos afrescos modernos da aconchegante capela... Aquela postura de Jesus sentado com a mão direita fazendo um mudrá, que vem da raiz 'mud' (alegrar-se, gostar). Gesto, selo, senha ou chave para nos interligar com as caixinhas fechadas do inconsciente coletivo.

Tudo é o mesmo. Tudo é ontem, hoje e sempre. Buda, Deus, Brahma, Alá, Ganesh, Torá, Cabala, Mandala, Bíblia, Alcorão, Amém, Saravá, Namastê, Assim Seja: mil e um vocábulos, sinônimos da incansável busca pela luz... Por que essa galera complica e briga tanto? 


 Tema do post:

http://www.youtube.com/watch?v=gXAcu8cfrEE



Comentários

  1. Lindo, Lú!

    Nada como começar a quaresma e a semana do seu niver dessa maneira transcendental.
    Boas energias pra você sempre!

    Bjs,

    Renata.

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  2. Legal Luciana, gostei!

    Que bom que vivemos tudo ao mesmo tempo nestas instâncias corpo e espírito, mesmo que as festas, datas, tempos celebrativos as separem por prioridade, afinal, um e outro se interdependem para a coexistência neste planeta Terra.

    Lindas suas reflexões, desabafos de escritora, conclusões de pensadora, Valeu!

    Beijos,

    Guti.

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  3. Oi Luciana

    Fico feliz por você está trabalhando no STJ novamente, um lugar onde você se sente um pouco mais confortável!

    Infelizmente as coisas são assim mesmo... No universo acadêmico também existem coisas imponderáveis, que só vendo de perto para acreditar que existem mesmo.

    Gostaria de marcar alguma coisa com você, mas agora estou na reta final dos estudos para a prova do concurso da UFAL, que terá prova escrita também...Estou naquela correria para fechar o programa de estudos.

    Adoro o seu blog, Lu! Espero que vc continue escrevendo!

    Beijos,

    Rogelma

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  4. Prima, amei sua postagem.

    Percebo que temos muitas coisas em comum. É incrível, talvez seja por causa do sangue que corre em nossas veias ou pela igualdade dos signos que nos remete a um único valor que exigimos ter na vida: o prazer de sentir tristeza, alegria, preocupações, angústia, dores. Temos que tudo sentir para sermos o que somos ou o que ainda pretendemos ser...

    PS.Estou pensando em fazer um tattoo, só pensando. Gostaria de trazer comigo um peixinho (rs), um coração, e a Deusa da Justiça... O que acha? Só não fiz ainda porque tenho medo de sentir dor. Estranho, né?

    Beijos,

    Jôsy.

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    Respostas
    1. Prima amada,

      fico contente que tenhamos tanto em comum. Concordo com você. Inclusive em relação à Justiça e ao Direito... Deveria ter sido advogada. Acho que seria mais feliz como promotora do que sou com jornalista. Bem que a minha madrinha avisou!!!:)

      Te dou o maior apoio no lance da tatuagem. É normal pensar na dor. Todo mundo acha que dói muito, mas não é verdade. Só se você fizer em áreas muito sensíveis como os pés e as mãos... Ou se for muito grande e colorida, pois leva muitas sessões para ficar pronta.

      As minhas todas foram feitas rapidinho e apenas senti um incômodo, nada de dor.

      Se quiser fazer uma tatoo legal, indico o Flávio, que fez as minhas aqui em Brasília. Ele é bom. Acho as ideias muito boas: peixe tem a ver com você, coração idem e a Deusa da Justiça também. Tatuagem tem de dizer algo para a gente. Tem de ser um símbolo importante, que faça sentido para quem vai carregá-lo para o resto da vida.

      Venha para Brasília numas férias ou num fimde e eu lhe acompanho nesta empreitada!

      Beijos,

      Lulupisces.

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  5. Belas reflexões Lu...beber da fonte de todos os seres santos, mestres e sábios... a água é a mesma, vários caminhos um mesmo destino.
    bj.Namastê!
    Cynthia

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