“Mistério sempre há de pintar por aí...”



Não consigo sair dessa ressaca textual. Acabei presa no arrastão. A peixinha veio parar no aquário do Procurando Nemo... Tem peixe de tudo quanto é jeito aqui. Mas, ao contrário do Gil, ninguém é amargo e já tentou fugir para o mar aberto não. Todo mundo parece confortavelmente ambientado. Isso é bom. Quem sabe apazigua meu espírito de águas correntes, fresquinhas e revoltas. Alguns amigos me falaram que não existe melhor lugar para um peixe do que um aquário. Depende da espécie, né? 

Mas hoje eu já amanheci ganhando parabéns atrasado do big boss. E o mais irônico: ganhei parabéns pelo texto de abertura que escrevi para a seção Tira-Dúvidas. Depois de seis meses levando cacetada por qualquer frase, senti-me redimida. Talvez seja o momento de voltar a acreditar em reescrever minha trajetória profissional, sempre marcada por desentendidos. Esse reconhecimento matinal simpático pode me tirar dessa armadilha. Preciso alimentar meu blog, preciso me alimentar de ideias, de sonhos, de viagens. Não posso deixar a página em branco. Não devo. O branco é trevas para mim. 

Falando em viagens, prometi detalhes da mais recente incursão pela Chapada dos Veadeiros. Dessa vez, ficamos hospedados em Alto Paraíso mesmo. Foi a primeira vez e não nos arrependemos. A pousada era tudo o que o seu nome prometia: Recanto da Grande Paz. Chalé-quarto aconchegante, bem decorado, rede na varanda, jardins com toque paisagísticos, muitos pássaros e café-da-manhã sem grandes arroubos gastronômicos, mas também sem mesquinhez. 

Em Alto Paraíso de Goiás há cerca de 40 grupos místicos, filosóficos, religiosos (daimistas, oshoístas, espíritas, evangélicos, budistas e outros); acredita-se que no subsolo daqui existe uma enorme placa geológica de milhões de toneladas de cristal de quartzo, fazendo desta uma região do Planeta que foi escolhida para receber seres iluminados, artífices da Era de Aquário, e emanar vibração positiva. (Wikipédia)

Alto Paraíso parece mesmo um lugar que veio de outro planeta. Um lance assim meio super homem fugindo de Kripton, sacas? Porém, nesse caso, uma pequena população inteira resolvendo repovoar outras paragens com suas raízes aromáticas, medicinais e delirantes no meio do chapadão. Só isso explica aquela população de malucos-beleza tão peculiar. 

Se você tem certo interesse antropológico por tudo o que não faz parte da sua vida rotineira, sugiro dar um pulo na feirinha do espaço do produtor de Alto Paraíso, que acontece aos sábados pela manhã. É chegar e se sentir entre um bando de outra espécie. Mucho loco! 

Eu era a própria Dian Fossey em meio ao clã de gorilas... Penetrando aos poucos, observando, ouvindo... Lentamente tentando não parecer uma outsider, uma intrusa. Tirei meu chapéucaradeturista, desgrenhei meus cabelos um bocadinho, comprei um bolo da prosperidade e um tofu temperado e já não era mais eu. 

Quando me senti pronta o bastante, sentei-me na escada no meio das mães com seus filhotes. Todas esquálidas, roupas artesanais no estilo andrajo-hippie, cabelos que não veem pente, longos e alourados pelo sol. Ou dreadlocks, muitos dreads. Ser vegano ou vegetariano mantém todos em forma de palito, prontos para desfilar em Paris. E até o tom de voz do grupo parece ser modulado na mesma frequência lenta e monocórdica. O mesmo vale para as dezenas de estrangeiros (italianos, alemães e hispânicos) que fizeram de lá o seu Paraíso com alto teor de misticidades. 

Em Alto Paraíso a gente não sabe se experimenta um Reike Tântrico ou uma Reprogramação Cosmológica. Fiquei tentada em participar de um ritual de Umbandaime (umbanda + santo daime, vale-me Dios!), mas fui vetada pelo meu marido quântico, que só sabia balançar a cabeça tsc,tsc,tsc sobre aquilo tudo, sentado no banco da Praça dos Quatro Elementos Alquímicos. 

Caminhar a pé pelas ruas sossegadas e singelas, comer um risoto de pequi no Oca Lila (bacaníssimo), se perder em meio a tantos cristais e pedras coloridas embalados por alguma música essencial... A cidade é um portal que lhe transporta para altas ondas ecléticas. É preciso estar disposto a se entregar à diversidade das lendas. Se é possível misturar chiclete com banana, por que não Camelot com Druidas Xamânicos? 

Lá estava eu, embevecida com a minha torta alemã no Café Cravo e Canela, quando aporta uma nativa: “Tem haribolo?” Gente, mas o que vem a ser um haribolo? Não segurei a gargalhada e só essa catarse risível já teria valido todo o passeio... Mas ainda rolaram as cachoeiras... E as Cataratas dos Couros é deslumbrante, acachapante. O lugar mais naturalmente poderoso que já conquistei às custas de arranhões, espinhos nas mãos e uma perdidinha básica da trilha na volta. 

A dimensão da nossa transcendência estava ali naquele cânion, engolindo as águas para o oco do mundo. Beatitude. Humildade. 

P.S. Prometo fotos em breve.

Tema do post:

http://www.youtube.com/watch?v=LzJi6S3JwT4


Comentários

  1. Hari Om Lu, haribolo...e todos os haris para você.Conheço bem a Chapada e sei que tem mesmo esse astral.Pretendo conhecer essa pousada.Valeu a dica.Beijo grande...Namastê!
    Cynthia

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  2. E aí, Loo!

    Li seu texto sobre seu chefe te elogiar hoje. Coisa boa, pra variar!
    Vou aproveitar a deixa pra te incentivar a escrever um livro com suas peripécias jornalísticas e seus chefes medicação-tarja-preta. Ácido, mas engraçado. Porque tem que rir dessas coisas, já que não dá pra esvaziar um pente (isso está muito antiquado, muito rambo?) nos indivíduos cheios de empáfia e pouco estofamento que têm por aí nesse meio, conforme sua experiência.

    Vamos lá, suas feridas de guerra têm que servir pralguma coisa, nem que seja pra alertar os pobres desavisados cursando jornalismo por aí, prestes a entrar no campo de batalha!

    Beijinhos.
    Má.

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  3. Pelo amor de deos, o que é haribolo?

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  4. Luciana,
    adorei as fotos e o texto, um espetáculo!
    Um elogio é muito bom!
    Parabéns!
    Volto com as histórias da Chapada para te contar ao vivo, porque escrever não é meu forte ;)
    Abraço.

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