Páginas de um livro bom

Era outubro e a gente aproveitava para se ver entre uma chuva e outra. Brasília e seu céu enorme... A impressão é que ele acumula mais água, pronta para desabar nesta amplidão sem marquises.

Tenho uma surpresa pra você! Jura? Qual? Tô passando aí para te pegar agora.

Acabávamos de passar no vestibular e tudo significava delícia. A vida andava sorrindo naqueles dias.

Paramos em frente a uma concessionária de automóveis. O carro era do pai dele (como são todos os carros destes meninos de 18 anos).

Sim? Não adivinhou? Não me diga que você vai comprar um carro? Acertou!

Embevecidos, namoramos os modelos e cores em exibição. A gente não podia errar. A escolha havia de ser única. Afinal, um rito de passagem daquela importância!!!

Nada de marcar as horas de chuva em chuva. Os encontros seriam sempre a qualquer hora e em todos os cantos. Greve de ônibus? Nem pensar!

Foi o primeiro carro que escolhi em minha vida. Ele estava escondidinho no fim da fila, olhando para mim. Paquerei. Ele ficou vermelho, todo vermelho. Achei lindo, fofo!

Aquele ali, apontei. O vermelhinho? É. Depois tem gente que não acredita em amor à primeira vista.

Saímos de mãos dadas. Ele, eu e o carro vermelho.

Milk shakes no drivethru, filmes no drive-in, amassos entre a primeira e a marcha-ré. Brigas, portas batendo... Vamos dar uma volta pra você ficar mais calma, vai!

A gente cruzava os eixos de Brasília... As árvores ficavam para trás. O asfalto linear traçando desenhos geométricos. O choro estancava.

Quantas boas conversas entre as idas e vindas da universidade. A falta de gasolina ou o pneu furado era mais um tempo para ficar juntos.

Goiânia, sul da Bahia, roças do entorno. Nas carreatas pró-impeachment, para namorar o pôr do sol na Ermida Dom Bosco... Cada viagem, cada carona, cada bate-papo tinha qualquer coisa de vermelho intenso.

A vida sorria naqueles dias que pareciam ser eternos.


Tema do post de hoje:



Comentários

  1. Nostálgico...bateu uma saudade desse encantamento de um momento feliz, eternamente feliz...lindo texto!
    bj.Namastê!
    Cynthia

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  2. Que história fofa, Lu! ?Gostei! Estou começando a desenvolver afetividade com o meu carro vermelho, que se tornou meu companheiro do dia a dia que cabe em qualquer vaga.

    Bjos doces,

    Carmem Cecília

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