Cometa

Malas prontas! A casa vazia de móveis ecoou meu grito eufórico. Naquela madrugada, partiríamos em busca do sol, mar e da falta do que fazer. Quatro amigos e um uno mille.

Os pais, figuras preocupadas por vocação, não gostaram nadinha da ideia. Mas, nós, é claro, a adoramos. Estudamos todas as rotas, fizemos todos os cálculos e tiramos todo o dinheiro de nossos cofrinhos.

É perigoso viajar num carro tão frágil! Ah, mas se o uno falasse... Aguentou barras e barros sempre de boa, roncando baixinho.

Cara, essa viagem vai ser demais!
Eh oui!

A mania afetada do Cacau de responder tudo em francês... Porém dos amigos de infância a gente suporta todas as afetações, ponto final.

Cláudio, Andréa, Marco Antônio e Luciana: o quarteto que era um trio, afinal o Marco não valia nada. A brincadeira pegou por causa das sonecas vespertinas do garoto que acabavam furando todos os programas. No começo ele ensaiava uma zanga, mas depois se acostumou com a sacanagem e tirou de letra, na tranquilidade de sempre. Virou slogan. Nossa assinatura.

Você vai colocar o seu carro novinho na estrada?

Partimos. No roteiro, uma viagem por algumas capitais do Nordeste. Foi o Marco, recifense, que organizou a parada e fez os convites. Vamos viajar?

Recordo do dia em que ele chegou com o Meia Lua lá em casa. O orgulho era transparente: Não é lindo? Uma graça! Parabéns, Marquinho! Ele ou ela? tem cara de ele. Nome? Pequeno, brilhante, branquinho... Hum... Parece uma lua minguante sorrindo no céu. Que tal Meia Lua?

Pegou. Três meses depois embarcamos no Meia Lua para a melhor aventura de todos os tempos. Eu sabia que esse carro era ouro! Xi, o Marquinho já trocou Pernambuco pela Bahia!

As fotos que tiramos, os cartões-postais que enviamos, os sorrisos que distribuímos... Legião Urbana rolando solto no toca-fitas. Esse carrinho roubou meu coração! Mas e eu? Ah Marco, você não vale nada, lembra?

E assim aquelas férias universitárias se eternizaram. Nosso road-movie estava pronto: hilário, descomplicado, leve, inconsequente, delirante, sem cortes, bela fotografia, personagens marcantes, final feliz... Resumindo: um  clássico que não corre o risco de ficar datado, a não ser pela falta do instagram naqueles outros carnavais.

Nunca mais seríamos tão livres ou tão juntos. Mas creio que este é o anseio de toda juventude, não? Passar e deixar seu rastro incandescente acalentando a maturidade.

Comentários

  1. Lu,

    Genial! Como sempre você é extremamente criativa e consegue dar vida aos textos. Lendo parece que é o relato de algo que realmente aconteceu! Quem dera!!! Teria sido uma viagem maravilhosa, afinal o quarteto que é um trio sempre foi animado e capaz de fazer tudo ficar divertido!
    Bons tempos que tive o privilégio de curtir ao lado de pessoas queridas!
    Bons sonhos que vivemos ou que esquecemos, mas que de alguma maneira carregamos dentro de nós como força propulsora em nossas vidas!

    Adorei! Principalmente o reforço em falar que “O Marco não vale nada!”. Como nos divertíamos com esse “slogan”!

    Um grande beijo,

    Marco Antônio

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  2. Que máximo Luzinha! Apesar do aviso inicial, de que poderia ou não ser verdade ou meia verdade, ou verdade inventada, me esqueci e embarquei total de carona no uno, dando uma chegadinha prá lá no banco traseiro, prá ver se cabia mais uma na trupe...rsrsrs. Imaginando aquelas carinhas alegres, leves e com compromisso só com a felicidade e a aventura. Carinhas essas que ficaram exatamente assim na minha memória juvenil, agora tão perto, tão longe...

    Adorei o texto e o comentário do Marco!

    Beijos!

    Patty

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  3. Muito bacana Lu,muito criativo e inspirador...entrei na jogada também, estava prestes a curtir com o quarteto sem a menor preocupação de "segurar vela" a viagem dos sonhos de juventude...sem lenço...sem documento...só curtir...ser feliz...nada mais.Continue nos inspirando!
    bjão!Namastê!
    Cynthia

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  4. Lu,
    Diga ao físico cartesiano Bernardo que é claaaaro que escritoras mentem! A realidade nua e crua é muito sem graça!

    Beijos, nice weekend por aí também,

    Ana.

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