Cutucando o Bem com vara curta




Cortar o mal pela raiz (ou ao menos pelo broto). Adélio Bispo de Oliveira, quem diria, foi um grande visionário, verdadeiro patriota.

Delirante como o xará Arthur Bispo do Rosário, Adélio (também AB) idealizou uma obra de arte aos moldes de Caravaggio: violenta, cabal. Poderia haver criado um mártir de araque, todavia, forjou um mito fajuto e com ele, diversas teorias da conspiração.

Mas se tivesse dado certo? Bolsonaro sairia da vida para entrar para os livros de História como o improvável que, se não fosse o louco, receberia a faixa presidencial. Ah, os quase, os por um triz, os senões do destino. Ao meu ver, o Brasil estaria melhor sem a família B, esse ninho de cobras, cabeça de Medusa que transforma corações em pedras brutas; que espalha truculência e salga a terra por onde olha e pisa. 

Desde que o ilibado jurista Milton Luiz Pereira me explicou que o direito coletivo DEVERIA se sobrepor ao direito individual, penso que extirpar (ou estripar B., como pretendia Bispo) seria um homicídio menor diante da possibilidade de destruição em massa que B. e demais políticos da mesma laia podem desencadear no seio da sociedade.

Ah, não me venha com essa cara de horrorizada, como se eu fosse desumana. Bicho Escroto é quem votou em B. com sangue nos olhos, fel no coração e uma vontade indisfarçável de exterminar a diversidade humana e natural do planeta para que os iguais caibam num mesmo condomínio fechado da Barra, de Alphavilles… Metástases que se alastram numa nação doente de incivilidade. 

Quanto mais conhecemos de B., mas descobrimos o quanto a “banalidade do mal”, conceito estudado pela filósofa Hannah Arendt, faz parte do tecido social global. Nada mais perigoso para a harmonia da Terra do que “cidadãos de bem”, burocratas, sujeitos medíocres que executam ordens e recusam-se a pensar nas consequências de seus atos dia após dia.

B. não difere do modo de ser de Adolf Eichmann, o oficial da Gestapo responsabilizado pela logística do genocídio de judeus: um homem ordinário, comum; nem demoníaco, nem monstruoso, porém incapaz de refletir sobre suas ações. Defeso de enxergar além de seu próprio nariz e de seu próprio umbigo, ainda que esfaqueado.

Para B., a visão de mundo moralista evangélica distorcida por fixações fálicas já lhe basta para comandar um país. Ele não vê problema algum em ser como é. Crê que é digno e ungido por Deus a conduzir sua guerra santa. Evoluir como ser humano não está em seus planos de curto, de médio ou de longo prazo.

“Será que a natureza da atividade de pensar, o hábito de examinar, refletir sobre qualquer acontecimento, poderia condicionar as pessoas a não fazer o mal? Estará entre os atributos da atividade do pensar, em sua natureza intrínseca, a possibilidade de evitar que se faça o mal? Ou será que podemos detectar uma das expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto do não-exercício do pensar”? (ARENDT, 2008).

Cá estamos nós, brasileiros, à mercê de maldades inéditas. Espero que apareça logo alguém do calibre de Hannah para nos analisar e nos tirar da rota de colisão contra os pilares da humanidade. A elite intelectual do Brasil me parece anestesiada. Ainda não há oposição que reverbere mais alto do que os disparates de um governo sem luz.

“O mal é espalhafatoso e o bem é discreto. Por isso o primeiro parece estar sempre em evidência”. Foram mais ou menos essas as palavras da amiga e editora Karla Melo. Que possamos, então, reverter a ordem dos adjetivos até o ponto de alterar o resultado da equação o mais urgentemente possível. Namastê.

"O Sol há de brilhar mais uma vez

A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente"
(Nelson Cavaquinho)

Comentários

  1. Confesso que apesar de continuar esbravejando já perdi todas as esperanças. Sem nem a destruição da Amazônia foi capaz de fazer o povo despertar o que mais precisa acontecer? Indico a série Years and Years para quem quiser ver o que o futuro nos reserva. E não é bonito...

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  2. Também como a amiga Lara disse acima, perdi as esperanças. Me sinto no filme "De volta para o Futuro, parte 2" lembra o enredo? E infelizmente, aqui não é ficção é a mais cruel e dura realidade. 🤦

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  3. Também estou desesperançada com esse governo. Mas de nada adianta vociferar e ainda mais idealizar um criminoso, como se isso adiantasse alguma coisa. Nada justifica o mal, nada. Desculpa, com essa não posso concordar.

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  4. Uau esse você se superou. Não vou desistir nunca de lutar pelo bem, Sei que ele é relativo, o que o é para mim pode não ser para o outro mas não pode ser considerado bem quem luta contra o avanço e defende o retrocesso. Merval Pereira falou algo que gostei dias desses. Bozo tem mente do mundo oriental ( aqueles países fundamentalistas) e quer viver no mundo ocidental enquadrando as pessoas ao retrocesso daquelas Nações.

    Renata Assumpção

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  5. Soco no estômago. Parabéns, Dona Lu! Mais um texto da pesada. Muito interessante a reflexão.

    Paulo Bigonha

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  6. "...transforma corações em pedras brutas; que espalha truculência e salga a terra por onde olha e pisa..."
    Acho que não transforma, Lu. Acho que tudo já era pedra bruta que recebeu 'licença nada poética' para espalhar a truculência, preconceitos antes enrustidos, supremacia encruada.
    Cada dia mais triste. Cada dia mais acuada com os pensamentos loucos que hoje são públicos e em luzes neon.

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  7. Corajoso e realista. Uma pintura.

    André Luiz Alvez

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