To serv and protect





Para se ter uma imersão verdadeira no American Way of Life, não podia faltar a participação especialíssima do policial americano. Foi o que consegui proporcionar à minha irmã na tarde de hoje, procurando o escondido Neureberger Museum of Art, incrustado no imenso e belo campus da Purchase College, no condado de Westchester.

Rodando com a ajuda do Waze à caça do bendito lugar, dirigia olhando para todos os lados a 20 Km por hora (ou ínfimas milhas), até que ouvi um uiouiuou (barulho da sirene do carro de polícia). Olhei pelo retrovisor e pensei comigo mesma (péssima ideia): será que é pra mim? Continuei seguindo a 10 Km por hora e ouvi o segundo e definitivo uiouiouou... OK, acho que me ferrei. Parei o carro.

O da polícia parou quase encostado no meu. O policial veio caminhando com olhos de raio-X para dentro do meu porta-malas, banco traseiro e: documentos do carro e do motorista! A voz de barítono negro era tão assustadora que atingiu o rosto apavorado da minha irmã sentada no banco do carona. Ele era hostil, normal, eu já sabia disso, mas Marilena, não. Gostaria de entender porque a abordagem deles é sempre nada amistosa.

Mostrei a carteira de motorista brasileira, ele ficou ainda mais bravo: você não tem nenhum documento do estado de NY? Não, eu só vou ficar aqui até o fim desse ano e volto para o Brasil. Mas tenho a permissão internacional para dirigir e o passaporte... Mostrei para ele. Documento do carro, ele exigiu. Aí foi aquele atabalhoamento. Nunca tinha acessado os documentos do carro no porta-luvas. Pedi pra Nena pegar que, atordoada e espantada, não era de grande valia. Eram tantos papeizinhos!!!Perguntei para ele qual deles era o essencial: THE YELLOW ONE, THE YELLOW ONE, brandiu, com uma amabilidade de amolecer o coração.

Esse carro é de quem? Do meu marido. E qual é o nome do seu marido? Bernardo Mello. Quase ri me lembrando da música da Blitz: "qual é o seu signo e pra quê time torce?"... Ele olhou, olhou e concluiu que não deveríamos ser terroristas suicidas, noivas de Alá, pois diminuiu os decibéis:

- Você sabe por que eu te parei?
- Nooo, miei.
- Porque você não parou no sinal de STOP. (Aqui, você precisa parar MESMO no sinal de stop. Não adianta estar a 10 Km por hora.)
- Verdade, eu não vi, sorry! Estava olhando para os lados procurando o Neuberger Museum. O senhor poderia me dizer onde fica?

Ele arrancou sua armadura de homem mal e me explicou tudo direitinho, com a diligência de quem está nas ruas to serv and protect. Thank you! E seguimos. Entretanto, Marilena demorou um bocadinho para se livrar do medo de, segundo ela, ser jogada no xadrez, incomunicável, para ser deportada sumariamente alguns dias depois.

Já imaginou? Bernardo em New Orleans, Rômulo sozinho em casa, Tomás chegando da escola, a noite caindo, Frida cabisbaixa e os guris sem saber onde teriam se metido as duas maricotas míopes...

Mas entendo o susto da Nena. Dão medinho mesmo os policiais ianques. Eles trasmitem, com precisão, o sentido prepotente da ostensividade.




Comentários

  1. Adorei o episódio....tão real que até fiquei tensa!

    Socorro Melo

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  2. Sua mensagem: de fato a abordagem, nessas circunstâncias, de um policial americano deve causar medo.
    Mas, de fato, o cara foi legal. Porque, acredito eu, que qualquer pequena infração, demanda punição. por serem rigorosamente legalistas.

    Um beijo,
    Paulo.

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