Trieiro





Mamãe, como A Maja Vestida, assistia à sua novela. Tia Catarina cortava frango ou seria porco? em filés perfeitos. Tia Book, cebolas como pequenas canoas.

Eu era jovem, fresca e leve, sem as cicatrizes dos filhos; sem o peso das tragédias.

Descia o morro da casa-sede da fazenda como uma noviça rebelde apaixonada. 

No meio do trieiro, cruzava com o sobrinho-afilhado Daniel. Alcançava o curral na planície. Avistava mamãe-Maja-Vestida na sala escurecida pela fumaça do fogão à lenha. Reparava nos pés descalços dela, enrrugados como os meus serão em breve. Corria para receber um abraço: 

- Que saudade, mamãe!

Ela fazia sua indefectível expressão marota e respondia:

- Diego não te esperou, já foi embora para Salvador!

Eu quase desfalecia em seus braços, pois era por ele quem meu coração batia. O garoto colombiano do curso de inglês findo em dezembro.

A mãe percebia a dor que a brincadeira causara na filha e remendava:

- Deixe de ser besta. Ele está ali, no meio das vacas!

E assim acordei: jovem, leve e fresca, no domingo de fog londrino no Hemisfério Norte.


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