Miscellaneous


Impatients

Tatuagens, além de dogs, são excelentes maneiras de fazer amigos e conhecer pessoas aqui nos EUA. OK, não se anime com o conceito da palavra amigo. É mais um modo de falar e ficar engraçadinho. Digamos que você trava polite and nice conversations com estranhos quando tem uma tatuagem visível. Ainda mais se ela tiver um quê enigmático como o meu OMMM estilizado no ombro direito. Poucas pessoas reconhecem o que o desenho é. Então se aproximam perguntando, puxando um papinho. 

Foi assim outro dia no Home Depot, mais uma das megablaster lojas de ferramentas e apetrechos para deixar sua casa arrumadinha. Paraíso de Bernardo e Rômulo, que só faltam babar diante de tantas opções de chave de fenda, pra dizer o mínimo.

A jovem e americaníssima caixa elogiou a tatuagem e indagou: Beautiful! What is your tatto? Respondi e entabulamos uma conversa de cinco minutos. Tempo suficiente para saber que ela já tatuou o corpo 16 vezes! E eu timidamente com quatro... Mas as dela estavam bem escondidas, viu? Não divisei nenhuma. Ela também me revelou que pretende fazer outra. Uma homenagem aos avós:

- I want to draw "what a wonderful world", my grandfather favorite song with some impatiens, my grandmother favorite flowers, she said and I lhe dei todo o apoio. O melhor de tudo foi descobrir que o nome dessas florzinhas simpáticas que enfeitam nove dentre dez canteiros americanos se chamam Impacientes. Deve ser porque não esperam a primavera para florir. São sempre vistosas e alegres.

Confessei à garota de uniforme cinza e laranja que a minha primeira tatoo (o peixinho no tornozelo) foi feita aqui nos EUA, em 2001. E que farei mais uma agora, para celebrar o retorno. Só que não defini o que desenhar... Tenho algumas ideias, mas não consegui bater o martelo -  são tantos no Home Depot - sobre o tema e em qual parte do corpo ficará. 

Mamãe, que era um cadiquim desbocada, soltaria: mudando de pau para cacete. Sim, ela falava essas coisas, como se fosse uma menina trespassando um lugar proibido. Eu ficava brava com ela, mas hoje tenho é saudade diária de suas traquinagens. Pois, então, mudando de assunto, tem dias que a gente acorda com o maior gás; noutros, rola aquela lona. Hoje acordei zerada. Talvez tenha sido a faxina de ontem. O melhor amigo da housewife americana é o papel-toalha. Por isso já comprei um estoque. Aliado ao spray de Lysol, pronto: tudo limpim. Mas não sem dores nas costas, pois a mimadinha aqui já não fazia trabalhos braçais há milênios.

Levantei, pensei mais uma vez em qual recheio colocaria entre as duas fatias de pão forma... Os americanos não ligam para almoço. O jantar é a refeição da família. Haja criatividade para criar sandubas saudáveis, potentes e saborosos para os meninos todo santo dia.

Taí, Mario, você que é um legítimo entreprenuer - adoro essa palavra que Hillary Clinton tem usado bastante em seus discursos. É daquelas que a gente precisa enrolar a língua toda pra sair. No meu caso, que mal consigo pronunciar 33, é um desafio -, o que acha de a gente inventar uma franquia chamada Lunch Bag? Tô ficando craque nas misturas, os meninos vêm aprovando meus sanduíches. A gente colocaria nos saquinhos de papel pardo e coisa e tal... Daria pé?

Levei os meninos para o Summer Camp Day, Tomás esqueceu a camiseta específica de passeios fora da escola (os americanos e suas especificidades tão específicas!!!),tive de voltar, pegar a tal e retornar ao colégio. E a vontade de passar a marcha do carro e lembrar que é automático? Nisso, deu mais preguiça ainda de fazer qualquer outra coisa além de ouvir Beto Guedes, dormir e sonhar contando caso de como deve ser lumiar... Passar o dia moendo cana, caçando lua... Eita tempo bom esse da fazenda, da mamãe cortando cana. 

Domingo passado, matando saudades de Agnes, minha polonesa preferida, em dado momento ela quis saber: você acha que mudou muito, pois eu acho que não mudei nada com a maternidade. Respondi que a morte de minha mãe foi o que me mudou, não os filhos. Sei que há uma Luciana antes e uma Luciana depois desse evento definitivo e traumático. Agnes ficou espantada porque não tem muita ligação com os pais. Mas entendeu que eu, sim, era pretty closer to my mommy. Ela me disse que está perdendo uma tia por afinidade, a real angel, para o câncer, e não sabia o que fazer. Entendi perfeitamente a raiva e a impotência dela. 

Achei tocante Agnes me confessar sentimentos tão íntimos. Afinal, são 16 anos, porém dez mil quilômetros de distância. É bom ter amigos, mesmo que você precise usar uma língua intermediária que não é a natural para nenhuma das duas. Mesmo que tenhamos backgrounds completamente diferentes. Mesmo que eu chame o dragão da Cracóvia de dinossauro e ela fique zangada com minha ignorância sobre as lendas polonesas. Duvido que ela conheça o saci-pererê, oras! :)

See you soon, hasta luego, inté!


Comentários

  1. Adorei. Mudar de pau pra cacete é saudável! Acho que você mudou sim com os filhos (como não?) e também pós mommy (como não?). E lembre de me falar quando fizer sua outra tatuagem porque eu tenho que seguir te copiando, né? (qualquer pretexto é pretexto pra uma boa tattoo) rss

    Beijo, Loo

    ResponderExcluir
  2. Adorei! Aprendo muito e me divirto com seus textos!

    ResponderExcluir
  3. Luciana,

    muito legal o seu "texto" (é assim que se fala)?

    Alguns comentários:

    Tatuagens: é meio louco isso, não?
    A impressão que tenho é de quem faz uma, acaba fazendo muitas...

    Ferramentas: coisas de homem. Sou assim também.

    Mãe: está sempre presente em nossos pensamentos.
    E já se passaram 12 anos desde que a minha se foi.

    Beto Guedes: taí um cara cujas músicas eu sempre gostei muito,
    embora ele próprio fosse muito estranho...

    Sua amiga polonesa: legal reencontrar!!

    E o Bernardo? O que ele está achando?

    Um beijo,

    Paulo.

    ResponderExcluir
  4. Sugestao para sandwich : almond butter- healthy and delicious .

    ResponderExcluir
  5. ÊÊÊÊÊ coisa boa, ler suas aventura!!!!bjs
    Namastê!
    Cynthia

    ResponderExcluir
  6. Lulu, como disse e repito, seus texto são ótimos.
    Pena que não nos encontramos antes da mudança. Deremos um jeito no destino e nos encontraremos na volta. Sucesso aí,tá? Milhões de beijos e abraços,

    Bruna.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ousadia

Presentim de Natal

Horizonte de Eventos