Descontrole de voo


Ai que ódio que eu tenho dessas pessoas que dormem com a boca aberta mal sentam na poltrona do avião. Raiva, puf, puf... Não vou pedir desculpas, pois quando a personalidade Maricota fóbica ataca, é preciso encontrar um bode expiatório!

A aeronave nem saiu do chão e do outro lado do corredor a mulher já emborcou o pescoço para frente. Daqui a pouco começa a babar como o homem sentando na fileira detrás. Encostado na lateral fria e trepidante dessa máquina de voar insalubre, dorme de “rabo solto”, como diria minha mãe.

Ai que ódio, que inveja... Enquanto mal posso segurar a caneta de aflição, o tal homem de camisa salmão (ou seria goiaba?) está totalmente entregue aos braços de Morfeu. Tomara que tenha um torcicolo, tá bom???

Decolagem autorizada e os felizardos já se encontram no sono REM. O que acontece com esse povo? Passa a noite em claro antes de voar? Toma um mix de frutas com Rivotril, Donaren e Frontal?

Olho para trás e vejo outras cabeças despencando para lá e para cá. Sim, não, talvez... Os sonhos mais lindos embalados pelo irritante barulho das turbinas. A trepidação da pista como um travesseiro de penas de ganso. O sentar vertical e espremido vira cheirosos e macios lençóis de linho 380 fios. O rascante som do recolhimento do trem de pouso, uma cantiga de ninar.

Eles lá e eu aqui, suando frio, escrevendo para não gritar: quero descer!!! Porém me dou uma brecha e procuro relaxar mirando a vista da janelinha. No meu caminho, duas moçoilas tiram fotos do além, alheias à condição de mortais.

Na diagonal, uma guria passatempo com suas cruzadas de difícil solução e... Não acredito! O homem de blusa de botão goiaba (ou seria salmão?) começa a roncar descaradamente. Cinco minutos a 11 mil quilômetros do solo e ele ronca tão alto que rivaliza com a potência do avião. Tenha dó, isso beira à humilhação!

O jeito é espiar o que a menina escreve no laptop. Bisbilhotar a vida alheia é eficaz distração e o facebook não me deixa mentir. Voar, que provação! Mas Buenos Aires merece. Sem contar que o céu, mais uma vez, foi bastante camarada. Só estrelas e azul para espantar qualquer fobia.


Música-tema do post:

http://letras.terra.com.br/biafra/44571/

Comentários

  1. Lu, descobri um aparato que me ajuda a relaxar: um apoio de cervical com massageador. Normalmente o barulhinho do motor à pilha incomoda, mas no avião ele acaba disfarçado e a massagem vai dando um soninho... com uma venda nos olhos e a cabeça na meditação é inté possível cochilar. Se vc tiver fones de ouvidos plugados em alguma música relax/zen fica perfeito. Claro, mas se a fobia é grande, tome antes uma bolinha básica... :) bjão Isa

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    1. Olá BelBel,

      quando viajo sozinha, fico mais tensa. Na ida, com a minha irmã, tudo foi ótimo. Conversamos bastante e fiquei numa boa. No retorno, estava sola e a fobia quis tomar conta de mim, mas me orgulhei de conseguir driblar tudo escrevendo e observando os outros. Li bastante também. É sempre bom ler, relaxa. Agora dormir no avião ainda está no terreno dos sonhos a realizar.:)

      Beijão,

      Lulupisces.

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  2. Tem muita gente no avião que finge que está dormindo, Lu...

    Beijos,

    Evelyn.

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  3. Você tem o quê?? Síncope? Luciana, você não existe!!!! Sempre me surpreende. Náusea, sudorese,naúsea.
    Já eu adoro ficar olhando o mundo lá de cima.
    Quarta à noite você já estará em Brasília?

    Bjus. Davide
    Feliz Páscoa!

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  4. OK, Falou sobre a deliciosa fobia e, no final, deixou a gente com água na boca sobre Buenos Aires. Conta tudo, vai.

    Obrigada pelo link "Sonho de Ícaro", com Byafra. Quantas e quantas vezes, em minha minha juventude (que já vai lá longe!) ouvi o sucesso com a voz - pra mim afinada - do rapaz.
    Também me lembro que esta música foi cantada na "posse" de minha cunhada como comissária de bordo (nem se atreva a chamá-las de aeromoça...) da Varig, anos idos. As formandas formaram um coral e cantaram a plenos pulmões, marcando a data.
    Quantas recordações...

    Beijos derretidos
    Márcita

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    1. Marcita,

      sabe o que você me lembrou? De que quase fui comissária de bordo. Logo eu, imagine, a fóbica de aviões.HAHAHA!

      Mas cheguei muito perto de me tornar uma das moçoilas do ar da Japan Airlines. Foi em 1993, quando morava em São Paulo. Tinha acabado de me formar e me casar e procurava emprego desesperadamente.

      Saí atirando para todos os lados e meu currículo foi selecionado pela Japan Airlines. Participei de diversas etapas da seleção e sempre passava pelo funil. Quando percebi que iria chegar o momento do treinamento no avião (situações de emergência e outras coisas terríveis, eu fugi.:) Percebi que seria inviável ser comissária de bordo. Deus me livre!!!!:)

      Um beijão e obrigada por compartilhar suas recordações aqui no blog!

      Lulupisces.

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  5. Conte tudo de Buenos Aires, viu? Quanto aos roncos, são realmente insuportáveis,já fiz também uma viagem com uma figura dessas que até uivava...ninguém merece!!!São pessoas que têm muito medo e se entorpecem para não ver nada, inclusive considerando até a queda da aeronave.Para você querida amiga yoguini , indico a meditação,respire,agradeça a benção de voar,voar,subir,subir...elevar-se além das nuvens.
    Namastê!
    Cynthia

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  6. O ronco alheio é a pior parte! Bjs, Ana Cláudia

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  7. Como sempre, muito bom!!!! kkkkkk

    Beijos,

    Bruna.

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