Macacos me mordam!

Márcia, amiga carioca, não resiste em ver aqueles programas do Discovery Home&Health sobre nascimento de bebês. Não sei se quem não é mãe pode gostar desse tipo de diversão, mas para quem já pariu é um modo de reviver a sobrenatural experiência de dar à luz.

A expressão não poderia ser mais perfeita: dar à luz! Eureka! Parir é descobrir a teoria da relatividade e mudar o panorama do mundo. É revolucionar fazendo a mais ancestral das atividades mamíferas.

Nesse último sábado, uma mulher barriguda fazia as unhas ao meu lado. A nostalgia me invadiu... Momentos de ternura e expectativa. Quis puxar papo com ela, mas depois me retrai. Só olhava para aquele barrigão e resgatava as minhas múltiplas sensações da gravidez. Parecia que tinha acontecido no século passado. Mas são apenas oito anos.

Só que a fase barriga, comparada ao pós-nascimento, parece um filme em slow motion. A natureza é mesmo uma sábia anciã. Nos dá nove meses de elasticidade plácida para que entremos em outra dimensão. A dimensão maternal nutrida dos sonhos mais lindos. Depois, lança a gente no furacão do dia a dia do crescimento desses mamíferos ávidos e inteligentes. O tempo voa e só nos resta essa recordação do tempo latente. Do tempo que nos pertencia.

Divago porque hoje faz seis anos que acompanhei o parto do meu primeiro sobrinho-neto. Foi uma espécie de “Um bebê por minuto” particular. Sem querer eu estava ali. A obstetra que acompanhava a minha sobrinha achou que eu fosse da área médica – “Você estava tão tranquila!” - e permitiu que eu seguisse fotografando o espetáculo.

E que espetáculo! Soberana eu via o desenrolar daquele processo rememorando o meu. Era um portal em que tudo acontecia simultaneamente. Legal ser a atriz principal do parto e depois ver a composição da personagem por parte de outra estrela, agora como telespectadora experiente.

Depois de horas de dor e suor, lágrimas de choro, nascia Caetano sob as minhas lentes desfocadas – fotógrafa de meia tigela emocionada esqueceu de corrigir o equipamento - e a minha bênção.

Caetano doce, roliço, suave. Caetano dos olhos transbordantes de carinho. Uma surpresa assustadora que se transformou na certeza mais absoluta. Suas penugens avermelhadas e ar de colo remetiam à imagem dos orangotangos, animais afetivos, familiares, abraçáveis. Caetano é um pudim caramelizado. Um floco crocante de chocolate Nestlé. O ponto de equilíbrio entre a avó e a mãe.

Caetanorango compõe o quarteto de macacos raros: Tomás, o silencioso e altivo gorila, chefe do clã. Luan, o serelepe mico-leão dourado. Rômulo, o chimpanzé atrevido. Macacada que se complementa e se diverte como se não houvesse amanhã.


Comentários

  1. Ai, que doce, Loo...
    Gostei muito mesmo do quarto parágrafo. A fase barriga é realmente a preparação para essa outra dimensão de ser mãe. Parece que foi em outra vida que fui filha, irmã, sei lá, qualquer outra coisa. Ser mãe é uma vida em si. Pelo menos nessa fase aí, em que a prole é voltada toda para nós. Depois eu já não sei, o tempo dirá.
    Beijo.
    Má.

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    1. É mesmo, né aMáda? A gente até já se esquece que viveu antes de ser mãe... E quando a gente perde a mãe, aí que fica esquisito porque você não é mesmo mais filha de ninguém. Orfandade terrível!!!

      Que bom que gostou!

      Beijocas,

      Lulupisces.

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  2. Texto fodástico.
    Arrebentou, Dona Luciana.
    Tava com a macaca quando escreveu, hã?

    p.s. tem coisa mais cafona e irresistível do que fazer trocadilho?
    Não tem.

    Valdeir Jr.

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    1. Oi primão,

      puxa, nem tinha essa intenção de arrebentar. Não foi um texto parido estudadamente. Olhei a página em branco e sabia que tinha que parir algo, pois a regularidade do blog exigia. E aí me lembrei do aniversário do Caetanorango e quis dar um presente para ele.

      Legal saber que a gente toca as pessoas quando menos esperar tocar.

      Um beijão,

      prima.

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  3. Lu,

    Quanto mais vcs escreve, mais escreve! Amizade à parte, vcs já esta no patamar de uma Martha Madeiros!

    Acabei de receber um texto que uma amiga me enviou da Danuza Leão, mas te confesso que a acho meio chata... Vcs escreve mil vezes melhor que ela... Sim, sempre me emociono com seus textos.

    Vcs traduziu para a escrita o que sinto (graças a Deus e espero que sempre) quando vejo esses programas. Aliás, faz muito tempo que não assisto...

    Que sejam sempre felizes esses macaquinhos! E que sempre me mordam também!

    Bjão Lu,

    Marcia

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    1. Peugeot amada,

      obrigada. Também concordo contigo, sem modéstia alguma. Acho que escrevo melhor ou pelo menos igual à Danuza, mas ela é a Danuza, ex- do Samuel Weiner, dono do Última Hora. Conhece todo mundo, essas coisas todas.

      Também acho que estou no nível da Martha. Pelo menos dessa Martha de hoje. Mas tudo é uma questão de ser indicada pelas pessoas certas, ter alguém poderoso que diga: leia essa guria aqui. Ela é boa!

      Um dia, quem sabe, eu consigo me livrar do serviço público para sempre e meus textos não viram peças de teatro e filmes? Ó, tudo o que eu queria, juro, era pedir exoneração do STJ. A fama nem era necessária, mas apenas um dinheirinho que me desse a libertação desse emprego ENTENDIANTE!!!

      Que bom que gostou do texto. Foi feito pensando em você!

      Um grande abraço,

      Lulupisces.

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  4. Lu, que beleza!
    Agora entendi porque "Caetanorango" :)
    Este quarteto animal promete!
    Gostei.
    Beijos,
    Marianna

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  5. Antes tarde do que nunca, felizarda mãe do Caetanorango!!:)

    Abreijos,

    Lulupisces, a tia-avó coruja.

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  6. Muito bom o texto Lú... Show!

    Bj,

    Rodrigo.

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