Vivendo de glória



Estudos científicos (sempre eles na nossa era da razão) comprovam que fêmeas que convivem juntas costumam entrar no cio juntas. Uma sacada de gênio da evolução biológica, pois assim as prenhas se confortam umas as outras e depois dão uma mão umas as outras com a prole... 

Nos anos de individualismo, a mulher perdeu esse comportamento natural de bando. A rede feminina perdeu a força, que pena! A galera hoje só se reúne em site de compra coletiva... Se bem que eu tive a sorte de engravidar junto com duas boas amigas e uma prima amada e foi mesmo reconfortante partilhar esse estado interessante com elas. E agora são nossos pimpolhos que estão, também, compartilhando a amizade.

Estou falando tudo isso porque desde ontem eu pensava em como ficou claro para mim a facilidade em se entregar para a inércia da vida. Atualmente entendo porque a maior parte das mulheres perde a forma e engorda depois dos 40 anos. Porque eu sou uma dessas mulheres que se pegam jogadas no sofá querendo apenas respirar tranquilamente. E olha que eu sempre gostei de me exercitar, de fazer esportes, desse papo de vida ativa e ralação na natureza selvagem.

Mas é muito louca essa preguiça que se instala sem a gente se dar conta... Não é tédio, não é solidão, não é deprê. É apenas uma vontade de apenas existir em silêncio. De ficar de bobeira. De comer chocolate acreditando que as calorias ainda serão gastas normalmente, sem esforço extra, como se você tivesse 15 anos e só pensasse em namorar (o que gasta uma energia, danada, nós sabemos!)

A tal inércia vai envolvendo tudo, é estranho. Sorrateiramente ela te pega de jeito e aí você passa a compreender a sua irmã mais velha que parou de ler literatura há tempos. Se antes você bufava de arrogância e dava sermão: Como você consegue viver sem ler um romance? Agora você descobre: ei, eu também estou levando cinco meses para ler um livro de 100 páginas!!! 

Como está difícil manter uma constância na leitura... Os livros se acumulam na minha cabeceira. Os emprestados, os meus, os indicados... Hoje olho um livro grosso com certo olhar enviesado... Ui, aí, que saquinho!

As distrações são muitas e mais amenas: as séries de TV, as matérias lights das revistas, o facebook, o email, o blog, a internet. As tarefas são várias e nada amenas: chegar aos 40 com filhos ainda na primeira infância, marido cobrando afeto, horas a mais no trabalho, empregada, supermercado, dívida, terapia, melatonina à noite para aguentar o dia...

E eu estava nessa de matutar essas ideias e aí recebo mensagem de outra boa amiga me pedindo ajuda para conseguir engatar nalgum livro bacana até o final. Achei tão interessante essa conexão da angústia. Olha aí a biologia do grupo íntimo funcionando novamente, quando a gente menos espera. 

"E por falar em ler e discutir, qual será o primeiro livro do nosso grupo ainda em projeto?
Confesso q preciso me destravar... Já comecei dois livros que abandonei...
Help, Luzita! Indica algo bom de ler..."

Socorro digo eu, minha amiga!! Tô mais por fora do que barriga de vedete!! Pode acreditar, mas até hoje não terminei o livro de crônicas (crônicas!!!) do Carpinejar. E eu estava adorando lê-lo, não é maluquice?

Espio aqui ao meu lado as obras que me cercam dispostas sem precisão na bagunça da estante. Uau, eu já li tudo isso!! Eu já fui intelectual!! Acho que vou virar museu e passar o resto dos meus dias vivendo de glória... :)


Comentários

  1. Bom dia prima amada!
    Eu também sinto da mesma forma,e nós mesmo distantes,engravidamos na mesma época,e compartilhamos das nossas angustias e alegrias lembra?
    Voce me me deu tantas dicas,mesmo sendo mãe de primeira viagem como eu,nunca esquecerei!
    E assim caminha a humanidade...
    Beijos
    Dja.

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    1. Claro que me lembro, prima!! Foi falha minha não ter te colocado no texto. Então fomos um quarteto de grávidas ao mesmo tempo e com muitas histórias para partilhar e recordar. Vou mudar o texto é pra já!

      É muito bom saber que Tomás e Ana Luísa vão crescer juntos, amigos, perpetuando a geração de primos.

      Beijão,

      Lu.

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  2. Totalmente identificada! O que fazer nesta era de inércia, Lu? Aguardo mais um texto, agora com a solução, hehe...

    Bjs,

    Ana Claudia.

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    1. Dear Ana Claudia Loiola, estava lá, largadona no sofá me alienando na TV quando, capotando os canais, eu pego um programa sobre pessoas que resolveram se exercitar depois de anos de obesidade. Sabe, por incrível que pareça e nunca tendo sido sedentária, aquilo me tocou de uma forma estranha.:) Voltei para as minhas caminhadas matinais seguidas de abdominais. Só yoga, depois dos 40, não dá. Mas eu duvido que você está na inércia, garota! Cê passa meses sem comer pão francês!!!:) Bjs.

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  3. Bom-dia querida Luciana,

    que lindo mais este seu artigo! Gostoso ler seu estilo que vem do mais dentro e profundo de sua alma inquieta.

    Agora querendo um pouco de descanso no sofá - é isto aí mesmo - exatamente como você captou. A idade nos pede uma paradinha diferente do que no passado nossa alma até às vezes também nos pedia.

    Depois dos 30, dos 40, dos 50, de 10 em 10 os pedidos vêm com coloridos diferentes.

    Deite-se, permita-se, relaxe, e depois se levante e continue caminhando e cantando e seguindo sua canção, conforme ela lhe levar à frente,cada uma e um de nós tem a sua,e a das mulheres é um pouquinho mais maluca do que a dos homens,

    Nós mulheres somos assim mesmo, lindas, maravilhosas, complicadas, misterioriosas,as superpoderosas!

    Grata pela inclusão de meu nome em uma dedicatória sua no mês de março do artigo Zeróis. Só agora acabo de ver e ler, por isto ainda não havia lhe agredecido.

    Tirei esta manhã para me atualizar no seu Blog, que sempre é muito lindo, goostoso, emocionante!

    Sou sua fã de carteirinha, valeu!

    Beijos a você e sua trupe! Feliz feriado, até mais, apareçam,

    Guti.

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    1. Guti amada,

      quem é sua fã de carteirinha soy yo!! Podíamos passar o dia todo aqui nesse blog rasgando a seda uma da outra, né?:)

      Você e a minha superteacher de yoga Cynthia são meus exemplos de mulheres antenadas, bonitas, charmosas, descoladas, engajadas, amadas por seus maridos e filhos, mães de homens de bem (olha que conexão) e inteligentes. A ordem dos fatores não altera o produto. Ou seja, vocês são fantásticas!

      Quando crescer eu chego lá!!!

      Beijão,

      Lulupisces.

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  4. Haja coragem! Estou me preparando para o mestrado e tenho que dar uma boa revisada na história da literatura, senão vou dar vexame na academia, né? Quando vc estuda literatura, tem que, obrigatoriamente, estudar história, muita história! E depois tem que ler muitas estórias também, inúmeras obras célebres para fechar, com chave de ouro, o ciclo de estudos. Ou seja: muito trabalho no sofá, nenhuma preguiça! Melhor mesmo é ler na cadeira dura da mesa da sala de jantar. O famoso literato Alfredo Bosi produziu uma lista de 120 grandes obras da literatura, sem a inclusão de autores ainda vivos. Reproduzo parte dela na próxima postagem logo abaixo, mas estou mais para ler "Macunaíma" só, viu, numa rede e com muuuuuita preguiça!
    Aí, Luzinha, se teste, sei que já leu vários. O slogan é: Não morra antes de ler estes livros!
    Beijos,
    Patty

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  5. Aí vai parte da lista:

    Martins Pena - O juiz de paz na roça
    Joaquim Manuel de Macedo - A moreninha
    Gonçalves Dias – Primeiros Cantos
    Alvares de Azevedo - Obras
    Junqueira Freire - Inspirações do claustro
    Manuel Antônio de Almeida - Memórias de um sargento de milícias
    José de Alencar - O Guarani
    José de Alencar - O demônio familiar
    Casimiro de Abreu - Primaveras
    Tavares Bastos - Cartas do Solitário
    Fagundes Varela - Cântico do Calvário
    José de Alencar - Iracema
    O Corpo-Santo - Comédias
    Sousândrade - O Guesa
    Castro Alves - Vozes d’África, O navio negreiro
    Castro Alves - Espumas flutuantes
    Visconde de Taunay – Inocência
    Machado de Assis - A mão e a luva
    José de Alencar - Senhora
    Bernardo Guimarães - A escrava Isaura
    Machado de Assis - Iaiá Garcia
    Machado de Assis - Memórias póstumas de Brás Cubas
    Joaquim Nabuco - O Abolicionismo
    Raimundo Correia - Sinfonias
    Raul Pompéia - O Ateneu
    Olavo Bilac - Poesias
    Aluísio Azevedo - O cortiço
    Machado de Assis - Quincas Borba
    Cruz e Sousa - Broquéis
    Rui Barbosa - Cartas de Inglaterra
    Artur Azevedo - A Capital Federal
    Joaquim Nabuco - Minha formação
    Alphonsus de Guimaraens - Dona Mistica
    Machado de Assis - Dom Casmurro
    Euclides da Cunha - Os Sertões
    Graça Aranha - Canaã
    Cruz e Sousa - Últimos sonetos
    Vicente de Carvalho - Poemas e canções
    Augusto dos Anjos - Eu
    Lima Barreto - Triste fim de Policarpo Quaresma
    José Veríssimo - História da literatura brasileira
    Monteiro Lobato - Urupês
    Valdomiro Silveira - Os caboclos
    Mário de Andrade - Paulicéia desvairada
    Manuel Bandeira - Ritmo dissoluto
    Oswald de Andrade - Memórias sentimentais de João Miramar
    Oswald de Andrade - Pau-Brasil
    Guilherme de Almeida - Raça
    Simões Lopes Neto - Contos gauchescos
    Alcântara Machado - Brás, Bexiga e Barra Funda
    Mário de Andrade - Macunaíma
    Cassiano Ricardo - Martim-Cererê
    Manuel Bandeira - Libertinagem
    Carlos Drummond de Andrade - Alguma poesia
    Raquel de Queirós - O Quinze
    José Lins do Rego - Menino de engenho
    Gilberto Freyre - Casa grande e senzala
    Graciliano Ramos - São Bernardo
    Jorge Amado - Jubiabá
    Sérgio Buarque de Holanda - Raízes do Brasil
    Érico Veríssimo - Caminhos cruzados
    Rubem Braga - O conde e o passarinho
    Dionélio Machado - Os ratos
    Graciliano Ramos - Angústia
    Otávio de Faria - Tragédia burguesa, I, Mundos mortos
    Graciliano Ramos - Vidas secas
    Marques Rebelo - A Estrela sobe
    Murilo Mendes - A poesia em pânico
    Jorge de Lima - A túnica inconsútil
    Cecília Meireles - Viagem
    José Lins do Rego - Fogo morto
    Carlos Drummond de Andrade - A rosa do povo
    101.Guimarães Rosa - Sagarana
    Vinicius de Moraes - Poemas, sonetos e baladas
    Henriqueta Lisboa - Flor da morte
    Érico Veríssimo - O tempo e o vento
    João Cabral de Melo Neto - O cão sem plumas
    Carlos Drummond de Andrade - Claro enigma
    Jorge de Lima - Invenção de Orfeu
    Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência
    Graciliano Ramos - Memórias do cárcere
    João Cabral de Melo Neto - Morte e vida severina
    Guimarães Rosa - Grande sertão: veredas
    Guimarães Rosa - Corpo de baile
    Clarice Lispector - Laços de família
    Guimarães Rosa - Primeiras estórias
    João Antônio - Malagueta, Perus e Bacanaço
    Clarice Lispector – A paixão segundo G.H.
    Osman Lins - Nove novena
    Antônio Callado - Quarup
    Haroldo de Campos - Xadrez de estrelas
    José Paulo Paes - Um por todos - Alfredo Bosi

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    1. Patty do céu, cruuuuuuuuuuuuzes!!!

      Essa academia não muda não, hein!! Quanta coisa obsoleta e chata, putz!!!

      Minha amiga, eu já li quase todos esses caras, mas nem sempre os livros citados aí nessa lista. Todavia concordo que "Grande Sertão, veredas", Sagarana, Morte e Vida Severina, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro são imprescindíveis!! Clarice, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Érico Veríssimo e Castro Alves também.

      Porém José de Alencar, vixe!! Tô fora!!!! Graciliano Ramos também é chato pacas, mas gostei de Vidas Secas. Tentei outros, não deu.

      Macunaíma é tudo ontem, hoje e sempre. Principalmente sempre, nessa minha vida de piloto automático.:)

      Beijão,

      Luzinha.

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    2. Dessa lista lembro que amei na adolescência "O Cortiço" e "O Ateneu"...
      Bjs!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Oi,
    eu e a Renata nos divertimos demais. Ela mandou dizer que seu superego está pegando leve, pois ela segue se recriminando tanto quanto recriminava a sua (dela) irmã. Eu acrescento: e resmungando comigo.
    Um beijo,
    Márcio

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  8. Pois...depois de passar um ano e tal lendo sentadinha na cadeira dura pra não dormir e de lápis na mão para captar melhor as idéias dos livros pro mestrado (oh! aborrecidas e salvadoras fichas bibliográficas...) tô mais é a fins de que a coisa desça gostoso que nem sorvete... mastigadiiinho ou então bombástico, arrebatador. Enfim, algo que não dê muito trabalho... :@ mas ler assim é um bocado raso... Linkar é pensar, matutar, escavar. E um bom texto que se preze sempre há de nos exigir mais do que olhos (se bem que até o preço da vista depois dos 40 fica progressivamente mais alto). Mas sou otimista: se aperta de um lado, folga do outro. O lance é aproveitar a estrutura mais farta e frouxa pra vibrar em novos tons. E ser mais seletivo mesmo quando voltar a vontade de ler. Porque ela volta, não tenho dúvidas, Lu. bjin

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  9. Oi Lu...grata pelos elogios, sabes que tenho imensa admiração por ti,sim?Récem chegada de um retiro espiritual no Mosteiro de São Bento, retorno preenchida e renovada,pela meditação, momentos de pausa, silêncio e inércia, que não significa não fazer nada, a inércia é também movimento...não fazer é fazer também...então, permita-se! Nesse movimento de momento a momento,um espaço...se houver atenção no momento, o espaço será naturalmente preenchido com insights,e você de dando conta e uau! aí verdadeiramente percebe que já está plena, para agir, fazer aquilo que deve ser feito, a coisa brota sabe? Mas primeiro devemos esvaziar a xícara,sacou?
    As pausas existem para que a gente respire...relaxe...e aí entra a sabedoria que a maturidade espiritual nos ensina.
    bj grande...tudo está certo como 1+1=3...Namastê!
    Cynthia

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    1. Super Cynthia,

      depois desse sábio aval, vou me permitir mesmo!!

      Beijão,

      Lulupisces.

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