A porta da esperança*


Meu cunhado (vou logo esclarecendo que tenho por ele grande apreço) disse um dia que meus textos não faziam mais sucesso porque eram confessionais. Porque eram apenas relatos em primeira pessoa acerca de uma pessoa que não faz a menor diferença para a humanidade. Tá bom, ele não falou assim, cruzes. Mas eu gosto de dramatizar, como boa pisciana de ascendência leonina. Além de ser um número quatro do Eneagrama, a romântica trágica por excelência.

Porém eu entendi o que ele quis dizer e concordo com ele. Eu fico aqui falando de mim mesma o tempo todo. Uma baita egotrip. Mas se eu soubesse escrever romances, vocês acham que eu já não estaria escrevendo? Mesmo com o dedo quebrado. Sim! Pois sou compulsiva das palavras, uma insana. A louca da casa, não é Marisa? Estou de licença médica para não usar o dedo em recuperação, porém não posso deixar de alimentar meu blog e meus parcos, todavia leais e divertidos fãs.

Entretanto nessas férias, nas quais milagrosamente eu não rabisquei uma linha sequer - a falange quebrada na mão esquerda me impossibilitava, é verdade. Sem contar que não queria usar o computador como um mantra de libertação. Para provar a mim mesma que poderia viver sem internet por pelo menos duas semanas - eu comecei a ler um livro da Martha Medeiros emprestado pela minha sogra.

Nunca havia lido nenhuma compilação das crônicas da Martha, a minha plagiadora. Sempre textos soltos recebidos no email ou lido nos jornais. "Feliz por nada" é o nome da obra que, para ser sincera, me incomodou um bocadinho. Primeiro, porque a mulher realmente escreve coisas que eu escreveria, ou que eu já escrevi. Será que ela deu um pulo aqui no blog? Eu hein, parece uma ghost writer de mim. Depois, porque ela escreve o tempo todo sobre ela mesma. É tudo o que ela acha da vida. Tudo Martha. Depois de depois, ela é meio autoajuda demais assim lida toda de uma vez. E para terminar, ela teve coragem de escrever uma crônica chamada "O deus das pequenas coisas" como se o título fosse dela e não de um dos livros que eu mais admiro na vida.

Uma coisa é ler as crônicas dela esporadicamente. Outra é ler em mutirão. Confesso que achei meio bobos aqueles não-acontecimentos da Martha. Pouco poéticos, pouco inspirados. Parecia algo de carregação, sei lá. E aí me dei conta de que talvez o meu blog seja nada mais do que isso: uma porção de historinhas idiotas que não trazem insights para ninguém.

Tá, mas quando eu quis escrever esse texto de agora era para derrubar a tese do meu querido cunhado. Não é o fato de eu escrever na primeira pessoa coisas sobre mim mesma que não tornam meus textos um sucesso de público e crítica. Os MEUS pontos de vista sobre alhos e bugalhos. As MINHAS percepções. As MINHAS sacações ou as neuroses PESSOAIS de uma doidivana dândi poderiam estar no topo das paradas assim com as da Martha estão. 

Ou as da Tati Bernardi, outra que só escreve sobre ela mesma e ainda com mais egocentrismo que a própria Martha. A Martha até dá uma colher de chá, te mostrando como ser mais legal. Tati, não. Ela fala dela mesma (principalmente de sua vida amorosa e sexual) e não tá nem aí para ser boazinha (algo que, literariamente, me instiga um pouco mais). E então me lembro de Lya Luft, que está bem acima dessas duas escritoras de revista, pois já conseguiu transcender ela própria em poemas e ensaios, mas, ainda assim, fala de si todas as semanas na Veja com enorme plateia.

Então o sucesso não tem NADA a ver com isso. E eu levei muitas semanas encafifada com o ponto de vista do meu cunhado, sabe? Nunca me esqueço de dois textos que, por acaso, li nessa mesma Veja que tanto abomino em seu medianismo. O primeiro era de Sidney Sheldon (pode????). A entrevista nas páginas amarelas tinha o título que marcou minha concepção sobre as razões que levam alguns a se dar bem e outros não, mesmo sendo igualmente interessantes: "SUCESSO É SORTE".

O outro texto era daquele articulista muito maneiro chamado Stephen Kanitz e se chamava "O professor de Bill Gates". Vou deixar o link desse texto antigo (ainda bem que a gente encontra tudo na rede hoje, basta ter boa memória para nomes) ao pé dessa postagem para vocês tirarem SUAS próprias conclusões sobre o assunto. Porém, nunca vou me esquecer desse artigo porque ele mostra que as pessoas certas, na hora certa, podem fazer toda a diferença na vida da gente, mesmo a gente sendo chata, meio irascível e um tantinho madre superiora. 

Conheço muita gente de personalidade mais atravessada do que a minha e talento menor do que o meu cuja a porta da felicidade na carreira se abriu exatamente por ter recebido o tal empurrão do trevo de quatro folhas. Infelizmente ainda não chegou a minha vez. Não houve um professor realmente mestre ou um chefe que realmente acreditasse  e não invejasse meus possíveis talentos, me transformando em pupila promissora. O fator sorte ainda não atravessou o meu caminho. Mas eu não sou ansiosa ao ponto de desistir. Espero e enquanto isso: escrevo.


* Nome de um dos quadros mais melodramáticos do Programa Silvio Santos que, admito, gostava de ver. Adoro finais felizes!




Comentários

  1. Quem diria? Há quanto tempo? Acabei de ler o seu blog! Como é bom saber que continuas escrevendo e com o mesmo estilo de sempre. Sempre desprezei este troço de facebook, a gente nem escreve direito, parece que mais fala que escreve, mas graças a "ele", reencontrei várias pessoas. Estou agora com minha mãe e filha em Madrid (agora me lembrei que você frequentava o instituto cervantes, como todo ariano com ascendente em aries rsrssrs, tenho boa memória). Depois ficarei um mês por aqui dando um curso sobre economia brasileira, que virou moda agora, quem diria? Bom te reencontrar. Quem sabe conseguimos retomar um contato mais frequente? Outro dia reli várias cartas do passado - muitas eram suas. Mas isto foi no tempo que se escreviam cartas. Bom saber que viraste mãe e tem dois filhotes. bjs,

    cancioneiro

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  2. Ô mocinha, não tenho nenhum dado estatístico sobre a média da idade dos seus leitores, mas acha mesmo que precisava dessa exegese sobre a Porta da Esperança?

    Aposto meu dedo mindinho (que me faria tanta falta quanto o seu quebrado) que todo mundo aqui sabe, viu e também gostava do programa.

    Valdeir Jr.

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  3. Oi Luciana,

    Adorei ler o seu texto, de repente eh por ai o caminho do seu sucesso. Como voce aponta a sorte como explicacao para defender a sua tese, gostaria aqui de deixar um pedacinho de um texto que fala a respeito da sorte.
    Sorte tem o sentido de destino e esta nas maos de Deus, salvo a reverencia a Deus. Esta eh toda a abertura ou todo espaco ao qual esta limitado o livre arbitrio e o acaso. Dificil de entender, esta afirmacao esclarece que nossa liberdade esta em poder ou (querer)ver o que nos acontece por um determinado prisma. A chamada sorte eh uma miragem provocada como efeito secundario da vida no meio ambiente da materia. Estar no lugar certo e na hora certa, ou no lugar errado na hora errada, eh uma possibilidade na dimensao da materia.

    Deu para entender? O livro vai mais longe na explicacao.
    "A cabala do dinheiro" Nilton Bonder
    e boa sorte,

    Evelyn

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  4. Caro primo,

    a explicação sobre a porta da esperança se deu pelo trauma de ver a Martha Medeiros usar o título de um livro como se fosse o título original da crônica dela. Achei um absurdo!!!! Eu fiz isso na terceira série do primário, roubando o título da música do Belchior para enfeitar minha redação e ganhei elogios. Mas eu era criança, né? Então, achei melhor explicar que o título não era meu para que ninguém dissesse que eu estava fazendo mesmo que a Martha depois de ficar "chocada".

    Querida Eve,

    sim, a sorte pode ser essa dimensão da matéria... E é por isso que eu falo em porta (portal) da esperança. A gente precisa deixar aberto para que a sorte realmente venha para nós, não é verdade? Um beijão!!!

    Lulupisces.

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  5. Lulupisces,

    Dica sobre um CD - Cello Blue-David Darling.

    Tudo de bom!

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  6. Oi Luciana,

    só vou dizer que apesar de estar muito atribulada ainda continuo lendo os seus textos. O meu pai escreveu um poema sobre o milésimo gol do Pelé, que foi publicado até na França. Nem por isso os outros poemas dele ficaram famosos. E se você perguntar, ninguém sabe quem ele é (perguntar na França, claro, porque no Brasil o povo não lê nem história em quadrinhos).

    Então... Eu acho que considerando que o povo brasileiro tem preguiça de ler, você já tem um bom público cativo.

    Além da sorte, creio que existe o fato de você não escrever frivolidades só para ganhar público né? Tem um cara na internet que tem toneladas de acessos diários. O blog dele chama-se PAU (pergunte ao urso). Precisa dizer mais alguma coisa? Tá certo que não vou cuspir no prato em que comi. Já dei umas boas gargalhadas com ele, mas é besteirol do início ao fim.

    Continue escrevendo... escrevendo... escrevendo...

    Quem sabe um dia se abrem as portas da esperança?

    Enquanto isso não acontece, eu vou fazendo o papel de advogado do diabo (risos)

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    Respostas
    1. Oi, Loo! Tô atualizando seus textos, graças a Deus (porque gosto de lê-los e porque isso significa que estou com tempo, uau!), e queria saber o que significam as palavras todas em maiúsculas, em termos de expressão. Não é sacanagem não, é curiosidade mesmo de maníaca por detalhes estilísticos, coisa de quem lida com a diferença entre palavra falada e escrita. É que eu leio a caixa alta como um grito ou um tom mais forte (de briga?), mas não fez sentido no último caso (pra mim, claro, porque logicamente vamos tirar NOSSAS próprias conclusões), então fiquei curiosa se vc está escrevendo mesmo o que estou lendo.
      E quanto ao tema, já dizem por aí que sucesso é uma mistura de oportunidade e sorte. O blog é a oportunidade (ou talvez a oportunidade seja O editor estar sem sono numa noite chuvosa de sexta-feira e passar pela Internet, resolver procurar tudo relacionado ao Pequeno Príncipe porque seu filho adora o mais novo desenho do Discovery Kids, dar de cara com seu mais novo texto saído fresquinho do forno... E, tcharan, que a estrela brilhe! ;)
      Beijim

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  7. Olá aMáda,

    acho que eu coloquei em maiúscula para enfatizar mesmo. Não como raiva ou grito, mas como delimitando um espaço. Acho que foi isso. Mas é verdade: soa um pouco deselegante e agressivo. Bem-vinda de volta ao blog! Que bom que gosta de lê-lo.

    Beijocaspipocas,

    Lulupisces.

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  8. Oi, Loo!

    Acabei lendo o livro da Martha porque gostei muito do Trem-Bala e do outro, cujo nome já esqueci, e fiquei curiosa, pensando se era tão ruim assim. Mas era o que eu esperava, o que eu acho de livros de crônicas, como eu te disse, irregular, umas melhores, umas piores, e, claro, sempre um pouco over, a mesma pessoa falando o que ela acha das coisas. Até o LFV me cansa um pouco e fico esperando que ele seja brilhante o tempo todo. Os anteriores dela são mais divertidos.
    Agora, você tem razão, ela é prescritiva, mas isso não é das mulheres, me pergunto? A Lya é prescritiva (no sentido de se achar certa e ter a fórmula das coisas), a minha amiga que lançou um livro ano passado é prescritiva, você também, a Taty (ou Tati?), eu seria se me animasse a escrever. A gente sempre acha que tem razão. O LFV já não se leva tão a sério. As mulheres se levam. É um problema feminino. E uma qualidade, depende da situação.
    Tirando a mochila preta, como vai indo a escola nova? Se bem que hoje é o segundo dia ainda, né?
    Bj.

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