As primeiras horas de vida

Estou prestes a entrar mesmo de férias. Esses últimos dez dias não contam porque, em casa, não se descansa da rotina do ano. Ainda mais sem lava-louça aliada às férias da empregada, essa, sim, já curtindo sua Barro Duro/PI. (Fico aqui com meus botões, ou melhor, com minhas teclas pensando: que mal fez um lugar para ser batizado assim?)

Mas estamos no tal ano do fim dos tempos. Um ano bissexto, par, com carinha bonitinha, redondinha. Nasceu quase sem dor, quase sem alarde, quando o vento levantava o meu vestido olhando o céu pipocando em fogos ali na Esplanada.

Ficamos de longe, só mesmerando o dia UM emergir da escuridão. Um ano de estreias: primeiro dedo da mão quebrado na antevéspera; primeira vez que meu primogênito fica acordado depois das doze badaladas para ganhar bolo de nozes da vovó Paula e cafuné; primeira vez que me arrependi de não ter passado mais réveillon(s) com minha mãe. Deu uma vontade doída de ligar para ela lá no além e desejar: feliz ano-novo, mamãe!! Aqui na Terra está tudo nos conformes, um pouco catimbada, carente de colo, mas vamos levando...

Essas datas sempre dão essas nostalgias, normal. Tem gente que odeia a passagem do ano. Não é o meu caso, mas fiquei um pouco solitária, à espera do celular que não tocou. Todo mundo agora deseja feliz ano-novo pelo face e acha que já está de bom tamanho. Até eu fiz isso e achei que estava tudo bem. Mas não está nada. Verdadeiro carinho é receber um abraço no viva voz ou no viva corpo. Insubstituível. Aprendi a lição e agradeço minha amada amiga Beths que se lembrou de mim tão longe, tão perto. 

Lições... Esse 2011 se foi deixando muitas. Até o último minuto. A parábola divina de amassar meu dedo na porta do carro me fez ver (de novo) o quanto é besta reclamar de barriga cheia. Melhor lavar mil pratos do que estar aqui, nesse momento, catando milho no teclado com a mão incapacitada. É tão milagroso ser perfeita!! É tão raro nascer nessa forma humana saudável e única!! Assim prega o Budismo, que nos mostra que sempre vale mais agradecer do que pedir.

Por isso estava lá ontem, no templo, exercitando minha humildade recalcitrante. Procurando enxergar 108 possibilidades de viver a vida mais serenamente; conformada com seus altos e baixos. Não apática, mas valente na coragem diária.

Meditei, cantei e fui até Buda abaixar minha cabeça grata pela raridade de existir para ser o que eu sou. Para merecer o que eu mereço: dores de parto, ossos quebrados, perdas e ganhos (incluindo os quilos insuportáveis e as rugas daninhas que se aninham com a soma das idades).

E como estamos falando de merecimento, aqui me despeço dos leitores para as tais merecidas férias. Pegamos a estrada na quarta-feira. No caminho, um encontro com Guimarães Rosa na sua Cordisburgo. Também um pouso em Pedra Azul cantada por Paulinho e Tavinho Moura. Abrolhos, Prados e mares nunca dantes navegados, me aguardem!! 2012 apenas começa a aspirar sua primeira lufada de vida...


Comentários

  1. O que eu realmente gosto de Reviellón é esta energia positiva que toma conta das pessoas, como se o fato de começar o novo ano fizesse com que se pudesse começar tudo de novo de um modo diferente!

    O que eu não gosto é de ver todo mundo de dieta na segunda-feira. Acho que até plantam mais alface no final do ano, para enfrentar o hiper consumo da primeira semana.

    Que bom que você vai estar de férias, na praia! Pelo amor de Deus hein?!? Comer salada na praia chega a ser sacrilégio! Trate de tomar muito sorvete!

    Lá no Atualpa, na reunião final do dia 31, os bons espíritos informaram que vamos precisar colocar a mão na massa e ter muita fé, pois a terra realmente já está num novo estágio de evolução e o expurgo já começou. Fiquei feliz quando eles disseram que nós não somos mais os trabalhadores da última hora, já somos os da primeira. E não estavam se referindo somente aos espíritas, mas a todos aqueles que já começaram a caminhar na senda do bem.

    Divirta-se muito e traga muitas estórias interessantes para contar aqui no blog e alegrar os nossos dias.

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  2. Você me deu uma boa lição, Lu! Ser felizes por sermos o que somos e aceitar a vida serenamente, mas sem parar de lutar...

    Bjsssssssssss,

    Juliana, sua Jubs.

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  3. UFA!... Comecei bem este ano novo de 2012 conseguindo abrir seu blog, tantas vezes ação frustrada em 2011.

    E lendo seu texto lindo de abertura, parabéns! Palavras e foto da escritora inspiradoras, profundas, tocantes.

    Com abreijos de 2012, felizes férias para você e sua turma familiar. Que possamos estra mais juntas neste ano que já começou.

    Guti.

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  4. Li esse texto e me lembrei de você!!

    Marina Silva - Ela tem a força

    As palavras sempre foram os melhores presentes que recebi.
    Nos períodos de festas e confraternizações, em que somos plasmados pelos desejos de melhores dias, nem sempre nos damos conta de que, com os presentes que afetuosamente damos e recebemos, ali - onde sem tocar e ver, na forma de um apurado sabor, provado pelo ouvido, e não pela boca, materializado em acústica, e não palpável, como nos apetece- está a palavra. Sempre apta a produzir luz e trevas, tristeza e alegria, atenção e indiferença.

    Que não nos engane o mundo das imagens digitais, das TVs de última geração -três dimensões- e dos tantos efeitos especiais. O que nos constitui são as palavras. Elas é que são semente, elas é que dão fruto.
    Sempre cultivei enorme fascínio pela palavra, dita ou escrita, sussurrada ou cantada, rústica ou erudita, de multidões ou de poucas vozes.

    Hoje, reafirmo que as palavras foram mesmo meus melhores presentes. Ainda que em afiadas lâminas e pontiagudas setas, elas jamais deixaram de ser, para mim, as melhores instrutoras de meu trilhar persistente.
    Nunca esquecerei a voz embargada de meu pai balbuciando as palavras que me autorizaram, aos 16 anos, a ir para a capital de meu Acre, cuidar da saúde e estudar. Presente dado e chancelado na forma de uma arriscada autorização que, hoje sei, foi para mim uma espécie de passaporte diplomático para a realização de meus sonhos.

    Como esquecer os sofisticados presentes que recebi, nas palavras não ditas, de meu tio mateiro, sábio homem, talhado na arte de escutar o silêncio?

    Como entender meu gosto pela oratória sem a veia poética de minha avó e mãe de parto, que recitava para mim as cantorias de martelo de seu agreste sertão cearense, em pequenas amostras do poder evocado pela palavra, na força criativa e criadora do verbo que comanda toda a ação?

    Encantava-me particularmente quando ela recitava o anúncio feito pelo repentista anfitrião, da peleja entre Inácio da Catingueira e o letrado Romano, grande estudioso das coisas do sertão. Quanta riqueza! Linguagem oral e literária fundindo-se para gerar uma cultura de resistência, beleza, poesia e valentia.

    O anúncio da peleja entre os dois cantadores era feito com a força e a magnitude típicas de um duelo cósmico, entre presença e vazio, caos e organização: "Hoje aqui tem que se ver, Relâmpagos de caracol, Os nevoeiros parar, Dar eclipse no sol, As águas do mar secar E eu pescar baleia de anzol."

    Tudo isso porque dois repentistas iam disputar com palavras as grandezas do sertão.

    Palavras escritas, silenciadas ou ditas são a nossas mais firmes superfícies de sustentação. Feliz 2012.

    Beijos,

    Marina Marinho.

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  5. Feliz ano novo, Lu! E que neste 2012 possa ler muitos e muitos textos seus!
    Beijo grande, muito axé e inspiração sempre!

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  6. Luzinha,

    Boa viagem e boas "viagens" nessa cabecinha sedenta e curiosa de mundo que vc tem. Traga suas impressões e expressões na mala, hein? Não esqueça nada lá...rs.

    Beijos
    Patty

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  7. Boa viagem, curta bastate com a família e tenha bastante ideias para seus textos.

    Abraço,

    Marina

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  8. Quando se olha para uma pessoa, já se consegue ver o Buda. Você não precisa que o Buda se manifeste por meio da sua percepção para reconhecer que ele existe. Porque você já pode ver o limão na flor do limoeiro.

    Thich Nhat Hanh

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  9. Querida Lu, boas férias, aproveita muito aquele sol, mar ,vento, areia...respire muito...inspire-se mais ainda,para na volta, compartilhar com a gente suas experiências em seus deliciosos textos.
    Boa viagem...vão em paz...Namastê!
    Cynthia

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  10. Lu, amei seu texto inspirador, aliás, como qualquer pisciano que se preze, vc é uma inspiração. Continue escrevendo sempre, mesmo com o dedo imobilizado, rs, pq vc nasceu para isso. Ótimas férias e espero que a gente se reencontre em breve para dividir histórias e dar boas risadas. Beijo, Mona

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  11. Lu, caríssima irmã,

    Gostei, como sempre de seu texto. Com a ressalva de que em suas reflexóes sobre atitudes e seus significados nesta passagem de ano, esqueceu de entender e acolher em seu coração a sua família, o que representou a minha ida a sua casa na véspera do ano novo. Quis pessoalmente lhe abraçar e aos meus sobrinhos, visto que impedida estava de partilhar fisicamente mais esta virada. Tinha significados fortes e não vistos...

    Creio que apenas, entre tantos sentimentos e valores, às vezes, nos perdemos dos mais próximos e também deixamos simplesmente de vê-los. O que de fato, não chega a ser imperdoável, jamais. Sei de seu amor, cuidado e respeito por mim, os meus e os nossos.

    Paz de espírito, sempre, boas e merecidas férias, irmã (de sangue e de alma). Para você, os seus e nossos parentes de Inhumas.

    Grande abraço,

    Nena.

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