Havia um pilar no meio do caminho...

"E como vai a reforma?", perguntam os leitores e amigos que já me rotularam de louca por tamanha empreitada. Pois é, nessas últimas semanas, estávamos na fase ajustes "finais" do projeto arquitetônico + peregrinação nas lojas de revestimentos para orçar possibilidades de piso, acabamentos, detalhes decorativos, metais, louças... Vocês não acreditam na infinidade de possibilidades estéticas que podem conter um vaso sanitário!!!! Incluindo aí uma paleta de preços que vai de trono do rei à casinha de madeira lá no fundo do quintal.

Bernardo fez uma planilha minuciosa, listando todos os produtos que teremos de comprar para deixar o apartamento no século XXI. São mais de 150 itens!!!! E, orçando um preço médio entre o produto mais em conta e outro top de linha, já estávamos alcançando uns 35 mil só de quinquilharias. Impressionante! Vou postar esse trabalho detalhado do meu marido, que encantou até mesmo a arquiteta. Ela pediu uma cópia para ela. Ninguém deveria começar uma obra sem listar coisinha por coisinha. Mas eu sei que não é todo mundo que tem a sorte de ter um físico dentro de casa, atento ao lado mais pragmático da vida...

E algo que os arquitetos parecem não ter é pragmatismo. Tenho a impressão de que, hoje, os arquitetos estão migrando para o design de interiores, preocupados, mais com o luxo da decoração, do que com os pormenores indispensáveis para que o projeto seja viável, seguro e econômico. Agora entendo, de verdade, porque tanta gente tem dor de cabeça com obra, mesmo contratando um arquiteto. Porque tem tanta casa por aí com cara de revista e ausência total da personalidade dos donos. Se a gente embarca na do arquiteto, pura e simplesmente, sem checagem, sem questionamento, a gente tem um grande risco de dançar.

Foi o que quase aconteceu, pois havia um pilar no meio do caminho... Aliás, há algumas colunas no meio do caminho do novo layout do nosso apartamento. Não viga, que fique bem explicado, porque viga é aquela massa de concreto na horizontal (pausa para o dicionário do arquitetês). Vocês devem estar se perguntando: "mas vocês não sabiam disso antes de começar o projeto?" Tínhamos uma noção.

Elas poderiam estar em alguns pontos (no feeling da arquiteta), mas não fomos orientados a buscar a planta estrutural da nossa casa. Só nessa planta é possível saber, exatamente, onde estão os pilares ou colunas, que não podem ser retirados, obviamente. Ninguém que transformar uma simples reforma na reprise do Palace II.

Precisou o engenheiro civil que vai acompanhar a obra exigir: "só dá para começar o quebra-quebra com a planta estrutural. Vocês já pegaram a de vocês lá na Administração de Brasília?" A arquiteta pediu desculpas pela falha quase imperdoável. A gente deveria ter essa planta na mão para a elaboração do projeto e não o contrário. Um pilar inesperado no meio do caminho pode atrasar o cronograma de trabalho e inviabilizar toda a proposta de layout. Lá fomos nós, então, atrás do papel salvador. Com frio na espinha, diga-se de passagem.

Além do medo de descobrir que uma coluna poderia arruinar a nossa ideia de aumentar o quarto de casal, por exemplo, havia também a eterna desconfiança que temos em relação aos serviços públicos, ainda mais nas eferas locais. Ao rumarmos para o prédio da Administração de Brasília, a única imagem que me vinha à mente era daquela cena antológica do TV Pirata, na qual o cidadão chega na repartição pública e solicita um documento. Quando o servidor retorna, há apenas um esqueleto à espera da informação. "Minha reforma, tadinha, começando no ano 2050..."

Porém, fomos surpreendidos positivamente. Há na Administração um setor de microfilmagem onde todas as plantas de todos os prédios do Plano Piloto já estão em película ou em processo de. Cidade planejada tem suas vantagens. Numa sala pequena, mas muito organizada, vários arquivos guardam a ficha de cada apartamento, de cada quadra.

Cheguei, falei o endereço e a servidora, não simpática, mas diligente, encontrou o rolo de filme e levou para a máquina de rodar. Pela tela grande, acompanhamos a passagem das plantas da quadra, do bloco, do apartamento... Muito legal ver a história de Brasília por esse viés, o viés que lhe deu fama: o arrojo da arquitetura e urbanismo. Não há no mundo quadras como as daqui. Nem edifícios assim: horizontais, largos e baixos.

Descobri que o edifício foi mesmo projetado em 1970, no ano em que fui concebida. E que ficou pronto quando nasci, ou um pouco pra lá ou pra cá... Será que fomos gestados, os dois, em 9 meses? A máquina precisa de revisão, o filme emperra, a servidora protesta: "Estou sem paciência com esse GDF. Tem dinheiro para roubar, mas não para consertar nada". Entretanto não desiste e começa a ficar até mais afável. Roda boa parte do filme com as mãos, mas avança e nos deixa conhecer todas os desenhos da projeção 1 da quadra 303 sul.

Uma hora depois, já estávamos com a planta estrutural devidamente copiada. Choque: um pilar no meio do futuro espaço do escritório!!! Bem no meio, como um elefante na loja de cristais. Reunião emergencial com a arquiteta. Tensão, desculpas pedidas, desculpas aceitas. Agora também entendo porque muitos clientes saem da reforma com ódio do profissional de arquitetura. Mas não vai ser o nosso caso. Um novo arranjo vai incorporar as colunas. Nada como fazer do limão uma limonada... E eu adoro limonada, principalmente a que a minha tia Leia faz. A melhor do mundo.

Comentários

  1. Puxa, que barra! Digo, que pilar!!! É ferro mesmo, Luzinha, mas não desanime, com pedras no caminho ou não, sua casa vai ficar linda!

    Beijos,

    Patty

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