Difusos


Seres luminescentes das profundezas marítimas, monstruosos e misteriosos, habitariam os escuros das águas gregas?
Céu desce para a terra na bioluminescência dos cupins de Goiás.
As ilhas gregas são pacíficas. O que me fascinou foi a paz nelas contidas, aprisionada pelas longas distâncias do Mar Egeu.
Gostosura. Paz de cemitério, mas sem ser cemitério.
Se bem que ao conhecer o cemitério de Teresina - a família do meu marido deve achar que eu sou doida varridinha, pois acordar naquele calor teresinense e me embrenhar logo no cemitério - nunca o tinha visitado).
Esperei encontrar aquela paz boa das necrópoles, mas esbarrei com duas maritacas em sua forma humana.
Uma dupla de funcionárias da limpeza do Cemitério São Judas Tadeu (minha madrinha iria aprovar o nome, mas, nem sequer assim acho que gostaria de ser enterrada, pois deixou a cremação acertada anos antes de sua morte).
Entre o carpir de um mato e outro, ambas, numa distância considerável uma da outra, gritava daqui, respondia aos berros de lá.
Não há flores-vivas por ali. As flores de plástico não esturricam na inclemência do sol piauiense. Desbotam, mas permanecem, fiéis, em cada lápide. Gosto mais da palavra lápide do que de jazigo. Só se fosse JAZZigo (jazz comigo?)
As araras seguem no bate-papo. Ah, faça-me o favor! Pensa se alguém em luto recente, naquele lero-lero choroso com os seres amados além-túmulo, na meditação, acaba interrompido por periquitas alvoroçadas?
Tive vontade de ter uma espingardinha de chumbo.





Estas estruturas distópicas sempre me remetem ao Kansas de "O Mágico de Oz". Fico aguardando o tornado que me levará para uma terra sem deserto verde, sem infinitas monoculturas de soja, onde os minifúndios diversos, coloridos e fecundos garantiriam dignidade e alimentos para todos. Fome zero, no país de obscena abundância para poucos.

  

Não tenho a menor chance: não sou preta, não sou gay, não sou não binária, não sou gorda, não sou periférica, não sou mãe-solo, não tenho filhos com desabilities.... Atualmente, se você não está nas hashtags, você não tem visibilidade ou lugar de fala, saca? Quem me dera encontrar a tal ancestralidade indígena. Seria uma forma de me apropriar #escritoraindígena. Hahahaha
Imagina se Drummond, Adélia, Pessoa, Cecília e toda essa galera branca, hetero (ou enrustida), macho alfa "homem branco sempre no comando" estivesse na batalha por um lugar ao sol na poesia de hoje? Ralariam um bocado, né?
A letra dos Engenheiros teria de mudar para "longedemaisdashashtags".

"Longe demais das capitais
Longe demais das capitais
Eu sempre quis viver no Velho Mundo
Na velha forma de viver
O 3º sexo, a 3ª guerra, o 3º mundo
São tão difíceis de entender"...



Atravessei a pé o (Central Park) da Cidade, da Asa Sul para o Sudoeste e vice-versa. Me senti cruzando do East para o West Side, tão resplandecente e civilizada estava a manhã de inverno primaveril. A temperatura de 23 graus, as gramas tomadas por piqueniques, as ruas pelas bikes, o povo feliz assim 4th of July, nosso 7 de setembro. O Brasil poderia ser mesmo esse gigante pela própria natureza, principalmente pela do tipo humana. 💚💙



Pendentes pitangas
par de brincos comestíveis
lanternas chinesas 
miniaturas.

Onde bate o Sol não há dubiedade.


Domingo no parque: o ipê tardio imitava o sol.



Manhãs de folhas caídas

florezinhas,

tapete solar.

Formiguinhas em festa

dia de gala no salão:

Primavera.


Aprecio a diligência das leafcutter ants

mas me anteno com a estridência das cigarras.





Comentários

  1. LuA, meus parabéns!!!! Seus textos são incríveis, maravilhosos!!! Amoooo!!! Acho tão difícil descrever o óbvio, e vc faz isso com maestria!! 👏👏👏

    Luciene Miranda

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  2. Eu amava cemitérios... hoje não os frequento mais. São um lugar interessante, sem as periquitas... rsrs

    Bianca Duqueviz

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  3. Belas reflexões Lu🤗 sinto muita paz em cemitérios 🙏😘
    Cynthia

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  4. Você sempre acerta no alvo!
    Valdeir Jr.

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  5. Oi amiga, tua cabecinha e tua mão formam uma Polaroid perfeita e nos brindam um retrato da realidade e outras cositas cheias de encantos e o Photoshop que só os poetas conseguem usar.
    Muito lindos teus escritos, gostei das tuas impressões do mar Egeu e as suas ilhas.
    🤗
    Norma

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  6. Tenho me deliciado com tudo seu. Das flores de plástico às pitangas. Mas, tenho algumas histórias de cemitérios. Vou gravar um áudio. Agora, tô de um lado para outro...

    Prof. Luiz Martins

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  7. "Aprecio a diligência das leafcutter ants, mas me anteno com a estridência das cigarras.*
    Adorei o texto. uma delicia de leitura.

    Alessandra Pinheiro

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  8. Conheço o sabor dos brincos de pitanga

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  9. Não são só palavras , são palavras sentimentos , vivências, experimentações …muito bom 👏

    Adriano Shulc

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  10. Só li agora ! Adorei 🥰🥰🥰
    Essas maritacas têm parentes por aqui kkkkk na sala de espera do hospital sempre aparecem duas delas 🤣🤣🤣
    Amei as fotos 🤩

    Karla Liparizzi

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