Indômita



Era uma vez um rincão escondido entre Brasília e Goiânia, fincado a 18 km de terra a partir da rodovia BR 0-60. Ali se chega com a poeira que deixa rastro na estrada da montanha-russa. Muitas porteiras a abrir. Um canto do mundo. Um pedaço de chão comprado por meu pai no interior de Goiás.

Lá se vão mais de 50 anos que a Salta Pau faz parte da história da família grande. Sete irmãos criados a leite de vaca destas paragens. De onde se avista morros da idade da Terra e o vento frio abraça as madrugadas.

Fazenda de cerrado forte. Noventa alqueires banhados pela formosura do rio Corumbá. Sítio de vizinhança alegre, antiga. Todos lá há tanto tempo que parecem ser desde o primeiro dia do homem nas entranhas da terra.

Paraíso rústico no qual amigos se banham nas cachoeiras e as maritacas e seriemas atravessam os pastos por cima e por baixo, a galope.

Ali se come em fogão à lenha original e o pôr-do-sol cai como uma lata de tinta alaranjada, atirada sobre a paisagem verde.

O lugar foi rebatizado como “Santa Maria”. Entretanto, Salta Pau é a tradução selvagem dessa gleba. Refúgio - ainda - de tamanduás-bandeira, lobos-guará e suçuaranas que arrastam potrinhos da porta do curral.

Salta Pau é largada, sem jeito, mas profundamente bela aos olhos dos que a amam. Salta Pau: o barro que também me erigiu.

Salta Pau é indomável.

Comentários

  1. Pedaço de história e de vidas marcadas, tempos que deixam saudade e lembranças que enchem os olhos e o coração.

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  2. Lu, é tão forte esta origem numa terra, né? Enchi meu olhos de água pensando na fazenda dos meus avós e de tudo o que veio com a partilha.... Hoje a galera vive de arrendamento para a implacável soja!!
    Dentro de mim ainda há uma Scarlet protegendo Tara!!

    Bianca Duqueviz

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  3. Como eu amo aquela fazenda!!!!
    Muita saudade de lá.

    Renata Assunção

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  4. Lindo , Luciana!
    O amor e respeito às origens e à terra dá uma sensação de pertencimento.

    Karla Liparizzi

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  5. Queria muito ter participado dessa parte da vida de vocês.

    Valdeir Jr.

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  6. Ohhhhhh saudade me deu da infância em Minas Gerais!!! Obrigada por me transportar para lá! Vc tem esse dom! Parabéns Lu! Da sua fã n. 1,

    Anna Gabis

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  7. Adorei! Vou mostrar para o Luciano, que com certeza vai se identificar com muitas passagens de sua narrativa. Ele que foi nascido e criado na dureza da roça, conhece bem o que é o fogão de lenha, o entardecer alaranjado, os bichos rondando a casa, a poeira que levanta fina, o radinho de pilha com a família reunida ouvindo o ângelus e Jerônimo, o Herói do Sertão. E o sono vem logo, pois a labuta começa é bem cedo.

    Um beijo,

    Tânia Benn

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  8. Especial demais esse texto, Lú.
    Mais que honrar pai e mãe, temos que reverenciá-los.
    Eles são o meio e a razão de estarmos aqui, e tbm a razão de ser desse reduto familiar, cheio de memórias, limo e alma, em que se tornou a casa sede da Fazenda Salta Pau...
    Feliz demais e em paz com nossa história por não termos cortado essa raiz profunda com esse lugar...
    E mais que isso: tê-lo reerguido, restaurado para que possa passar por nossas gerações...
    Lindo e válido demais tudo isso!!!
    E que foto maravilhosa essa...

    Marilena Holanda

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  9. Belíssima descrição, Lú! ������������

    Virgínia Pozzatto

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  10. Que beleza de lembranças Lu…eu aqui me emocionei, sim , a infância é uma fase da vida , onde fica guardado esse olhar , amoroso e encantado das coisas essenciais , simples, as que verdadeiramente devem ser lembradas…hoje eu aqui na minha maturidade, vivo um pouco desse encanto que não tive a oportunidade de viver quando criança, mas se estou aqui hoje, sinto que foi um clamor da minha Alma muito grata amiga , por fazer, suscitar em nós tão profundas reflexões.

    Beijos!

    Cynthia Chayb

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  11. Marilena/Lu,, quantas saudades guardo no meu coração e com grandes alegrias sempre em nosso coração saudades queridos tios. Bjos

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  12. Que lindo Lú, me bateu um certo saudosismo, lembrei de minhas férias em Barretos. Lembrei que Mariana já teve uma vida de férias por lá mais urbana. Pedro é completamente urbano, não tem ligação alguma com meio rural é resistente não gosta, foge como o diabo foge da cruz. Meus primos levam ele pro sítio ele pede pra voltar logo, já falaram pra ele que vão levá-lo pra fazenda no Tocantins, ele ri e fala que não, não, só homens.

    Renata Assumpçāo

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  13. Até arrepiei com o final....muito bom...

    Sebastião Reis

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  14. Ah! Que lindo! Parabéns, Lu!

    Karol Simões

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  15. Que lindo Lu! Acredito que tenha muitas histórias maravilhosas pra contar sobre Salta Pau.

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  16. Show
    Saudades “do Goiás “

    Araken

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  17. Ancestralidade parece ser um palavrinha mágica que nos transporta no tempo que já passou mas renova as lembranças que marcaram e ficaram como registros de nossa ancestralidade. E uma destas lembranças é o lugar onde moramos com todas as marcas de nossa infância sejam pessoas ou lugares: ao ler seu artigo senti este voltar no tempo!! Para alguns relembrar o que passou é tempo perdido! Para os mais sensíveis são marcas profundas de nossa individualidade que afloram! Li e reli seu texto! Salta Pau jamais sairá das suas lembranças.

    Socorro Melo

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  18. Uauuu! Que texto lindo!!! :) Que poesia da terra! Cheirinho de saudades

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  19. Owww minha amiga, também tenho tão boas lembranças de um pedaço de terra assim, fincado no cariri paraibano, cujas lembranças tão boas vieram à mente pelas suas memórias aqui retratadas! Sempre um deleite ler seus textos!

    Mônica Torreão

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  20. Bacana !
    Abençoado seja esse amor telúrico que nos liga ao mundo rural.

    Romulo Andrade

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  21. Imagino na imensidão dos alqueires, paz na passagem do calmo *tamanduá*, a lépida *Seriema* confundir o *Quero-quero,* as *maritacas* provocando *Frida*, a imensidão do sertão e a Vida viva na natureza que nada faz mau nesse rincão chamando *SALTA PAU!*

    Marcelo Parise

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  22. Que lindo, LuA!

    Luciene Miranda

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  23. Que delícia! Fiquei com vontade de conhecer <3

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  24. Gostei! Visceral!

    Rodrigo Holanda

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