Caudalosa






Desci na estação Uruguaiana, centrão do Rio. Ao subir pelas escadas o céu estava entre o azul e o cinza. O formigueiro humano me atingiu como um ataque coordenado. Estaria evidente que era brasiliense burguesa no meio do Saara? Deixei para lá, me fundi. Comecei a olhar todos aqueles sobrados decadentes e arruinados lindos e desejei uma revitalização imediata daquele coração da cidade alquebrado pelo descaso. 

São Sebastião do Rio de Janeiro seria ainda mais inesquecível se lhe respeitassem como uma anciã detentora dos saberes ancestrais da etnia Brasil. 

Olhei para o lado e no fim do beco havia uma fachada barroca monumental. Não resisto ao apelo das igrejas. Elas estão nos meus poros, no meu subconsciente infantil desprotegido. 

Que nave! São Francisco de Paula. Rococó exuberante de 1865, inaugurado pelos imperadores Dom Pedro e Teresa Cristina. 

Caminhei mais um pouco pelas ruas de pedra e lá estava o Real Gabinete Português de Leitura, desejo antigo enfim deleitado. Emocionei, mas ando muito emotiva nesses dias cariocas. Sentimentos literários me inundam. 




Almoço com a minha editora e começo a achar muito chique isso de ter uma editora me paparicando com tanta alegria e poesia. Ela me tranquiliza sobre a roda de autores de amanhã: me sinto pequena, porém, ela me engrandece: “não lhe convidaria se não acreditasse na honestidade da sua escrita”. 

Respiro fundo enquanto tomamos café na histórica Confeitaria Cavé, sentadas à mesa preferida de Tarsila do Amaral. Se eu tivesse uma filha seria Tarsila, digo e corre a tarde com papos miles, de inestimável riqueza lírica e confessional. 

O Rio me confunde: acho que não gosto dele, mas, de repente, ele me toma numa devoção de cair de joelhos. Sou uma voyeur. Gosto mais de ver o mar do que nele entrar; de ver uma pessoa cozinhando do que pegar nas panelas; de escrever sobre o que sinto do que de demonstrar minhas paixões. Espero que meus grandes amores me perdoem pela covardia de me esconder atrás do que revelo nos textos. 

Gratidão, Karla Melo e Marcia Renault, por me regalarem pouso e carinho fartos! 

Bernardo, Tomás e Rômulo: amo vocês! 

Eva Maria, estou com saudades dos seus pezinhos! 

Meus amigos amados que sempre estão comigo e me dão total apoio literário, meu para sempre agradecimento e afeto. 

Rio, OK, você venceu, também te amo. 

Comentários

  1. Texto lindo, leve, suave. Morri de vontade de ter uma editora pra chamar de minha e me tratar com poesia e lirismo... Também me escondo tanto atrás da minha escrita! Mas, convenhamos: cada um de nós tem seu esconderijo, não é???

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  2. Ahhh, Lu! Sentimentos literários te inundam e transbordam em poesia para nós!!! Vc se supera, sempre! Feliz de ler vc, de ter seu livro, de ter vc escrevendo e pertinho de nós! Privilégio!!! ;)

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  3. Querida Luciana, lido com as palavras desde que me entendo de gente, mas você as roubou agora, com qualquer coisa que eu pudesse disser aqui. Quanta lindeza, nervo exposto de sensibilidade. No entanto, esta me representa.
    Obrigada,
    Karla Melo

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  4. Encantada com sua escrita e suas imagens. Esse é o meu Rio.

    Renata Cabral

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  5. Esse é o meu Rio que você capta tão bem. Sucesso!

    Ângela Sollberger

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  6. Amada Lu, nossa troca é sútil, permeada de limites e possibilidade de não limites! Se a gente não der freio a gente engata uma segunda e vamu que vamu! KKK!
    Esses dias foram leves. Acho que até a gente precisava disso. Hoje tudo acabou até em pizza!

    Márcia Renault

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  7. Que intenso, Lu! ��
    Re Osório

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  8. Adoro o Saara!

    Rodrigo Holanda

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