Entradas e Bandeiras








Guerreiros são pessoas
Tão fortes, tão frágeis
Guerreiros são meninos
No fundo do peito...
(Gonzaguinha)



Revolve-me as válvulas cardíacas a cena. O canal lacrimal é acionado sem autorização.

O guri sem camisa passa por mim na bicicleta. O canteiro de grama verde-novo.

Seu bornal a tiracolo, a felicidade na garupa. Independente e confiante, ele segue em frente.

A fragilidade da infância é poética.

Meninos: desde sempre desbravadores. 

Esquivos; caçadores de aventuras, seja em voos-solo ou na garantia da matilha. 

Raro é flagrar meninas nos ermos, solitárias e seguras de si. 

Cultural? Biológico? Patriarcado? 

Não vem ao caso deste relato, sem pretensão de se bater por questões de gênero. 

Válido apenas relembra o menino livre, solto no mundo sobre a bicicleta. 

Onde será que pretendia chegar? 

Acompanho com atenção esses garotos. Tenho dois. Um gosta de ir; o outro, de ficar. 

O que gosta de ir também deambula, explora, desvenda e reconhece os desvãos das trajetórias. 

Mapeia os arredores com olhar aguçado, faro atento. 

Todo moleque é andarilho, ainda que somente no interior de si mesmo. 

Como o que gosta de ficar.

Poucas vezes ele revela por quais trilhas sujou os pés do pensamento. 



Comentários

  1. Que texto sublime e lindo, fiquei apaixonada!

    Renata Assumpção

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  2. Muito lindo... percepção bem sutil🌷🙏

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  3. Uauuuuuu! Vc se superou!!!!! Se é que é possível, esse texto é mais que poético!!!! Verdadeiramente lindoooo!

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  4. Os porões de seu trabalho estão expondo uma sensibilidade sua ainda não vista ou experimentada.
    O texto é ao mesmo tempo belo, leve e denso em suas percepções e sensações. ..
    Uma doce poesia, puro encantamento...

    Marilena

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  5. Legal.

    Me lembrou a primeira parte da minha infância.
    Eu era muito andarilho!!Sem noção!!
    Depois, continuei andando. Mas deixando de ser um andarilho.

    Um beijo.

    Paulo.

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  6. Fenomenal, como sempre.

    Abreijos,

    Davide

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