"É preciso educar para a esperança."*





Contra verdadeiras vocações, não há impedimentos. Filha de um casal de brasileiros de origem alemã, Zilda Arns Neumann foi a 13ª dentre 16 irmãos. Nasceu em Forquilhinha, Santa Catarina, no dia 25 de agosto de 1934. Em 1953, ingressou no curso de Medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR), atitude pioneira para uma jovem daqueles tempos: "Um professor me reprovou no primeiro ano, bem eu, sempre das primeiras da sala. Ele dizia que era absurdo uma mulher cursar Medicina. Mas virei pediatra, justo a matéria dele", contava dra. Zilda em algumas entrevistas que concedeu ao longo de sua consagrada carreira em prol das crianças e idosos carentes do Brasil.

Assim como o irmão, Dom Paulo Evaristo Arns (93), arcebispo emérito da cidade de São Paulo, Zilda dedicou sua vida a levar esperança e dignidade às comunidades mais pobres do nosso país.

Viúva, mãe de seis filhos (um deles morto ao nascer), Zilda se especializou em Educação Física e Pediatria Social, trilhando o caminho da saúde pública. Começou a trabalhar no Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba (PR). Depois, foi nomeada diretora de Saúde Materno-Infantil da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná.

A experiência adquirida no ambiente infantil lhe abriu portas para ser chamada a coordenar uma campanha de vacinação contra a poliomielite. Ocasião em que Zilda desenvolveu um método de organização que serviria de referência para o Ministério da Saúde.

Em 1983, a pedido da Confederação dos Bispos do Brasil (CNBB), funda aquela que seria a sua grande obra, a Pastoral da Criança, projeto pelo qual recebeu indicação brasileira ao Prêmio Nobel da Paz por três vezes. Começa, então, a disseminar o sistema comunitário de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, que consiste em três instrumentos utilizados a cada mês: Visita domiciliar aos lares; Dia do Peso, também conhecido como Dia de Celebração da Vida, e Reunião Mensal para Avaliação e Reflexão.

Após 30 anos, a Pastoral acompanha mais de dois milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes durante o pré-Natal. O trabalho de Zilda serviu de exemplo para países como Angola, Moçambique, Timor Leste, Paraguai, Bolívia, Argentina, Chile, México, entre outros. Em muitos deles, Zilda esteve pessoalmente ministrando cursos e palestras sobre a metodologia que salva vidas.

Sempre na linha de frente

Mas a incansável humanitária foi além. Em 2004, recebeu da CNBB outra missão quase impossível: fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa, com o objetivo de ensinar líderes locais a auxiliar idosos a controlar vacinas, evitar acidentes domésticos e identificar doenças físicas e emocionais. Hoje já são mais de 163 mil pessoas acompanhadas todos os meses por cerca de 19 mil voluntários Brasil afora.

Serena, porém firme, dra. Zilda conquistou respeito e credibilidade internacionais por causa de suas posições claras em favor das políticas sociais inclusivas, especialmente as da saúde. Não à toa foi uma das sanitaristas mais comprometidas com o movimento da reforma sanitária brasileira, que culminou com a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS).

No dia 12 de janeiro de 2010, quando discursava sobre a Pastoral da Criança na Conferência Nacional dos Religiosos do Caribe, acabou vitimada pelo terremoto que devastou Porto Príncipe, capital do Haiti. Zilda tinha 75 anos.

Até a sua morte, a médica coordenava 155 mil voluntários em mais de 32 mil comunidades brasileiras. Pela grandeza do trabalho junto à Pastoral da Criança, recebeu o título de Cidadã Honorária em 11 estados e 37 municípios; 19 prêmios (nacionais e internacionais) e dezenas de homenagens de governos, empresas, universidades e instituições.

Foi agraciada, ainda, com as seguintes condecorações: Woodrow Wilson, da Woodrow Wilson Foundation (EUA), em 2007; o Opus Prize, da Opus Prize Foundation (EUA), pelo inovador programa de saúde pública que ajuda a milhares de famílias carentes, em 2006; Heroína da Saúde Pública das Américas (OPAS/2002); 1º Prêmio Direitos Humanos (USP/2000); Personalidade Brasileira de Destaque no Trabalho em Prol da Saúde da Criança (Unicef/1988); Prêmio Humanitário (Lions Club Internacional/1997); Prêmio Internacional em Administração Sanitária (OPAS/ 1994); títulos de Doutor Honoris Causa das Universidades: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Universidade Federal do Paraná, Universidade do Extremo-Sul Catarinense de Criciúma, Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade do Sul de Santa Catarina.

* Frase de Zilda Arns



Fontes
Texto "A Vida Por Uma Causa"
Página sobre Zilda Arns no site Brasil Escola
Biografia de Zilda Arns no site da Pastoral da Criança
Página da Wikipedia sobre Zilda Arns



Comentários

  1. Bravo!!! Boa lembrança Lu,um ser muito especial, que fez e ainda faz a diferença, um ser humano de altissima qualidade.Lembro- me muito do dia da sua passagem, estava na India, fiquei muito comovida.
    Beijo..Namastê!
    Cynthia

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  2. Em tempos de tanta indignação, raiva, agressividade e falta de tolerância, digo que um dos grandes legados de d. Zilda foi o amor ao próximo. Ser humano, aí está a chave da questão... E ela disse (se não me falha a memória!)que gostaria de morrer fazendo o que gostava de fazer. Morreu tragicamente, porém da forma como queria. Deus (?) lhe concedeu a morte em campo e em ação.
    Beijos,
    VitAC

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  3. Bom Dia! Olá cara Luciana, se você está falando de Zilda Arns ela foi sim uma grande mulher que dedicou sua vida às crianças através de seu trabalho médico,

    foi coordenadora nacional da Pastoral da Criança todo o tempo que esteve viva e desde a criação desta Pastoral,

    talvez você não tenha reparado, lido ou lembrado,

    escrevi muitas vezes sobre ela na minha coluna A Pena que Vale A Pena - até sua morte.

    e temos também outra mulher brasileira em destaque e de sua área, Lygia Fagundes Telles, já falei sobre ela na Rede Vida e escrevi na minha coluna, agora ela concorre ao Nobel de Literatura.

    Ao longo de 15 anos de coluna semanal, tenho feito questão de destacar, reconhecendo, admirando e agradecendo inúmeros nomes de mulheres brasileiras que muito contribuiram para nossa história, nosso país, nossa gente de seus respectivos lugares políticos, profissionais, sociais enfim.

    Não temos poucas não, apenas que a sociedade de forma geral, ainda machista e patriarcal, apesar dos avanços, faz questão de não reconhecê-las, homenageá-las, agradecê-las, ao contrário, o que podem fazer para desconsiderá-las o fazem.

    Até mesmo as próprias mulheres qua infelizmente são as multiplicadoras do machismo... mas pouco a pouco... a história caminha... estamos apenas de passagem.... um dia talvez esta situação mude... e as mulheres serão reconhecidas, admiradas, homenageadas, agradecidas para além das modelos e afins.

    Valeu! gostei de seu desabafo.

    Abreijos,

    Guti.

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  4. Que linda história! Terminei de ler o texto emocionada. Realmente existem pessoas que vêm para este planeta fazer a diferença. Para ela, não importaram ser mulher e as dificuldades da lida diária. Perseverou no que acreditava.
    Adorei a parte da sua mensagem, o “adoramos os marginais e marginalizados e deixamos os bons exemplos na sombra”. Verdade pura e cristalina. Na minha área de atuação então! Ufa, não sabe como é difícil lidar com a demagogia diária do mundo acadêmico nos cursos de humanas!!
    Realmente, uma mulher admirável. E quantas outras como ela não existem por aí, trabalhando diariamente por um país menos desigual?
    Bjs e obrigada pelas belas histórias!

    Ana Claudia

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  5. principalmente, prostitutas em geral..era fã da Dra Zilda Arns, assim como de D. Paulo Evaristo..ela morreu fazendo exatamente o que gostava, mas creio que , pro ser quem era, merecia ter partido em sua cama, com conforto....mas, creio, tambem, que exatamente por ser quem era, ela não iria gostar de morrer na cama...morreu na luta pelo próximo, em ação. Com certeza, la onde estiver, está feliz.

    Abçs, Luciana, obrigado por se lembrar sempre de mim em seus escritos!

    Severino.

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