A passadora de luz*




O sotaque é reconhecidamente francês, o nome também, mas não se engane: Marianne Peretti é a parisiense mais brasileira que existe. A artista plástica, de renome internacional, esteve no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em abril de 2011 para revisitar suas obras e avaliar a manutenção do legado artístico deixado em Brasília. A visita fez parte de um projeto intitulado Documento Marianne Peretti, em fase de produção pela B52 Desenvolvimento Cultural, que, em 2012, promoveu uma série de eventos, além de um documentário, para celebrar os 60 anos de atividades da escultora.

“Estamos divulgando aqui no STJ, em primeira mão, os eventos que vão homenagear essa artista incrível que é Marianne Peretti. Ela já está trabalhando nas obras da exposição. E estamos produzindo, além do documentário, um livro sobre a trajetória dela”, explicou Tatiana Braga, diretora-executiva da B52. 

Filha de pai brasileiro e mãe francesa, Peretti nasceu e viveu em Paris, onde estudou desenho e pintura na École Nationale Supérieure des Arts Decoratifs, entre outras. Já no Brasil, seu trabalho ganhou dimensão com vitrais e obras monumentais, além de projetos realizados na Europa. 

A amizade e a parceria de longa data entre Peretti e Oscar Niemeyer trouxeram o traço único da artista à nova capital da República. Aqui se encontra o mais significativo conjunto de obras da escultora, elaboradas em fina harmonia com os prédios monumentais criados pelo arquiteto. “O artista tem mais liberdade que o arquiteto, mesmo se ele for genial como Niemeyer. Ele queria as coisas prontas muito rápido, mas me deu total autonomia para criar o que eu quisesse”, recorda Peretti, uma pequena jovem de mais de 80 anos frágil, simples e dona de um sorriso generoso, arrebatador. 

As obras da vitralista em Brasília podem ser apreciadas nos saguões do Congresso Nacional, no Panteão da Liberdade, na Igreja São Pedro de Alcântara, no Palácio do Jaburu etc. Entretanto, são os vitrais da Catedral Metropolitana e o painel artístico da fachada do STJ os grandes destaques da artista na cidade. 

Na visita matinal ao STJ, atenta e crítica, Marianne não perdia um detalhe sequer. “Esses vidros mais claros deviam estar mais iluminados”, observou, ao rever a obra “A Mão de Deus”, instalada na Sala do Pleno do Tribunal. “A forma redonda externa, que também faz parte da obra, não devia estar pintada de cinza, mas com um colorido mais forte. A luz precisava vir de fora, pois o olho azul é feito com vidros alemães muito bonitos, radiantes”, salientou. 

“Esse é um momento histórico, pois nem sempre o artista tem a oportunidade de rever seu trabalho e fazer ajustes e sugestões. É uma consultoria privilegiada que o STJ está recebendo”, avaliou Tatiana Braga. O diretor-geral em exercício da Casa, Sílvio Ferreira, tomou nota de todos os apontamentos e garantiu à escultora que as correções de iluminação na obra serão realizadas. 

Marianne também elogiou a sede do STJ, impressionada com a manutenção impecável dos jardins. “Na última vez que eu estive aqui não era tão perfeito. Os jardins são lindos!”, sorriu. Questionada sobre os motivos que a levaram a criar “A Mão de Deus”, a artista confessa: “Não há, vem de cima, só pode ser isso. Pura inspiração, iluminação”. 

Mas Marianne não para. Além das esculturas que vai apresentar na exposição de 2012, a artista está finalizando uma sequência de DNA com mais de três metros de altura que vai ornar o Museu de Ciência da Paraíba, em João Pessoa. “Ela tem uma vitalidade maravilhosa, e se debruça pessoalmente sobre os desenhos colocados no chão. Ela vistoria tudo”, conta Tatiana Braga, que acompanha a artista em todas as visitas para a elaboração do documentário. 

Após conferir o painel artístico da fachada do Tribunal “que deu um trabalho enorme para os engenheiros calcularem”, lembra Peretti, a artista se despediu do STJ realizada com o que viu: “É impressionante ter conseguido esse resultado tão fluido, tão leve e dinâmico. Estou muito feliz em ver minha obra ser reconhecida como o símbolo deste órgão”. 

Eu também!


*Quando um vitralista é virtuose em seu trabalho, recebe o carinhoso apelido de "passador de luz" dos demais colegas. 

Comentários

  1. Gratidão Lu por compartilhar um momento bem especial, e poder tb conhecer um pouco desta artista e de suas obras...bjs.
    Namastê!
    Cynthia

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  2. Valeu cara Luciana, acabo de abrir seu blog e ler o artigo, que bonito ele, o tema, a artista!
    Grata por mais este!
    Abreijos,
    Guti.


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  3. Passador de luz é uma das expressões mais bonitas que já vi!

    Nazareth

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Encantadora a obra da artista. Brasília e seus casamentos artísticos. Até eu, que não morro de amores por arte moderna, me rendo à poesia desse povo.
    Adorei a matéria.

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  6. pouco conhecia sobre essa pessoa iluminante..graças a voce, agora posso até falar sobre ela, essa "passadora de luz".

    Valeu!

    Severino

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  7. Muito lindo, Lú!

    Virgínia.

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  8. Legal Luciana.
    Obras marcantes para Brasilia.
    E com manutenção reconhecida pela autora!!

    E, você, tê-la conhecido!!

    Paulo Magno

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  9. Que maravilha Luciana. O artigo está excelente

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