Meninas não entram...





Meninos, meninos... Esse mundo aparte de nós, mulheres. Recebi hoje um artigo do Luiz Felipe Pondé chamado “Medos Masculinos e Mulheres Obsoletas”, enviado pelo antenado amigo Rodrigo. Um tiro de franqueza e sagacidade típico desse pensador pós-moderno. Gosto muito do Pondé, pois ele não perdoa nada, assim mais ou menos como eu. :) 

Ainda nas rebarbas sobre o mundo hetero e o mundo gay, amar um igual deve ser mais fácil do que amar um diferente. Não é essa toda a luta secular das minorias? A aceitação da diferença? Pois é... Acolher, aceitar e engolir as diferenças é foda pra caralho! Casamento hetero é foda pra caralho, portanto. 

Mas eu não quero escrever sobre as agruras dos matrimônios. Volto a correr atrás do meu rabo: o universo tão particular dos meninos. Ter somente homens em casa é estafante de muitas maneiras. Começo a acreditar numas pesquisas que andei lendo por aí que afirmam: mães de meninos vivem menos. Procede. 

Conheço algumas mães só de meninos que não parecem tão incomodadas com o fato. Mas eu sou. Uma eterna sensação de penetra no baile. Desconfio que as outras mães também se sintam um pouco deslocadas ou solitárias porque, como disse Pondé no artigo dele “alguns darwinistas remetem essa capacidade feminina infinita para falar ao fato de que nossas ancestrais viviam coletando com suas crias e amigas e, enquanto isso, conversavam. Já nossos ancestrais, ocupados com a caça e o risco implícito na caça, precisavam ser silenciosos e focados na presa. Já para as fêmeas, a conversa era parte do cotidiano saudável, e, por isso, as silenciosas não tiveram sucesso, porque eram isoladas e antipáticas. Por razões evolucionistas ou não, os homens são "travados", falam pouco e temem a intimidade consigo mesmos. Falta-lhes a "cultura da subjetividade", normalmente farta nas mulheres”. 

Pois então, eu sinto tanta falta dessa tal “cultura da subjetividade” lá dentro de casa, gente! Ninguém quer saber se estou sofrendo porque o esmalte descascou antes de uma semana. Ou que estou com cólica nesse mês, quando no mês anterior não tive nada. 

Os meninos formam matilhas impenetráveis. Já reparou que nas ruas estão sempre a vagar grupinhos de guris e nunca de gurias? Quando saio do trabalho, de vez em quando vejo bandos deles perambulando em lugares ermos para alcançar seus objetivos. Não falo de meninos de rua. Falo de garotos em uniformes de escolas particulares. Eles se juntam e vão, desafiadores e destemidos deambular por aí. 

Numa noite de sexta, vi uns oito fumando e conversando animadamente na porta da loja de conveniência do posto de gasolina. Porque menino é assim: se diverte em qualquer lugar inóspito. E ontem vi quatro zanzando às margens da rodovia 060. Pra onde iam tão determinados? As mães saberiam que estavam tão longe de casa e em paragens tão perigosas? Menino é assim: desbravador desatencioso. Os meus, se deixar, ficam o dia todo fora de casa sem dar um sinal de vida. E nem chegaram à adolescência, ó céus! 

Os homens continuam caçando em comboio, desde os tempos da pedra. Nós, mulheres, elegemos nossos grupelhos, panelinhas. Muita mulher junto dá briga, batata. Quando sento com amigas mães só de meninas, sempre ouço a mesma reclamação: as meninas formam duplas ou trios e começam a implicar umas com as outras nas festinhas de aniversário. 

O lance é que as meninas prestam atenção uma nas outras. Os meninos prestam atenção no que está do outro lado do muro. É impressionante como os meninos exploram as redondezas... A paisagem exterior é um apelo irresistível. Como entender o cenário de turbulência interior das mulheres? Jamais.

Por isso, aqui estou eu, uma ilha neurastênica cercada de machos por todos os lados. Eu olho para eles, mas eles estão a mirar o horizonte de eventos que pode existir no fim do oceano. São autistas todos os homens. E nós, mulheres, a lhes clamar beijinhos e rapapés. Conta que não fecha.


Comentários

  1. É...
    Luciana, minha cara amiga.
    É por aí!

    Homens e mulheres, são mesmo, por natureza, muito diferentes.

    Mas isso é que é legal!!

    já pensou se fôssemos todos iguais?? Que tivéssemos os mesmos interesses??
    Não seria tão divertido....

    E pense, você não tem saída: tem que aprender a viver com os seus homens!!
    E lembre-se que você é a mulher mais importante da vida deles!!

    Boa sorte!!

    Um beijo.
    Paulo.

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  2. Lu, para não ficar com toda essa subjetividade asfixiada, bora marcar um encontro... Para conversar rsrs...

    Ana Cláudia

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  3. Sei bem o que é isso Lu, e olha que aqui são quatro contra uma, euzinha!
    Hoje em dia em casa apenas um e nós duas eu e a Shakti, nossa filhinha de pêlo até que deu uma folga...rs
    Ótimo texto.
    bj.Namastê!
    Cynthia

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  4. Linda postagem, gostei muito de finalmente ver definido um sentimento tão meu, de barrada no baile!

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