Ideias vorazes





Folheando as revistinhas de produtos de beleza cada dia mais inúmeras, deparo-me com os nomes surreais dos batons a cada ano mais inúmeros também. Imagino o rebuliço no departamento de marketing das indústrias de esmalte e de brilhos para os lábios nos dias de hoje. Santa Criatividade, Batman! 

De Verde Ninja à Capadócia; de Ha Ha Ha ao Me Belisca; de Nugget (Cor de burro quando foge, será?) a Marshmellow de Alfazema, passando por Azulcrination e Inveja Boa, rola de tudo no universo fashion para atrair a mulherada. 

O mais engraçado, entretanto, é ver que existe explicação “científica” por trás desses batismos. Os profissionais que discutem e batem o martelo sobre as novas tendências juram que os nomes querem, sim, dizer alguma coisa além da viagem na maionese que de fato são. Como sou publicitária, conheço muito bem esse joguinho de inventar profundidade para algo que está na superfície. Eles não me enganam, mas gosto muito de ler a fala empolada dos marqueteiros. É tão hilária quanto os próprios nomes. 

Mas eu tô falando tudo isso com inveja. Não da boa, mas inveja mesmo, daquelas com olhos bem grandes, famintos. Eu queria fazer parte desses brainstormings; trabalhar criando nomes bizarros e idiotas para objetos supérfluos; chover ideias todos os dias. “Mamãe adora inventar bobagens”, diz meu caçula. Pois então! 

Sempre vou nutrir pelas mentes criativas a maior devoção. Consequentemente sempre serei frustrada por nunca ter sido vitrinista de loja, um dos meus objetivos de vida na juventude. Uma vitrine bem bolada me tira do sério. Babo. Quase cheguei a gerenciar uma boutique chique no Park Shopping. Teria sido a grande oportunidade de mostrar meus dotes artísticos entre manequins anoréxicos e etiquetas de preços exorbitantes. Todavia... Sem contar que nunca me deixaram ser atendente de locadora de filmes. Não foi por falta de tentativa. Do balcão para a direção de um longa-metragem seria um pulo, tenho certeza. 

Talvez o destino de minha alma corsária e volátil era, enfim, ser capturada pela calmaria lenga lenga do serviço público. Seria uma mulher ainda mais neurótica, brincando de “quero ser grande” no mercado infestado de tubarões a cada semana mais geração y, z, w e XPTO (acho que nasci velha pra tanta individualidade e competitividade). 

Apesar de 20 anos de rotina estável, ainda guardo a dor e a angústia de ser a bola da vez. De ir para o olho da rua e ficar amargando os classificados atrás de outra oportunidade. Solidarizo-me, pois, com quem está no meio da ressaca. 

Não era para ser um post deprê esse. Porém, diante da recessão que está asfixiando e demitindo um bocado de gente perto da gente, não me parece sensível tripudiar sobre a condição de eterna entediada pelo marasmo do Judiciário. Por isso escrevo e sublimo, antes que esses pensamentos me devorem. 

Comentários

  1. Que coincidência, Lu!!!
    Às vezes, me sinto assim tbm.

    Bjs.,

    Sinara

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  2. Esmaltes... independente da cor ou promessas inócuas de nomes insólitos, taí algo que não passo nas unhas há anos, acredite. Mas o que vc batizasse, eu ia usar, com certeza :)
    Bjs!
    Patty

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  3. hahaha! Falando em criatividade, gostei... agora prá comprovar que não sou um robô e poder publicar meu comentário, tive que saber identificar imagens de sushis ao invés de digitar letras e números embolados.... só há que se ter cuidado com o avanço da inteligência artificial.... kkk

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  4. Ué... não saiu o início do meu comentário.... vou reproduzi-lo:

    Faltou a tentativa da vaga no Posto de gasolina como frentista, eu lembro! Haja criatividade kkk!
    Como assim bola da vez??? Desemprego??? Não entendi....
    Acho que vc passou o esmalte "Delírio" hoje kkk
    Bjs!

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  5. Menina cheia de ideias para dividir com o mundo!

    Evelyn

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  6. Prima, estava aqui no salão, depois de ler o seu blog, e me deparo com um esmalte cujo nome é "catando conchinha". Lembrei de você! KKKK! Muita criatividade. Admiro a criatividade... Principalmente para mim, que sou um ser dos números.

    Beijos,

    Liana.

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