Livro de horas
Gosto do que a casa tem de imperfeita.
A deterioração do tempo
nas lascas dos tijolos,
o trabalho de mãos que ergueram
suas paredes tortas,
manifestado.
Trancas que mal fecham
os basculantes de ferro.
Telhas que guardam cicatrizes
de secas e de tempestades.
Gosto do que há de carcomido no chão. Teias de aranha que aqui
também fazem morada.
Plantas desabrocham dos rejuntes e árvores sólidas, fincadas
nas profundezas das eras.
Gosto do que a casa tem de casa
dos desenhos de casinhas.
Do que ela tem de ruína.
Reminiscências, fantasmas, quinquilharias.
A deterioração do tempo
nas lascas dos tijolos,
o trabalho de mãos que ergueram
suas paredes tortas,
manifestado.
Trancas que mal fecham
os basculantes de ferro.
Telhas que guardam cicatrizes
de secas e de tempestades.
Gosto do que há de carcomido no chão. Teias de aranha que aqui
também fazem morada.
Plantas desabrocham dos rejuntes e árvores sólidas, fincadas
nas profundezas das eras.
Gosto do que a casa tem de casa
dos desenhos de casinhas.
Do que ela tem de ruína.
Reminiscências, fantasmas, quinquilharias.
Casa que não esconde a idade,
cem por cento pessoal
cheia de personalidade.
Uma casa de verdades.
Diversificar as chances de ser feliz é a melhor estratégia. Como já dizia nosso amado guru Guimarães Rosa: felicidade a gente encontra é em horinhas de descuido.
Brasília tem inúmeros defeitos, sem dúvida, mas o Plano Piloto é um parque urbano belíssimo. Um privilégio viver rodeado por árvores de várias espécies, aves, mamíferos de pequeno porte. Você já passou um tempo imerso numa superquadra? Se fizer apenas o turismo-padrão, realmente vai achar engessado. Nos últimos anos, a cidade é outra: plena, madura. A população curte as áreas verdes para piqueniques, feiras, encontros literários, festinhas de aniversário, rodas de choro... Há momentos nos quais concretizamos o sonho de Dom Bosco. Civilizadamente jorramos leite e mel.
![]() |
Meu amigo Rodrigô em dia de Parada LGBTetc. |
O mundo é pequeno e redondo. Cada dia mais redondo, como se tivesse rolando na velocidade da luz e sua circunferência estivesse cada minuto mais gasta. O mundo está diminuindo... Estará mesmo acabando? Seixo desgastando-se até a poeira cósmica original?
Estamos conectados nessa tênue e misteriosa linha da vida planetária. Nasci e vivo no Brasil, portanto, nunca vi uma guerra de perto. O terrorismo nunca bateu às portas da minha família. Não convivo com atos arbitrários de ditadores.
Os tanques e as atrocidades das batalhas estão do lado de lá e chegam até o meu coração pelas notícias parciais dos jornais. Na verdade, não sabemos desses conflitos em seu cerne porque os filtros do subjetivismo baseado em preconceitos, em achismos, em cultura ocidental X oriental nos permite vislumbrar um recorte do que se desenrola nas carnificinas espalhadas pelo planeta, não o que acontece em si.
Respiro aliviada por ser apenas uma mulher comum que não inspira nada além de chateação em seus semelhantes. Percebi o quanto ser resguardada por esta tranquilidade é abençoado. O quanto é automático trilhar o caminho que esperam da gente: crescer, estudar, casar, ter filhos, lar, cachorro, gatos. E também o tanto que a sociedade espezinha quem ousa tocar a vida de outro jeito.
Ao voltar para a minha doce vidinha classe média heterossexual, sinto um impulso de pedir perdão a todos gays, negros, índios, paraplégicos, esquizofrênicos, desfigurados, turcos que moram na Alemanha, palestinos que estão na Faixa de Gaza, cegos, mulheres muçulmanas, surdos-mudos e demais grupos humanos que convivem com a cacetada diária de existirem como pontos fora da curva. Açoitados pela pobreza de espírito da humanidade em geral.
“Senhor, fazei com que eu procure mais compreender que ser compreendido”. Que a diversidade da família planetária transforme, em futuro não apocalíptico, mas fraternal, a face bisonha da intolerância num rosto BFF.
Pensei em quantas centenas de galhos estariam se espreguiçando naquele momento. Secretamente se amando, velados pela noite solitária. Fui mais além e imaginei cada animal vertebrado ou invertebrado sacudindo suas existências no pleno regozijo do batismo em água benta de seus corpos densos ou fluidos...
Ainda no exercício de visualização, vi o chão, o barro duro, abrir sua bocarra e receber a cálida torrente:
o líquido da vida penetrando nas diversas camadas do solo como lâmina de seda.
Epidemia de feminicídios. Até mulher mandando matar ex-esposa, o que demostra que se trata de um crime patrimonial: "ninguém mais tem direito a alguém que é meu". Latrocínio: mato para roubar a liberdade da mulher fazer o que bem quiser da vida dela. O discurso da polícia e dos jornalistas precisa mudar. Não se trata de "ciúmes ou de não aceitar o fim da relação". Clichês equivocados, vazios, que amenizam a torpeza de um crime vil. Chega de órfãos da violência! Basta!
<3
ResponderExcluirApesar de todos os pesares políticos e sociais, temos, em nosso país, uma realidade abençoada, menos dura, se compararmos com a condição em que estão nossos irmãos de humanidade em diversos pontos do planeta, sobretudo os que padecem com as guerras insanas. Podemos auxiliar com nossas sentidas orações, suplicando a Deus para que esses conflitos cheguem ao fim, assim como podemos pedir que a Luz de Jesus envolva os corações de todos 💖🙏🏻
ResponderExcluirBela reflexão, Lú.😘
ResponderExcluirRenata Queiroz
Adorei!
ResponderExcluirJuliana Meneses
Amei. Obrigada por esse intervalo!
ResponderExcluirJandira Queiroz
Uma coletânea de textos com reflexões muito profundas, e sim, oro
ResponderExcluirmuito por que creio, que em algumas questões, é o que me cabe…valeu Lu, sempre grata 🙏😘🪷
Cynthia
Li e adorei. Você é imensurável e única!
ResponderExcluirJandira Costa
Oi Bom dia, daqui de Pernambuco
ResponderExcluirDo Recife Para o Brasil central
Que texto lindo
E poético
Livro das horas, eu amo o tema das horas e da casa, como vc já sabe. Texto muito bem escrito
Também aproveitei pra ler o texto seguinte: perfil comportamental e gostei bastante.
Viva a escrita que nos une 🙌🏼🙌🏼🙌🏼🥰
Raiza Figueredo
Lindos e lúcidos textos!!
ResponderExcluirMariana