"Déficit Civilizatório" é eufemismo para buraco negro civilizatório...

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Senta, que lá vem textão!

Quando rolou esse lance de intervenção no Rio, achei interessante ser no Rio porque o Rio é para o Brasil o que a cidade de Nova Iorque é para os Estados Unidos: eldorado, mitificação de liberdade, beleza, aventura, tesão. Ainda que doente, podre e violento, difícil encontrar um brasileiro que não ame o Rio ou não tenha o sonho de conhecer suas paisagens e seus homens e mulheres vaidosos e gostosos. As novelas, os filmes, os telejornais. Tudo trabalha para glorificar e horrorizar a capital fluminense.

O fato é que somos ‘Riocentrados’ desde a vinda da família real portuguesa para a baía de Guanabara. A massificação carioca promovida pela Rede Globo e as elegias sem fim de músicos e poetas se encarregaram de sacramentar nossa devoção ao “Rio 40 graus, purgatório da beleza e do caos”. Mas, não vem ao caso agora debater a inteligência acima da mídia. E antes que pensem que não gosto do Rio, repensem.

Eu achei que a intervenção (proposta nas coxas como são boa parte das ideias tupiniquins) no Rio iria despertar, no povo brasileiro, a necessidade mais do que urgente de pensar com mais inteligência nas eleições de outubro. Se a intervenção fosse lá no Acre, Rondônia; nos cafundós do Judas, os brasileiros poderiam continuar empurrado a sujeira para debaixo do tapete. A incômoda poeira de nossa responsabilidade no descontrole absoluto da violência urbana no Brasil devido à ausência contumaz de políticas públicas na área de Educação.

Agora, outro assassinato brutal; a execução de uma vereadora em exercício do cargo. Anos atrás foi de uma juíza em plena atividade, mas as redes sociais não eram tão fervilhantes naquele tempo. Morte encomendada na vigência da intervenção militar no Rio: não foi a primeira e não será a última.

O faroeste caboclo dos interiores, das questões fundiárias, da matança de índios, dos ódios entre famílias nordestinas, dos capatazes a mando de coronéis arrombou a porta dos centros urbanos. Os facínoras de um país com excessos de lei que punem de menos têm mostrado que não se intimidam com absolutamente nada. O Brasil todo é um banho de sangue que não poupa culpados, muito menos inocentes.

Devemos ser um dos poucos países em desenvolvimento do mundo onde a violência extrema cresce ao invés de arrefecer nos últimos anos. Que fenômeno é esse? Não me parece tão difícil de entender: onde falta Estado legítimo e eficiente, sobram milícias, vingadores e exterminadores. A corrupção do alto escalão da Administração Pública contamina verticalmente todas as esferas de atuação governamental. Tá tudo dominado é meme, letra de funk e realidade abjeta de uma sociedade acostumada a se vender barato.

O Rio é o grande espelho do que não podemos mais tolerar no Brasil. Mas talvez esteja meio tarde. O país me parece aqueles blocos de gelo desprendendo-se das falésias, à deriva, desgovernados. Estamos caindo aos pedaços, gente! Fortaleza já mostra sinais de descontrole absoluto das instituições que deveriam zelar pela segurança dos cidadãos. Natal, a periferia de Brasília...

Em meio ao bang-bang entre criminosos assumidos e criminosos que se camuflam de farda para agir, contraditoriamente, à paisana, estão as crianças, os ativistas, os juízes, os policiais honestos (pode crer, eles existem numa proporção maior do que a de políticos decentes), os jornalistas de verdade, os professores, os médicos dedicados, os líderes comunitários... Dezenas, centenas de pessoas que poderiam fazer a diferença estão mortos por tentar mudar o estado de coisas inescrupulosas que assolam o país há décadas.

No meio do mundo-cão nosso de todo dia também resiste a elite política e jurídica do país, que não quer mudar nada e joga baixo para manter seus privilégios obtusos em pleno século 21, retroalimentando a violência que só cresce em face da lacuna gerada pela ausência de gestão ética, comprometida e amorosa. Sim, amorosa!

O desamor pelo Brasil é quase uma unanimidade entre os que deveriam protegê-lo de todo o mal: presidentes, magistrados, senadores, deputados, ministros, prefeitos, vereadores, diretores de estatais, empresários, servidores públicos umbilicados com suas benesses...

As eleições estão aí. O país só evolui a partir do voto de cada eleitor. Indignar-se nas redes sociais é válido. Porém, indignar-se nas urnas é fundamental. Chega, Brasil!



Comentários

  1. Falou muito bem!!!!!

    Laurícia Hilário

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  2. Falou e disse!

    Thiago Dória

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  3. Bela indignação! Basta! Posso compartilhar?

    Ângela Sollberger

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  4. Os grandes jornais do pais ja te descobriram?

    Eugênia Jardim

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  5. Obrigada minha amiga, falou tudo! Vamos para as urnas! mas, a dialética cruel ainda se faz...sem educação e um bando de gente alienada...votar!?! Quando converso no metrô, nas ruas, no mercado...me dá desespero..."as pessoa" "num" sabe "votá"não...mas concordo... é por aí que temos uma "saída" e possibilidade de recomeçar...

    Márcia Renault

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  6. Desabafo consciente Luciana...Mas quem são os candidatos que merecem o voto? Onde estão lideranças verdadeiras que tenham um pouco de patriotismo, aquele sentimento antigo de respeito à Pátria amada e seu povo?

    Socorro Melo

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  7. É isso Lu,mandou bem!

    Cynthia Chayb

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  8. É isso aí, Lu!!!! Vou compartilhar.

    Sinara Pedrosa

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  9. Basta de indignação e vamos para a ação. Parabéns, Lu, belo, pertinente e premonitório texto.

    Wagner Rizzo

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  10. Da pra entender porque sai de lá há quase quarenta anos!

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