As frutas da discórdia

Ontem, à mesa de sobremesas do self-service do Clube da Aeronáutica (muito bom e com preço honesto), estava a pegar morangos e fatias de abacaxi (comportadíssima, em face das suculentas tortas de chocolate que se apresentavam brejeiras aos comensais). Atrás de mim, uma menininha esperava comportadamente que eu me servisse. 

Devia ter uns sete, oito anos. Terminei minha parte e ela começou a colocar pedaços de manga e morangos no pratinho, mas foi interrompida abruptamente pelo próprio pai: 

- Não pega fruta, não! 

Ela se recolheu, murcha, enquanto eu paralisava diante de ordem tão absurda. Não me contive, bocuda que sou desde sempre: 

- Deixe ela pegar fruta! Acho que é a primeira vez na vida que vejo um pai falar para o filho não comer fruta... 

Ele ficou sem graça e tentou consertar o mau feito: 

- Ela já comeu muita fruta pela manhã. 

Todavia continuei tentando educar o filho de outro: 

- Mas fruta a gente pode e deve comer mais de uma vez por dia... 

Me choca ver um pai fazer um desserviço desses! O que ele queria? Que ela colocasse aquelas bombas calóricas em formato de bolos no prato? Incentivar a filha a comer açúcar, esse veneno viciante, quando saudavelmente ela queria comer frutas? 

Ó céus! Às vezes, tenho vontade de torcer o pescoço de alguns pais e mães de hoje, totalmente sem noção do cargo que ocupam.