Culpados, mas com explicação! KKK!





Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão
E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia como tinha de ser
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz ...
(Renato Russo)



Nomes e datas são fixações cultivadas. Minha memória zero cartesiana não gosta de rotina para nada: comer, vestir, viajar, trabalhar. O processo me empolga mais do que o resultado. A eterna crise existencial dos piscianos que preferem o sonho à concretização dele. 

Todavia, cá estou a fazer as minhas contas, datas do mês de abril. Como o único elemento pragmático que meu cérebro fugidio acolhe sem reclamações, sem receio de ser repetitiva. Quarto mês do ano cosmologicamente mágico e denso: nebulosa. De nascimentos e mortes sucessivos. 

Meu casamento atinge a maioridade legal e penal neste dia 25. Meu marido e eu já podemos ser imputados pelos crimes de amor e ódio que vivemos ao longo dessa trajetória. Quando me dou conta da grandeza desse número, não entendo como pude chegar até aqui ao lado de um único parceiro. Logo eu, a enfadada crônica com a mesmice da vida.

Mas exatamente o não pensar é o que nos levou a seguir tanto tempo na segunda aventura mais complexa do mundo: viver a dois. (A primeira, definitivamente, é criar filhos, uma consequência da segunda, pois boa parte do prazer de um esporte radical é torna-lo ainda mais radical). 

Entretanto, quando digo que não pensamos sobre o nosso convívio, não pretendo afirmar que somos inconsequentes. O.K., algumas vezes sim, como quando decidimos morar juntos em São Paulo apenas com o dinheiro da bolsa de doutorado dele + a minha recém-formatura no bolso. Dois moleques perdidos na metrópole suja.

Houve, ainda, outros momentos de insanidade, como conviver com a sogra no porão da casa dela, entre um desemprego aqui e acolá. E partir para os Estados Unidos sem conhecer viv'alma a nos acalentar, além de nossa vontade de encarar a empreitada (com pouco dinheiro, mais uma vez).

Nosso amor foi de fato um amor e uma cabana por muito tempo. Quem nos vê agora em apartamento confortável no bairro nobre da capital, pode acreditar que tudo sempre foi tranquilo. Engana-se. A gente curtiu muitos bodes, muitas deprês, muitas contenções e fuscas quebrados pelo caminho.

Eu já quis esganá-lo, ele já quis me esfolar. Tudo sem pensar ou pensando no último minuto antes da tragédia que nos faria arrependidos para o resto da existência. Existência que se tornaria solitária sem alguém para colocar a culpa pelas nóias pessoais de todos os dias.

Não pensamos, ou seja, evitamos caraminholar sobre o porquê de um físico dogmático (redundância?) e uma jornalista/publicitária/escritora fracassada (pleonasmo?) ainda insistirem em dividir o mesmo teto. Fomos seguindo, construindo nossos pequenos projetos de viagens, de lar, de Arte e Literatura, de arroz com feijão e feijão com macarrão (que ele acha vulgar e eu acho divino). 

21 anos encarando muita magia e muito tédio. E no meio do caminho a vontade de complicar tudo ainda mais: que tal um filho? Relógio biológico apitando seu alarme em volume impossível de ser ignorado. Filho planejado, pensado nos mínimos detalhes. Sei exatamente o dia em que meu primeiro filho foi feito. Que tipo de transa rolou no chão da sala de TV. Era início de agosto. Tomás veio ao mundo no fim de abril. Vai completar sua primeira década no dia 30. Uma década! Que privilégio participar dos dez anos de formação de um ser... Humano.

Abril, o mesmo mês onde tudo começou numa noite na boate de lambada da Asa Norte. O garoto recém-formado, careta e arrumadinho fica com a garota caloura, descolada e atrevidinha. Podia ser Eduardo e Mônica do Renato Russo, mas era Luciana e Bernardo. E agora não tem mais volta: somos maiores de idade no sacramento do matrimônio. Devemos tomar cuidado para não cometer delitos graves pelos quais seremos julgados principalmente por nós mesmos. Pensar em homicídio, nem pensar! 

Agora somos um casal real, com seus fantasmas, derrotas e vitórias. Somos nossa história em mais de 30 álbuns, zilhões de fotos no HD, cartas, brigas, beijos, Paris/Inhumas, Alemanha/Serra da Capivara. Disparidades essenciais nesse relacionamento intenso e rico de encontros e desencontros. Uma rotina com gostinho de imponderabilidade para não me deixar exasperada ao ponto de partir.

Ele, a âncora que faz meu imposto de renda, as contas do cartão de crédito, as revisões do carro e a reserva dos hotéis. Eu, a vela ao sabor do vento dos poemas, blogs e brechós. E para completar a bagagem, uma dupla de meninos de lindeza holística, que eu espero que não fiquem de recuperação. :)



Comentários

  1. Encheu meus olhinhos de lágrimas!

    Noemia

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  2. Que coisa mais linda! Parabéns - pelo texto e, sobretudo, pela construção desse relacionamento tão rico! Beijos, Débora

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  3. Que coisa mais linda! Parabéns - pelo texto e, sobretudo, pela construção desse relacionamento tão rico! Beijos, Débora

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  4. um texto pulsante!

    Carmem Cecília

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  5. Lindoooo!!!!!!!!!!!
    Adorei o texto, adoro o casal, vcs são tão fofos!
    Parabéns pelo texto e e pelo aniversário de casamento.
    Vida longa ao amor!
    Beijos,
    Mona

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  6. Muito bom! Que os anos se multipliquem, muita paz e saúde pra curtir a bela família que vocês formam. Parabéns!!!

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  7. Bem... vou confessar, afinal não é possível que alguém vá ficar magoado depois de tanto tempo né? Torci muito contra o Bernardo no começo. Sempre achei que não tinha nada haver e que ia ser um desastre. Que maravilha estar errada. Com o tempo aprendi a gostar dele. Parabéns ao casal.

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    1. Mas gostar do Bernardo leva tempo mesmo! KKKK!!! Nós sabemos, Larinha, que rolou uma antipatia canceriano-canceriano, com um dia de diferença entre os dois. Normal. O importante é que estou aqui, cercada de caranguejos do bem!

      Abreijos,

      Lulupisces.

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  8. Putz! Eu com 14 aninhos de relacionamento com o Gustavo me sinto uma adolescente perto da maioridade de vocês! rs
    Admiroooo!
    Adorei a ilustração que escolheu! rsrsrsrs
    Parabéns!!!!
    Bjs!
    Patty

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  9. Linda história, Lu! Parabéns! Bjs

    Maria Carolina

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  10. Parabéns, amigos! Sabemos bem o quanto vale isso tudo!

    Marisa

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  11. Amei Lú!!!! Esse ano eu e Marcelo faremos 17.....e a história muito parecida....o peão bruto e sistemático (rsrsrsr) e a "patricinha" se casaram e foram morar na fazenda....kkkkkk...se formos contar os detalhes ...

    Marina.

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  12. Parabéns Lu e Bernardo, uma linda história.

    Renata Assumpção

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  13. Lindo!!!! É isso aí!!!! A beleza de ser um eterno aprendiz!!!!! Bjsss parabénssss!!!

    Liana.

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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  15. Muito legal, Luciana! Parabéns pra vcs dois, por tudo o que construíram e estão construindo. Bjs.

    Júlia Beckman

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  16. Parabéns! Felicidades! Cumprimentos pela qualidade da trajetória, especialmente pelos filhos. Beijos, Marina e eu celebraremos esta data hoje no nosso almoço juntas, telefonaremos para vocês. Grata pela oportunidade de repartir momentos gostosos com vocês nesta caminhada.

    Guti.

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  17. Parabéns pelo aniversário de casamento e pela vitória dos 21 anos!!! Não deve ser mole não... Guerreiros!!! :) Nunca me casei mas fiz um "teste drive" de 3 meses que já me mostrou o quão difícil é... kkk

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  18. Coragem! Fizemos dia 9 passado 35 anos! Afff

    Márcia Holanda

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  19. Lu, bebi seu texto todinho... Sim, bebi porque não se lê um texto assim... A gente sorve, absorve e vê um filme igualzinho rodando em nossas mentes durante a leitura. A vida é assim, penso eu, a gente encara o desafio de uma vida a dois até a exaustão! E o resultado é um troféu imaginário e real erguido pela conquista do conhecimento a que poucos querem se submeter. Essa conquista suada, cotidiana, de conhecer a si mesmo e transformar dois seres em um só, unidos, fortalecidos e amigos de corpo e alma. A conquista de um sentimento comparável ao de romper a linha de chegada de uma árdua competição, concluída em sua totalidade que dá ao vencedor a sensação do desafio vencido, com sangue, suor e sorriso pleno nos lábios. É isso aí, Lu! Segue em frente com seu Bernardo e seus filhos maravilhosos! Não é pra qualquer um, não.
    Beijos
    Marcita

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    Respostas
    1. Marcita Darling,

      Você me emocionou. Também sabe do que estou falando de verdade, né? Casamento, escrever... Tarefas árduas que só são “sorvidas” por pessoas de rara fibra como você é!

      Abraço afetuoso pra sempre,

      Lulupisces.

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  20. Meus parabéns!! Que massa!!
    desejo que vcs tenham pelo menos mais 25 anos de história :)
    beijão,
    Giovana

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  21. Uau! Texto pulsante, de uma fluência sincera. Quanta riqueza!
    Parabéns a vocês! Beijos e abraços em profusão.

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  22. Seus textos são primorosos para mim!

    Beijocas
    Marcita

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  23. Meus queridos Lu e Bernardo, feliz união, feliz 21 anos...faltam mais 21 para que vocês nos alcancem...e tendo esse registro de caminhada juntos tenho certeza que emplacarão muitos mais.Linda união, lindos frutos...linda história...comemorem...celebrem!
    Beijos dos amigos,
    Cynthia e Caca
    ps:Eduardo e Mônica é o nosso hino tb

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  24. Vou de chavão, porque aniversário de casamento é chavão e lindo: estou com os olhos cheios de lágrimas se preparando para rolar. Também bebi e comi o texto, porque é uma história daquelas que a gente de um fôlego só.
    Parabéns aos dois, a canceriana cheia de sonhos, anseios e impetuosidade e o físico dogmático. Dar conta de uma combinação dessas, sem crime e/ou castigo, é coisa de gente talentosa.
    Beijos carinhosos,
    Ana

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  25. Lulu,
    É incrível como o tempo vai inexorável, impiedoso, às vezes. Congratulations on your 21st anniversary!! I really think you are a unique couple I remember turning 40 and meeting you in a pool, trying to prepare myself to grow older in shape, so many years has passed, I grew older and still am, you got married and are weaving a story with hard and sweet, crazy and most sane instances, but what amazes me is that in all scenes you keep being a poet. your eternal fan. Marcia

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  26. As Márcias me fazendo chorar!!!!

    Márcia, também sou sua fã. Da sua riqueza interior, da sua fortaleza e fé. Nunca me esqueço de ti, do calor humano que sentia na cozinha da sua casa. E do Pedro e da Clara, que já devem ser adultos!!!
    Por que não nos vemos um dia?

    Abraços fraternos,

    Lulupisces.

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  27. Oi Lu,

    Nossa como o tempo passou rápido.
    Ainda lembro do namoro de vocês e das tentativas frustadas de você, Lu, em me arranjar um cara legal para namorar.
    Bem... Sempre falo do orgulho de ter sido sua madrinha de casamento. Graças a Deus, acho que dei sorte.
    Sempre valorizei e valorizo o exercício diário que existe em compartilhar uma vida a dois. Assim como acredito que as mulheres que têm filhos são melhores seres humanos.
    Assim como acredito que um casal que transcende o tempo juntos, só pode ser formado por duas pessoas especiais.(conhecimento de causa)
    Maioridade matrimonial... Quanta coisa deve ter passado por debaixo da ponte...
    Parabéns!!!
    Que Deus sempre proteja a trajetória de vocês!

    Com amor,

    Sabíola

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  28. Parabéns, Lu! Parabéns ao casal!!! Adorei seu texto!!

    Monica Andrade

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  29. parabéns, Lu!! Vcs sao fofos!

    Clarice.

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  30. òwn, Luzinha... que texto sensível, que depoimento belo! Bem, eu sou suspeita para falar do casal: já disse que vcs carregam o estandarte do casamento com a responsabilidade de mestre-sala e porta-bandeira. À frente da galera, mostrando com orgulho que é possível construir uma vida ao lado de outra pessoa e ser feliz. beijo querida e parabéns! Isa

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