Âmago

“Sonhos vêm, sonhos vão, o resto é imperfeito...”  (Renato Russo)

Como criticar o sistemático hábito dos povos antigos de recorrer aos oráculos e à decifração de sonhos? Se, ainda hoje, com tanta ciência e medicina, eles ainda mexem com a gente? Podem tornar nosso dia bom ou ruim. Atormentam ou acalentam. 

Nessa semana, os sonhos me perseguiram. Os dos outros, especificamente. Um bom amigo (físico e místico) sonhou que estava evangelizando crianças e queria saber se eu já pensei em evangelizar os meninos. Sim, já pensei. Já perguntei ao Tomás se ele queria fazer catequese, mas ele ainda não demonstrou interesse pelo assunto. 

Entretanto o tema, vire e mexe, é pauta na conversa informal da nossa família. Eu sou do tipo que atira para todos os lados e colho ensinamentos e conforto de qualquer religião. Aí me pergunto: como escolher uma específica para os meus filhos? Não seria imposição? Qual será a mais adequada para eles? Melhor deixar que ambos decidam se querem ou não querem acreditar em alguma coisa? 

Cresci dentro da igreja católica, tenho oratório em casa com vários santos. Mas acendo incenso e acredito na sabedoria de Buda. Leio textos espíritas e me interesso pelos orixás. Sei lá, tudo é lindo e tão profundo! Estava até a fim de fazer um curso de especialização em Astrologia no UniCeub. Desconfio que a minha inscrição significaria o passaporte para o divórcio! Recordem: meu marido é cientista quase ateu depois de pensar em ser padre. Vá entender... 

Às vezes os meninos começam a papear e debatem sobre a veracidade ou não de Jesus Cristo. Juro que não sei de onde vem essa dúvida deles, pois eu acredito piamente que Jesus existiu. Não sei se ele ressuscitou ou se é filho de Deus. Mas sei que ele existiu e era iluminado. Um em um trilhão que surge na Terra e promove revoluções. 

Enquanto o amadurecimento pessoal não vem, leio poemas para os guris, entoo cantigas. Acredito no sagrado de seus ritmos e melodias absolutamente. Levo os dois à missa e ao templo budista de quando em quando e estou sempre pronta para discutir qualquer assunto de ordem espiritual com a cabeça mais limpa possível. Acho que esse é o caminho. Em algum momento, eles farão suas trajetórias metafísicas. 

O outro sonho semanal veio da alma da tia da minha prima. Sim, a parentada tem pesadelo com a gente e nos deixa arrepiada. A tia Lurdinha sonhou que Rômulo tinha sido atropelado. Passei dois dias com o estômago embrulhado. Minha prima é meio bruxa, a tia também não será? Acendi velas para a minha Santa Bárbara (padroeira dos que gostam de viver perigosamente), roguei a São Judas e também a São José. E ainda pedi a interseção de mamãe e dindinha, que não custa apelar a todos os anjos! 

Porém, nessa madrugada, fui eu quem me sagrei abençoada por um belo passeio onírico! Mamãe colocava em meu colo Luís Gustavo, filho da prima Liana do Piauí. Eu o acomodei em cima de mim e assim adormecemos. Na manhã, todos se reuniram para um café animado e barulhento na casa da 715 sul (onde nasci e cresci). Mamãe lá, tagarelando comigo e o Luís agarrado a mim como um macaquinho... 

Que maravilha poder conversar com mamãe de novo em tão calorosa reunião familiar! Desafio qualquer cientista quase ateu a apresentar fórmulas que expliquem as bonanças e as redenções contidas nos devaneios noturnos. Vem, vem que eu quero ver colocar o poder dos sonhos no chinelo. Derruba não, bobão!

 A trilha perfeita para acompanhar qualquer sonho bom:

http://www.youtube.com/watch?v=dREVvGdhqaI