Ampelmann verde, ampelmann vermelho, ampelmann verde, ampelmann vermelho... (*)

Ampelman
Uma das marcas registradas da Alemanha é o respeito dos cidadãos às regras de trânsito. Pelo menos foi o que nos pareceu em Munique, Hamburgo e Berlim. Todos com quem atravessamos centenas de ruas – eu disse todos – esperam o sinal ficar verde para seguir caminho. Freqüentemente acontecia de o asfalto ficar deserto e, ainda assim, ninguém atravessava. Eu repito: ninguém.

Às vezes, essa retidão exemplar nos dava a agonia típica de um povo que não está acostumado a respeitar nenhuma lei. A gente zombava um pouco da caretice dos alemães: tão quadrados, coitados. Sem jogo-de-cintura... “Autômatos inexpressivos”, como costumava reclamar Albert Einstein, ele próprio um alemão que não combinava com o gosto germânico pelas guerras e idéias de supremacia. Mas será que é idiotice fazer o que é certo, mesmo quando ninguém está olhando, vigiando, punindo?

Oktoberfest
Os ciclistas também paravam e esperavam o sinal específico para bicicletas abrir. Na Alemanha, existem muitas ciclovias e nelas circulam milhares de pessoas que adotaram o ecológico e saudável costume de pedalar rumo ao trabalho ou à diversão. Era muito interessante assistir às mulheres em seus vestidos, saias e scarpins pilotando bikes na maior naturalidade. Fiquei curiosa, querendo experimentar algum dia. Mas se de tênis e roupa de ginástica eu já levei um tombo que me custou pinos no cotovelo, imagina de salto alto...Papais, mamães, filhotes. Gente velha e gente nova... Ali, pedalar virou parte da vida.

Brasileiros desacostumados a ver tanta civilidade no dia-a-dia das cidades grandes, toda hora levávamos sustos e algumas buzinadas. Tudo porque invadíamos, sem querer, o espaço destinado aos ciclistas nas calçadas. As ciclovias são demarcadas com um leve traçado e discreta mudança de cor do calçamento. Era quase inevitável não passar para o lado errado. Só no fim das férias é que começamos a prestar mais atenção e fazer a coisa certa.

Bicicletas em Munique
O alemão é um povo que malha. Malha na bicicleta, malha nas caminhadas. As pessoas andam a pé para todos os lados. Exemplo de bem viver que a Europa como continente nos dá. Não vi nenhuma pessoa obesa em 18 dias de passeio por várias cidades alemãs. Nos Estados Unidos, topava com jovens e velhos enormes todo santo dia. Ninguém caminha por lá, a não ser os nova-iorquinos. O transporte público não é tão eficiente e, além disso, é caro. Infelizmente, o nosso modelo é norte-americano e já estamos pagando a conta com o caos nos centros urbanos e o alerta da saúde pública para o aumento de casos de obesidade infantil.

Autoban e geradores eólicos
Por isso, pertinente é o que canta o Skank: “De vez em quando é bão misturar o brasileiro com o alemão”. Puxa, seria fantástico. Eu perderia o jogo-de-cintura neste exato minuto por um punhado da tranqüilidade que vivenciamos nas ruas da Alemanha em qualquer hora do dia ou da noite. Sem falar que nas rodovias federais e interestaduais, as chamadas Autobans, não há imposição de limite de velocidade. Entretanto, elas funcionam. São seguras, duplicadas e utilizadas por motoristas com níveis de consciência e responsabilidade coletiva formidáveis.

Eu queria tanto viver num país tropical, abençoado por Deus e no qual as pessoas não levam um tiro na cara por causa de um relógio (quem não queria?)... “Abolindo a escravidão do caboclo brasileiro/numa mão educação, na outra dinheiro”, filosofaram Samuel Rosa e Chico Amaral. E pensar que há 63 anos a Alemanha era uma nação em escombros. Assombro.

(*) O “homem do semáforo” de Berlim. Um bonequinho simpático que é um dos símbolos de da cidade.

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