Aberta a temporada de torcida pelas zebras

“Já estou de saco cheio desse papo de Pequim, Pequim”. A afirmação eu ouvi de uma colega de trabalho que folheava o jornal abarrotado de notícias sobre as Olimpíadas 2008. Eu consigo entender o “enjôo” das pessoas em relação ao assunto. Com a overdose de informação nos atacando de todos os lados, fica mesmo difícil se desligar do tema.

A sensação, muitas vezes, é de enfado, tamanho o bombardeio de enfoques. Cada veículo de comunicação quer atrair por um aspecto distinto do apresentado pelo outro. Mas, se a gente conseguir abstrair um pouco do que é mais gritante, dos holofotes, podemos nos ater no que é mais bonito: o esporte em si, com toda a carga de superação e espírito de equipe que ele envolve.

Eu sei que sou suspeita para defender os jogos olímpicos porque sempre fui fascinada pelo evento. Desde pequena, acompanho com atenção todas as edições. Acho realmente encantador ver aquela gente de tantas línguas e culturas diferentes convivendo num mesmo espaço, lutando pelos mesmos recordes.

Os Jogos Olímpicos são a oportunidade de acreditar que toda regra tem exceção. E esse vislumbre de chance me deixa mais otimista em relação à humanidade. Podemos fazer a diferença, mesmo contra todas as expectativas em contrário. Lógico que os favoritos são sempre os favoritos. E países como Estados Unidos, Rússia, Alemanha, Canadá, Austrália, Cuba e a própria China sempre vão levar para a casa suas pencas de medalhas de ouro, prata e bronze.

Mas, sem que ninguém perceba, aparece sempre um “azarão”, um atleta que vai lá, faz e deixa o mundo boquiaberto com sua bravura e esforço. Quando menos se espera, nós, que já estamos cansados de ouvir os acordes do hino norte-americano nas cerimônias de premiação, somos arrebatados por um som diferente vindo quem sabe da Albânia, de Trinidad Tobago, do Uruguai...

Tomada pelo espírito dos Jogos, que me enchem de excitação, comecei a assistir a uns programas da SportTV sobre momentos inesquecíveis de olimpíadas passadas. Lá estava a primeira mulher do mundo árabe, uma marroquina franzina, baixinha, ganhando a medalha de ouro nos 400 metros com barreiras. Ela desbancou a esguia atleta norte-americana, ofertando ao povo dela o orgulho genuíno do cidadão que vê a bandeira do seu país a desfilar pelo estádio lotado.

Essa quebra de expectativas, essa aposta na democracia de premiar qualquer pessoa que ali esteja, é a essência dos Jogos. O poder de acreditar, lutar e vencer com armas legítimas, ou como diz a minha professora de ioga, “guerrear o bom combate”. É isso: os atletas, jovens cheios de esperança no melhor, são guerreiros do bom combate. São as fagulhas de sonhos de uma Terra mais fraterna, onde a arena da batalha não passe de uma quadra de basquete, de uma piscina ou de um tatame.

Nesses flashes do passado, também pude assistir ao norte-americano Jesse Owens vencendo os 100 metros nas Olimpíadas de Berlim. Era 1936 e um Hitler, com a pior expressão de contragosto do planeta, engoliu o sapo de ver um negro ganhar do branco alemão.

E eu, que sou uma idealista de carteirinha, vibro como se fosse eu a campeã. Choro e realimento a crença na possibilidade das pessoas se espelharem nesses exemplos de triunfo dos que não têm voz. Um viva aos Jogos, onde quer que eles se realizem! Que a política dê passagem à alegria de torcer pelas “zebras”.

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