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Mostrando postagens de 2025

Ser&Estar

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Por onde passo trespassa o olhar. Felicidade da fruta paga o pedágio das sementes, cascas e caroços. Sol nos ossos, mesa posta É domingo. Galhos tentam alcançar balões azuis de céu, brigadeiros e papagaios. Gatos buscam afagos. A solidão do cachorro encarcerado não atravessa despercebida a manhã florida a desarmar os niilistas. Pesadelos são presentes que agarro de manhã: me mostram  o que jamais imaginaria (Sofia Mariutti) Voltei a sonhar. Para quem dorme bem, não é digno de nota, mas para mim, é um lindo retorno ao mundo de Jung. Sei que todos nós sonhamos, só não nos lembramos deles muitas vezes. Fazia um bom tempo que minhas noites eram um céu sem estrelas porque o Patz apaga a gente e, ao que parece, também apaga as memórias a longo prazo. De acordo com recentes estudos, a medicação pode influir em casos de demência precoce. Por isso, era urgente que eu mudasse de estratégia. Cheguei à conclusão de que insônia é uma doença crônica como hipertensão e diabetes. Já tentei de tu...

Atenta aos sinais

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Vazio ou Saudade? Sempre as dualidades. Não à toa Cecília Meireles escreveu um de seus poemas mais célebres exatamente sobre esse eterno dilema humano: “Ou isto ou aquilo?” Lembrei de Rômulo perguntando "mamãe, de que o Exupéry gostava mais: escrever ou pilotar aviões?" As crianças e sua maneira dual de entender o mundo. Seus “pretos nos brancos” a colocar em xeque as nossas estruturas. Pois então, entre vazio e saudade, sem dúvida a saudade me faz mais companhia. Mas não pensem que foi simples chegar a esta revelação. Mais de ano na análise e o papo com uma amiga de longa data me descortinaram da névoa que levou metade do que vivi para se dissipar. Agora, aos 54, enfim compreendi. Posso discernir a diferença entre vazio e saudade e não misturar os sentimentos que um e outra proporcionam. É como se eu tivesse feito uma cirurgia de catarata e voltasse a enxergar limpidamente. Clarear me deixou mais leve. Me tirou toneladas de dejetos do peito. Assunto recorrente na terapia era...

Livro de horas

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Gosto do que a casa tem de imperfeita. A deterioração do tempo nas lascas dos tijolos, o trabalho de mãos que ergueram suas paredes tortas, manifestado. Trancas que mal fecham os basculantes de ferro. Telhas que guardam cicatrizes de secas e de tempestades. Gosto do que há de carcomido no chão. Teias de aranha que aqui também fazem morada. Plantas desabrocham dos rejuntes e árvores sólidas, fincadas nas profundezas das eras. Gosto do que a casa tem de casa dos desenhos de casinhas. Do que ela tem de ruína. Reminiscências, fantasmas, quinquilharias. Casa que não esconde a idade, cem por cento pessoal cheia de personalidade. Uma casa de verdades. Diversificar as chances de ser feliz é a melhor estratégia. Como já dizia nosso amado guru Guimarães Rosa: felicidade a gente encontra é em horinhas de descuido. Brasília tem inúmeros defeitos, sem dúvida, mas o Plano Piloto é um parque urbano belíssimo. Um privilégio viver rodeado por árvores de várias espécies, aves, mamíferos de pequeno por...

Pormenores

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Tenho certeza de que vocês não vão acreditar. Porque eu mesminha também não acreditei e vocês sabem ou deveriam saber que eu sou daquelas que amam uma serendipidade e as tais conexões telúricas. Vivo encontrando ligações onde talvez não exista nenhuma. Será que forço a barra do acaso ou o destino é meu chapa? Descobertas acidentais são metafísica em estado puro e como não aprendi com a minha madrinha a ser devota, apenas imagino vínculos mirabolantes brincando sozinha. Sob o olhar complacente de Jesus crucificado, Maria - mãe afetuosa – e da sagrada legião de santos, não me redimi de ser criança. Sendo assim, eis que os anjinhos travessos aprontaram algo surreal comigo ontem, numa quarta qualquer. A tarde já estava pela metade e eu bem cansada após algumas horas com a afilhada de cinco anos (ser tivó é o que dá para ser após os 50cinquenta, olhe lá). Ainda rolou umas compras no Carrefour (odeio supermercado) e faltava mais de uma hora para a  sessão de terapia que não houve na se...

Algum tanto

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Ao viajar de avião à noite  constelações d e ponta à cabeça, no breu da planície terrestre.  Ao amanhecer, a viagem retoma o seu prumo  perfura o edredom das nuvens plana-se dentro do sonho. A claridade é uma estrada infinda,  sem sarjetas ou sinalização.  Sou a única orientação.   Sampa sempre intensa sabores, tribos, desejos  lampejos de belezas e de feiu ras. Rococó Art déco paúra. Hinos e bandeiras  hordas, fileiras marginais, quintais. Verde, cinza, arco-íris  vão livres, cubículos mendigos líricos.  Meca, Big Apple Tropicália-sertão tupi-guarani Cariri-Japão.   Deus e o diabo na terra dos Andrade liberdade.   O filho dela está ali, mas já é outro. E então ela sentiu saudade daquele que o filho já foi. A cratera se abriu entre eles e ela sente saudade do que ele é naquele momento, pois sabe que amanhã ele já não será aquele momento. Amanhã o garoto já não dará o beijo forçado pela mãe na frente dos amigos. Ele ...

Perfis comportamentais

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Aguardo a sessão de terapia no segundo andar de um prédio com funcionalidades mistas, ou seja,  pessoas vivem e trabalham por aqui ou exercem ambos os cotidianos no mesmo lugar. As portas estão fechadas. O corredor não é grande, quase familiar. Os únicos objetos a quebrar a monotonia do espaço são os capachos.  Cada apartamento, cada sala tem a sua cara: a face estampada no tapetinho ao pé da entrada. Um convite, uma recusa? Pelo capacho é possível intuir a personalidade de quem habita ali detrás? O que os objetos que escolhemos falam de e por nós?  lar doce lar um lar, um porto seguro, abrigo onde se reenergiza com cores quentes e alegres. É jovial, otimista. Nao abre mão de ficar em casa, arrodeado por memórias e por quinquilharias.  Aldeia global Inquieto, vive no entre, between. Almeja chegar apenas para poder partir. Na verdade, parte ao entrar pela porta, aporta ao viajar. “Seu lar é onde estão seus sapatos.” Mas fique pouco tempo Polido, discreto, convencion...