Desfaleço
Preguiça ou melancolia? O que fotografo e escrevo são diletas companhias. Ainda que poucos talvez entendam o sentido de toda a verborragia, nada posso fazer além de me entregar à inércia destas elucubrações visuais. A palavra escrita também é uma forma de imagem. Ventos são carícias na cidade inóspita. Quisera alísios, enroscam os cabelos. Folhas sem rumo fazem rasantes ao longo do asfalto escaldante a manhã chega e espalha, sem formalidade, cinzas das florestas entre os prédios. Cremados pelas queimadas, os despojos calcinados não recebem póstumas homenagens. Por que varrer as folhas secas que descansam? Por que acordá-las do sono da morte a lhes conferir a dignidade do ciclo cumprido? Não perturbe o repouso de quem lhe deu sombra. Não desfaça o tapete delicadamente traçado pelo vento. Deixe que os pés lhe reconheçam. Que os estalidos ecoem pelas calçadas numa espécie de cardioversão.