Absurdada


Ó céus...


Percebi, pela recepção da história do álbum de fotografias resgatado do esquecimento, que vocês gostam quando eu me meto em histórias amalucadas, né? Eu também, hehehe. Mas preciso dizer que neste mês de junho já cheguei ao meu limite, sabe? Tô quase concordando com a frase da poeta Elisa Lucinda: pare de falar mal da rotina.

No sábado, o reaparecimento do álbum, na terça seguinte, estacionando o carro, sou abordada por um jovem comum (não tinha cara de adventista do sétimo dia, não era mórmon, aliás, cadê esse povo? Batendo ponto no Congresso?), o rapaz se dirige a minha existência lúdica e laica e pergunta: “posso orar por você hoje?” Juro que me senti ofendida. 

Se estivéssemos num Brasil anterior a Bolsonaroland, ao PL-1904, à eleição de Damares Alves como senadora pelo Distrito Federal e da Bia Kicis como deputada federal, talvez eu me sentisse apenas surpresa. But… Esta galera fundamentalista está ultrapassando todos os limites de qualquer razoabilidade. Tive vontade de tascar um vá se foder às 9h da manhã. Ou de responder: se for para Exu e Iansã, pode. Na verdade, me deu vontade de gritar histericamente, numa catarse desesperada.

Entretanto, me contive. Não ia dar este prazer mórbido aos extremistas de direita. Eles não vão falar que sou uma louca desequilibrada. Tá vendo, este país dos comunistas é a devassidão. Não, eles não vão ganhar essa parada às minhas custas. Elegantemente respondi obrigada, mas não. E virei as costas angelicais à bizarrice da proposta.

Mas como tudo pode ser ainda mais bisonho, hoje fui acordada pelo interfone às 7 am: dona Luciana, bom-dia! Tem um oficial de justiça aqui querendo falar com o Sr. Bernardo. What??? Sonada, procurei o marido pela casa, sem sinal. O cara já havia partido antes do dia clarear. Estaria em fuga?

Resolvi descer e dar alguma satisfação ao sempre incompreendido oficial de justiça, pois dizer que o marido não estava em casa naquele horário com certeza soaria como desculpa esfarrapadíssima.

Olá, bom-dia, me desculpe o descabelamento matinal, mas realmente meu marido não está em casa. Estamos reformando um imóvel e provavelmente ele marcou com algum prestador de serviço por lá, pois dá aula na UnB às 8h. Por gentileza, do que se trata esta intimação?

Sem problemas, senhora, é uma Ação Penal (Whattt???). Ele deve ter reparado no meu espanto e me tranquilizou: não precisa se preocupar, acho que ele está arrolado como testemunha. Ele me deixou dar uma espiadinha no documento, não reconheci o nome da parte na tal AP. O oficial avisou que voltaria amanhã no mesmo bat horário e se foi.

Subi esbaforida e mandei ZAP para o digníssimo intimado, que prontamente respondeu: é aquela história do lanterneiro da oficina que estava roubando a oficina onde a gente leva o carro. 

Ah, tá, só me faltava, neste semestre absurdado, uma ação de investigação de paternidade, né?


Comentários

  1. Ótima! 🤣

    Marisa Reis

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  2. Hahaha, e nem no inferno zodiacal você está. Que sina essa sua com a rotina...ando querendo uma, já se vão seis do ano mais agitado da minha vida, não me recordo de outro tão intenso. Não posso reclamar...deve ser essa história de perdão aos antepassados que ando fazendo.
    Adorei o texto, escreve dois por semana, vai ser muito bom.

    Renata Assumpção

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  3. hahahahahaha que semana intensa!!! Investigação de paternidade é demais para o professor pardal.. ahahahahaha

    Bianca Duqueviz

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  4. Desculpe-me Lu , mas aqui morrendo de rir…pra vc o dito”qual
    foi a última vez que algo aconteceu, ou que vc fez pela primeira vez?”é fácil responder, tá sempre acontecendo 😂😂 e isso é incrível, pois
    assim nós seus leitores assíduos seremos sempre surpreendidos por histórias fantásticas!!!
    Cynthia

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  5. Kkkkk
    Eu gosto alguém quando alguem diz que rezará por mim .
    🤣🤣🤣🤣
    Da próxima vez me chame que eu falo com o tal cara 🤣🤣🤣🤣

    Karla Liparizzi

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  6. Ai, vc é muito engraçada com sua seriedade… 😂
    Fico imaginando as cenas…

    Karoline Simões

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  7. Quem não pensa bobagens com um oficial de justiça às 7 da matina na porta de casa? Kkk

    Tania Benn

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  8. kkkk …ótimo texto , curioso até o desfecho final …”é aquela história do lanterneiro da oficina que estava roubando a oficina onde a gente leva o carro.” Ufa! 😅

    Adriano Shulc

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