Resetada



“O que chega à página nunca é a história toda, mas sim a versão do escritor para a história - uma narrativa completamente controlada por seu criador.” 

(Gail Caldwell)



Tomei as tais “cápsulas de  insônia” - até o prosaico erro do DE no lugar do contra ou para me transportou um lugar de artesania das velhas bruxas - e tive um pesadelo gráfico tão bom quanto as séries mais nórdicas e mais sombrias que vi.

Acordei aliviada por estar na minha cama. E contente por Morfeu me visitar, ainda que assustadoramente.

Quem fica na superfície do sono agradece a oportunidade de mergulhar nos labirintos oníricos profundos. É uma dádiva. 

Se você já experimentou boa parte da farmacologia hetero e ortodoxa e não crê em mais nada, sabe que não há milagres. A poção de mulungu, hipérico, melissa, camomila e valeriana, em dosagem feiticeira criada pelas freiras da Pastoral da Saúde do Paranoá (será que o pesadelo teve a ver com aquela horrenda dos filmes?), lhe traga apenas poucos outros sonhos, talvez alvissareiros. 

Mas paradoxal é que sonho bom é aquele que nos acorda perdido no tempo-espaço. Então tudo bem se o enredo noturno não for palatável.

Não dormir com os anjos é um vampiro que suga lentamente a sua energia vital. Com os anos, você se torna um deles. Resigna-se ao desalento de que nunca descansará da sua sina infeliz de morto-vivo. Isso é o que de fato aterroriza.

A alegria de abrir os olhos e se perceber restaurada, “resetada” de noites vazias de memória alguma, além daquela do sono interrompido em cada fucking madrugada, mesmo após um angustiante tormento a la Poe, vale o ingresso. 


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