Meio Adélia, meio Manoel

Roça a roça no peito.

O chão ancestral alcançava os pés dos morros.

O rio passava lá embaixo.

As vacas pastavam lá embaixo

e seguiam o chamado do curral ao fim da tarde. 

Havia uma mangueira às margens da varanda. Mal se divisava o rio 

umidificando o vale de cerrado bruto.

Dona Maria preta com o lenço alvo na cabeça,

engomado a ferro de carvão.

Na bica, se acocorava para arear as panelas

pretas da lenha do fogão. 

Patos e pintinhos amarelos.

O sol e o ipê também eram amarelos. 

Jesuíno, o vaqueiro, tinha muitos filhos.

O mais bonito, João Batista, atiçava os pensamentos da menina-moça.  

Matava-se porcos com uma estocada

abaixo da pata dianteira esquerda. 

O grito atravessava o coração

e o fio de sangue escorria pelo terreiro 

sem drama algum.

Existência natural.



Comentários

  1. Que coisa boa, alimentar nossa mente e nosso coração, com as delícias de uma vida , natural , bela e de pura conexão com a natureza…ajuda e muito amiga , a acariciar os sentimentos ruins que invadem esse momento obscuro em que a humanidade está vivendo, muito grata por nos proporcionar esse carinho através da sua sempre bela escrita🙏💕🌟
    Cynthia

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  2. Só de existir e respirar, a natureza já é poesia.
    Amo seu olhar!

    Polly

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  3. Que gostoso. Boas imagens. Bons sonhos...😁

    Dante Filho

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  4. Lindo o texto Lulu 👌🥰 ,Que memória boa vc lembrar da vó Maria maravilhosa ❤️Graças a ela eu não perdi meu dedo da mão direita o indicador🙏🏼

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  5. Amei!

    Maria Félix Fontelle

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  6. Ar puro é pura inspiração.

    Valdeir Jr.

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  7. Nossa! Como vivenciei tudo isso! Bom demais da conta!

    Karol Simões

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  8. Lu, que delicia o que escreveu. Roça boa demais. Me senti lá dentro🥰🥰🥰

    Ana Cecília Tavares

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  9. Lu, lindo demais.
    Lembra tanto um lugar seguro e tranquilo da minha infância.
    Eu vi as fotos no insta... lindissimas!! Fiquei lá por horas, indo para este lugar gostoso que até existe fisicamente, mas já não é o mesmo.

    Bianca Duqueviz

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  10. Lindo demais e um abraço na alma pelo reavivar da grata memória daqueles tempos encantados da Fazenda Salta Pau, na sua forma e cores originais...
    Vó Maria, a Vó Preta, um carinho a parte e indelével em meu coração, ao lembrar da bica d'água e monjolo, das roupas quaradas ao sol, perfumadas e da farofinha de miúdos de frango que ela fazia pra me agradar e me dava às escondidas dos demais irmãos...
    Para não causar ciúmes, pois à todos dedicava atenção...
    Nossa relação de troca humana era visceral, forte e muitas vezes, tácita...dispensava a formalidade da fala...
    A vó verdadeira que ocupou o coração da menina de roça e o encheu de beleza e amor.
    Obrigada irmã, por tanta sensibilidade e habilidade, na percepção, escrita e desse olhar igualmente único, para a captação de belas imagens, com as quais nos presenteia com seus maravilhosos textos e poemas!!
    Carinhoso e demorado abraço!

    Marilena Holanda

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  11. Belíssima descrição da vida nossa simples lá na roça e na infância! Doeu meu coração com a morte do porco, mas tudo era feito com respeito e na medida necessária! Respeito a criação porque tbm somos criaturas!!!!

    Um bjo da sua fã n. 1


    Anna Gabis

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