Erupções


"¿Para qué hago versos...?

Para que sepáis
que bajo mi nieve
palpita un volcán"
(Vicenta Castro Cambón)

Uma mulher aderna,

não afunda.

Seu corpo canoa larga 

equilibra-se entre os remos,

pés carcomidos.

A canoa ginga

esquerda-direita, direita-esquerda.

No rio-vida-caudaloso-extenso

a canoa singra sem pressa:

malemolente

persistente. 

O corpo balança

gangorra no tênue equilíbrio entre pesos

direita-esquerda, esquerda-direita.

Pendula, existência móvel, inquieta. 

Uma mulher é toda ela natureza.

Terra firme,

rija madeira de lei.


Os desejos,

voláteis,

estes não têm cais. 

 



Veranico

Descasco 

um continente se forma no braço, 

placas tectônicas. 

Cordilheiras afloram…

Pele rebelada

despelada 

marca a superfície. 

(A)pelo ao breve verão

desanuviado,

em flerte com o rei Sol.


Descobrir um poeta no dia de sua morte*

Dele ou sua, desimportante. 

A ordem da descoberta dos versos não altera o deleite.

Malas prontas, alas organizadas,

viaja-se em paz para dentro da gente.

Poesia redime.

Desanuvia, poesia

a bestialidade dos dias.

*preparação para ler Charles Simic

Meu anjo da guarda tem medo do escuro. Finge não ter, me manda ir na frente, diz que me alcança num instante. Pouco depois não consigo ver mais nada. “Aqui deve ser o lugar mais escuro do paraíso”, ouço alguém sussurrar às minhas costas. O anjo da guarda dela também sumiu. “É um absurdo”, digo a ela. “Esses sacaninhas covardes nos deixam aqui sozinhos”, ela sussurra. E é claro, até onde sabemos, eu posso já ter uns cem anos, e ela é só uma garotinha sonolenta de óculos.
(Charles Simic)


Comentários


  1. Respondo por aqui, para expressar meu encanto pelos seus poemas, lindos, fortes e com uma firmeza estética muito cinvicta, para além de fechos felizes.
    Como este de que os desejos voláteis não têm cais.
    E balançar entre direita e esquerda; esquerda e direita; ir e vir; vir e ir; girar e re-girar são lídimas expressões do Tao, no qual Yang e Yin são também princípios, forças, não antitéticas, mas complementares e equilibrantes. Ser mulher é, sim, uma posição na Rosa dos Ventos, e essa rosa/roda gira. Minha estima!

    Prof. Luiz Martins

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  2. Eu acho legal porque você nos brinda emoções de diferentes formas. Parabéns. Davide

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  3. Uauuuuu Lu👌🍷💕! Na outra encarnação quero ser igual a vc nas palavras. Como vc escreve sem fazer nem uma ruga🥰

    Leila Cruz

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  4. Muuuito legal ! Meus desejos tb sao voláteis e sem cais ❤️! Vc expressa coisas que eu queria saber escrever. Obrigada 🌹🌹

    Karla Liparizzi

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  5. Lú, adorei a forma como lidou com diversos sentimentos e assuntos, você se supera sempre, parabéns.
    😘

    Renata Assumpção

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  6. Simplesmente belo e tocante🙏🦋😘
    Cynthia

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  7. Muito bom, Lu. Gostei do corpo do Erupções.

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  8. Eu não respondo, não comento, mas sou consumidora e fã do seu conteúdo. Amo suas fotos e seus textos.

    Fabiana Oliveira

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  9. Os desejos,
    voláteis,
    estes não têm cais. Amei, Lu!!!
    O caráter deslizante do desejo...
    E a indefinição que tanto cabe a nós, mulheres.

    Luciana Barreto

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  10. Grande Lu!!!!! Parabéns sempre! Nesses tempos difíceis seus textos tiram um pouco a nossa mente do chão! Obrigada por tudo!

    Sua fã n. 1,


    Anna Gabis

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  11. Seria Luciana uma outra vida de Maiakovski??? rsrs
    Quando leio um poema seu , logo quero (re)visitar Maiakovski…

    Adriano Schulc

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  12. AMEIIIII! Ja inclui no meus favoritos para poder navegar por esse mar de encantamentos!😍🤗🥰

    Cyva Abreu

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