A poesia do detalhe



Dias atrás li um post que dizia que as garotas feias na adolescência ficavam bonitas na vida adulta, e aquelas da turma das gatinhas da escola acabavam grávidas adolescentes. Eis uma afirmação nua, crua e terrível capaz de abarcar muitas das minhas vivências e de outras gurias nos antigos ginásio e segundo grau.

As que não se encaixavam nos estereótipos, sofriam bullying. As consideradas atraentes, eram vítimas de assédio sexual - inclusive por parte de professores - muito antes de qualquer maturidade física e emocional.

Na galera do Scooby-Doo, nunca estive do lado da Daphne. Sempre me identifiquei com a Velma. Acho que foi uma maneira saudável de me preservar daquele ambiente hostil onde as loirinhas de olhos claros e as branquinhas de beleza modelo europeizado eram elevadas ao status de deusas.

Hoje, os conceitos estéticos andam bem mais flexíveis, ufa! Ainda não chegamos ao nível ideal, evidentemente. Somos um país mestiço e preto que segue reverenciando um Jesus nórdico, a pele branca, os longos cabelos lisos, as magras. 

Com tristeza, ouço o relato da sobrinha Clarissa, de sete anos: “eu odeio a XYZ porque ela fica falando que tem olhos azuis”.

Sigamos na luta pelo empoderamento de todas as mulheres “fora do padrão” (o que essa expressão robótica quer dizer, anyway?) Padrão a gente afere nas linhas de montagem. A beleza sempre residiu na subjetividade, na poesia do detalhe.


Comentários

  1. essa coisa da beleza envolve muitas coisas. Qdo pequena, minha avó dizia o tempo todo que eu era linda. Menina, acreditei a vida toda nisso. Mesmo sabendo que alguém talvez não me ache nenhuma beldade, mesmo ponderando essa afirmação, não consigo tirar esse sentimento. Sempre me sinto como minha avó dizia. Então, foi uma autoestima construída na infância que penetrou no meu DNA. Ao mesmo tempo, tenho muita dificuldade de achar alguém feio. Acho todas as pessoas bonitas. Então, bora elogiar muito os filhos pra implantar a beleza dentro deles.

    Alice Marques

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  2. Mariana fazia parte das garotas cobiçadas pelo sexo oposto, uma boneca desde que nasceu, os pais iam buscar os filhos nas festinhas pra verem seus looks. Ficou grávida pelos descuidos da juventude, os esquecimentos, mas sempre foi empoderada, é livre de pensar, de agir, independente como poucas, só não troca pneu porque tem seguro pra isso. Dá uma aula disso com toda a discrição que faz parte de sua personalidade. Meu maior orgulho. Ah mas é morena e nunca gostou de loiro.

    Renata Assumpção

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  3. Você sempre arrasa!!!
    Lindíssima por dentro e por fora.
    Admiro muito você.

    Mônica Martins

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  4. É verdade. A beleza é subjetiva e reside nos detalhes, como a sua!

    Maria Félix Fontelle

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  5. Sei bem do que vc esta falando. Meu cabelo não era liso, pele tinha espinhas, tinha só dois vestidos pra sair. Fui até chamada de rascunho de Bíblia numa cidade provinciana, machista, classista e elitista no velho oeste paulista. Minhas irmãs tiveram bem mais sorte que eu, no cabelo, na pele e na mãe que era bem diferente qdo chegou a vez delas. Me lembro de ir passear no Rio, na casa da minha tia Marize qdo era adolescente e ela comentar que eu precisava de mais roupas claras, era tudo escuro e bem fora de moda sempre.

    Eugenia Jardim

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  6. No meu caso não tive nenhuma fase me encaixando nos estereótipos da beleza kkk! Hoje em dia me falam que pareço a Velma.

    Rogelma Maria

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  7. Texto delicioso. Ah, vc é linda.

    André Luiz Alvez

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  8. Muito bom! Mas a maldade das crianças (dos seres humanos) só mudará seu escoamento com uma mudança extrema social e naturalmente repressiva. Este é nosso fardo.

    Ângela Sollberger

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  9. Ótima reflexão, (linda) Luciana!

    Lunde

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  10. Isso. Muito linda, Lu. E eu me identificava com o Salsicha. 😄

    Nara Faria

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  11. Que lindeza !!! De mulher e de escrito!!!

    Cristina Marcondes

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  12. Belo é quem consegue ver o belo do outro. Todos temos! Você é bela porque tem luz própria! Mas não ofusca, agrega. 💞

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  13. Hoje consigo enxergar a beleza que transcende a forma…como em Jean Paul Belmondo , o feio mais bonito do cinema 😁😁

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  14. A beleza sempre residiu na subjetividade, na poesia do detalhe. Perfeito!

    Bianca Duqueviz

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  15. Muito bom ter amigas como vc, q salpicam poesia na realidade às vezes sombria.

    Claudia Boudrini

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  16. Maravilhoso, Lu! Importante reflexão nos dias de hoje.

    Tatiana Marques

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  17. Eu também era Velma. RsRs Ou melhor: estava mais para a Olívia Palito. KKK!

    Thalynni Lavor

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  18. Oi Luciana!!
    Então, muito louco!! Mas é isso mesmo.
    Comigo também foi assim. Eu, entre meis colegas de adolescência, era o mais feinho. Os meus colegas mais próximos, sempre com meninas, e eu, lá, só olhando. "Tadinho", kkkk...
    E, no fim das contas, fui, e continuo sendo, o mais feliz.
    Um beijo.

    Paulo Magno

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  19. Linda. Ponto. Mas eu me reconheci na sua fala agora... fui uma adolescente tipo 'patinho feio', super deslocada... não me identificava com nada nem ninguém. Floresci a partir dos meus 17 anos, quando entrei na UnB...e conheci, enfim, o significado de 'pertencimento'. E hoje somos o 'conjunto da obra'.

    Luciana Barreto

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