Gagá




Hoje tropecei numa notícia que mexeu comigo. Chegou pela mala-direta que recebo: White Plains Patch. Não é novidade notícias mexerem comigo, OK, mas quando a pessoa vive fora do país por algum tempo, sempre vai guardar carinho especial pela rotina experimentada alhures. Aquela cidade tão distante vira um pouco sua. Você se sente quase uma cidadã dela. Exagero, evidentemente, mas o sentimento não liga para medidas de precisão. 

Tenho até uma teoria fajuta: dois anos deve ser o prazo máximo para se viver fora, se o andarilho pretende voltar para a terra-natal. Caso contrário, sofrerá de uma espécie de eterno banzo, sensação de deslocamento permanente e, pior, aquela mania insuportável de ficar fazendo comparações entre um país e outro. 

Mas eis que fico sabendo que a YMCA da Mamaroneck Avenue, decantada em alguns textos do blog e parte essencial das minhas duas temporadas no estado de Nova Iorque, vai fechar suas portas no edifício histórico que mais parece uma mansão gótica mal-assombrada (o que o torna mais charmoso). A CEO da organização, Cynthia Rubino, informou que colocou a velha construção à venda: "The YMCA is not a building," she said. Para mim é, ouviu, Mrs. Rubino? 

Fiquei triste, claro. Outro fim de era. Depois do desligamento da linha de telefone fixo na casa da amiga Lara, mais um baque desses. O coração rateou. Constato ter ingressado no momento existencial no qual sirvo de inspiração ou de embaraço para os que me rodeiam. Meu mundo anda caindo, encurvando, sumindo... Matrix e A Origem ao mesmo tempo agora. Dramas da pré-menopausa, relevem...

Nunca vou me esquecer das aulas de Healthy Back com a teacher Pauline – nessa altura do campeonato estará viva? Já era velhinha em 2001. As tentativas de fazer aulas de hidroginástica na small pool com um bando de americanas ranzinzas. Ou as poucas braçadas na large pool, bonita, todavia gelada para tupiniquins no inverno branco. 

Também não vou me esquecer da aula de Pilates frequentadas nesses últimos 18 meses com a teacher Silvine, argentina que não perdeu o jeito latino-americano de ser. E, escrevendo francamente, vou me lembrar com certo divertimento até da recepcionista sempre super mal-humorada, exigindo nossas carteirinhas todas as segundas, quartas e sextas. 

Não posso me esquecer, jamais, de que foi nas dependências da YMCA de White Plains que comecei a praticar yoga nos idos de 2001. Foi lá, ainda, que descobri que não poderia soletrar meu sobrenome nos EUA, pois as três primeiras letras dele são um palavrão em inglês: ASS! Era soletrar para arrancar gargalhadas dos ianques. 

Espero apenas que as formas e volumes imponentes e majestosos do edifício não sejam demolidos para dar lugar às contemporaneidades de gosto duvidoso que abundam nas cidades planeta afora. Afinal, é o custo de manutenção do conjunto que fez a YMCA abrir mão do endereço. Só nos últimos quatro anos, foram investidos mais de um milhão de dólares para que as atividades esportivas e sociais funcionassem em ordem. 

Que o futuro comprador tenha piedade da história da Arquitetura! E, por extensão, da história dessa brasileira que aprendeu a amar coisinhas bobas de um país que nunca será seu.



Comentários

  1. Vou dar uma de espírita chata no meu comentário: o que a vida estaria querendo te ensinar? A lição do desapego, talvez?

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  2. Que triste ver as instituições tradicionais perdendo para essa nova forma de viver mundo a fora.

    Renata Assumpção Queiroz

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  3. concordo com o prazo pra quem volta.. estou a dez meses fora e já me sinto meio deslocada, no banzo... que espero não seja eterno rs. beijo!

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  4. Muito bom!

    Marisa Brasiliense de Assunção

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  5. Que lindos e majestosos complexos arquitetônicos sejam mantidos para nos lembrar da época em que o belo dava lugar ao Império!!!

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