A Escola do Futuro podia ser agora






Barreiras, fronteiras, compartimentos. O que esses conceitos têm a ver com o trabalho do sociólogo francês Edgar Morin? Absolutamente nada! O conceituado pensador, hoje na casa dos 80, é uma mente aberta que propõe a aplicação do holismo na disseminação do conhecimento. Não no sentido metafísico que a palavra é frequentemente associada, porém em sua concepção original. 

Holismo vem do grego ‘holos”, que significa todo, inteiro, completo. É uma forma de pensar ou considerar a realidade segundo a qual nada pode ser explicado pela mera ordenação ou disposição das partes, mas, sim, pelas relações que mantém entre si e com o próprio todo, buscando evitar o reducionismo do pensamento cartesiano, que deixa de considerar as interações existentes entre os seres vivos, fragmentando os saberes. 

Por isso Edgar Morin é reconhecido como um dos maiores intelectuais da atualidade. Crítico da compartimentalização do conhecimento, o professor propõe o desenvolvimento do pensamento complexo, uma reforma da arquitetura do pensar por meio da aprendizagem transdisciplinar, capaz de formar cidadãos planetários, solidários e éticos, aptos a enfrentar os desafios dos tempos atuais. 

Nada mais contemporâneo, não é verdade? Todavia, o vanguardista Morin apresentou essas ideias revolucionárias na década de 70, antes mesmo do advento da internet, que derrubou todas as fronteiras de tempo, espaço e geografia que a sociedade mundial conhecia. 

No lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, Morin propõe o conceito de complexidade. Eis a proposta-chave de “O Método”, a obra mais importante do sociólogo, composta por seis volumes. 

Nesse trabalho magistral, Morin conclama os educadores a construir um conhecimento não-estanque, e, sim, complexo. Mas complexo numa abordagem de saberes forjados em conjunto, misturados; não de saberes difíceis ou complicados. O pensamento complexo, segundo o autor, tem como fundamento formulações surgidas no campo das ciências exatas e naturais como as teorias da informação, dos sistemas e da cibernética, que mostram a necessidade de superar as fronteiras entre as disciplinas. 


“A escola, em sua singularidade, contém em si a presença da sociedade como um todo.” (Edgar Morin)


Para o pensador, os saberes tradicionais foram submetidos a um processo reducionista que levou à perda das noções de multiplicidade e diversidade. Essa simplificação estaria, portanto, a serviço de uma falsa racionalidade, pois despreza a desordem e as contradições inerentes a todos os fenômenos naturais e sociais. 

Morin defende o pensamento integral. O “Homo Sapiens”, como ele gosta de se referir ao ser humano, é fruto da vida natural e da cultura. Desse modo, demonstra em seu trabalho a base do que seria a Educação dos tempos futuros: uma Educação que não isole as interações entre o local e o global, proporcionando a resolução das questões existenciais vinculadas aos contextos dos quais façam parte. 

Edgar percebe a classe escolar como uma entidade multifacetada, que engloba diversas realidades socioeconômicas, emocionais e culturais; um ambiente heterogêneo por princípio. Consequentemente, é o espaço perfeito para se dar início à transformação de paradigmas: abaixo o convencional e a hierarquia entre as disciplinas; viva a conexão com a existência! 

Diante do desafio de rever essa tradição escolar, o pensador propõe a aplicação de “Sete Saberes” indispensáveis à edificação do “ambiente educacional do futuro":

1 - Um conhecimento capaz de criticar o próprio conhecimento; 

2 - Discernir as informações-chave, tendo claros os princípios do conhecimento pertinente; 

3 - Ensinar a condição humana; 

4 - Ensinar a identidade terrena; 

5 - Enfrentar as incertezas; 

6 - Ensinar a compreensão; 

7 - A ética do gênero humano.

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Comentários

  1. Interessante texto sobre o ensino para o dia dos professores que se aproxima. Eu, particularmente, tive grandes mestres que me serviram de inspiração, desde o ensino médio na primeira aula de física no colégio Dom Quintino em Fortaleza, com o prof. Alan, professor este, super dinâmico, além de possuir o fundamental: brilho nos olhos ao ver seu próprio quadro com as equações da mecânica! Com certeza foi isso que me fez receber o prêmio de melhor aluna de física da escola, uma emoção grande para quem saiu do sertão do Ceará! Na UFC, UnB e na universidade de Barcelona, tive a oportunidade inestimável de conviver com excelentes professores que me apoiaram na minha jornada! Por isso antecipo aqui os meus sinceros agradecimentos aos meus grandes mestres de uma vida inteira!

    Rogelma

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  2. Ah que legal! A Educação tem que ser repensada de forma urgente! "A Escola do Futuro podia ser agora" mesmo! Esses pensadores são incríveis, aprendemos mto com eles! Morin é super!!! Veja também José Moran!!! Luzinha.

    Patrícia

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  3. Quando a aparecer essa escola que você pensou, deixaremos de ser o país do futuro. Obrigado, Lu.

    Thiago

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  4. Valeu Lu. Penso sempre numa educação temática voltada a projetos. Se aplicar a teoria de Edgar Morin a essa pedagogia de temas e projetos estaríamos perto de uma enorme revolução educacional. PARABÉNS A TODOS OS PROFESSORES E MESTRES.

    Fábio Lúcio

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  5. Também sou ansiosa pela chegada da escola do futuro, construída numa arquitetura que supere a alienação.

    Magali

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