A alma do negócio






O importante é nunca se esquecer do que é essencial. Eis a moral da história dessa nova versão cinematográfica de “O Pequeno Príncipe”. Mas fica a pergunta complicada: o que é essencial? A resposta pode representar exatamente o oposto, incluindo um sem fim de sentimentos e coisas. 

Essencial é deveras abstrato, deveras pessoal. O filme tenta dizer que não. Que essencial é não se vender ao sistema capitalista voraz; não se esquecer da sua criança interior; não desdenhar os sonhos; não controlar a vida com mãos de ferro. Quem discorda? Ninguém, almeja meu eu utópico. 

Mas fazendo uma filtragem menos óbvia, começa a confusão. O que é essencial para mim pode não ser para você. Onde estaria o essencial personalizado, o essencial “Itaú” - feito para você? Eis o pulo do gato. 

Provavelmente para a mãe sentada na mesma fileira do que eu e que não largava o celular, o essencial estava muito longe dali e, talvez por isso, a filhota não parasse de falar tentando lhe resgatar a atenção. 

Sei lá, não quero julgar o comportamento dessa mulher. Não sou uma mãe perfeita. Não sou um ser humano equilibrado. O que seria essencial para ela, gostaria de saber. Me pego pensando nas mensagens subliminares que estarei repassando aos meus filhos. Será que eles acreditam que ver séries e filmes na TV é essencial para mim? São tantos... 

E será que são? Se tivesse que viver completamente à mercê da natureza, como vi outro dia em um programa da BBC uma moça fazer: morar mais de 1 ano no meio do nada do Alasca - vivendo a pura vida natural – teria eu mais saudade de quê? Da programação do canal pago ou do convívio com os meus amigos e familiares? 

Uma coisa eu tenho certeza: sentira muita falta do arroz com feijão. Minha experiência nos Estados Unidos me mostrou que comer comida caseira é essencial para mim. Sem ela, vou me deprimindo, dá um banzo danado! 

Talvez seja essencial para mim o silêncio que sinto ao contemplar o mar. Para outros, sexo (e longe de mim lascar um rótulo de viciado, hein). Ou filhos (não acredito que sejam essenciais para todos). Há os que listariam a fé em Deus como essencial. Alguns, ser solidário é premissa de vida. Uns tantos, o autoconhecimento.

Complicado é que ainda rola aquele essencial que não está ao seu alcance, saca? Dormir, por exemplo, é essencial para mim. Todavia, sou insone. Já fiz de tudo para alcançar as pazes com a cama, porém...

Então vou administrando as essencialidades possíveis como escrever com total liberdade. Essencial também é ser capaz de me encantar com poemas e imagens de lirismo explícito. É conviver com a Arte em todas as suas expressões. É ter amigos que lembrem de mim ao se deparar com qualquer referência ao “O Pequeno Príncipe”. 

Só que eu não tô aqui para isso hoje: falar de mim. Seria muito fácil continuar a jogar esse jogo. Meu intento, no entanto, é lançar a batata quente no seu colo, possível leitor. Essência é alma e essa não se aprisiona em definições.


Comentários

  1. Um questão aparentemente simples revela sua complexidade quando você dedica a ela. Taí: não sei te dizer o que é essencial pra mim. E agora?

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  2. MARAVILHOSO e convidativo para uma reflexão na alma! Mais uma vez , PARABÉNS!!!

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  3. Questao complicada...
    Meu marido e minha filha são essenciais para mim. Sou uma pessoa que se deprime ficando sozinha.

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  4. O sol é essencial para mim. Vê-lo nascer é o prenúncio de um bom dia! :)

    bjs!
    Fabs

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  5. Belíssimo texto, Lu, e muitas saudades de ti!
    Essencial pra mim, hoje em dia, é conhecer através da investigação, do yoga, da meditação, enfim , do autoconhecimento a Verdadeira Natureza do Ser, que pra mim supre todas as outras essencialidades que são relativas.O meu ser tem sede de conhecer a minha Alma!
    Namastê!
    Cynthia

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  6. Olá querida Luciana, a cada vez que leio um texto seu, sinto que você está cada vez mais A Escritora que diz para nós em seu blog que deseja ser. Parabéns! que gostoso lê-la! profunda aventura... a gente vai entrando... entrando... e não se perde não, entra e sai junto com você.

    Gostei muito de como você nos levou ao questionamento do Essencial! Grata por ele. Sempre curti o Pequeno Príncipe, e ainda não vi este último filme feito sobre ele, mas irei, e certamente me lembrarei de você lá!

    Valeu, beijos, com admiração pelas suas letras, e pela autora,

    Guti.

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