Agulha no palheiro




Se eu contar que já perdi a conta do tanto de números de celulares anotados, papos batidos, entrevistas marcadas, entrevistas feitas, bolos, furos, testes infrutíferos pelos quais já passei nesses últimos dois meses, vocês acreditariam em mim? 

A gente lê nos jornais e revistas que empregada doméstica é uma profissão em extinção. Mas experimentar de forma palpável a questão é outro departamento. Sabemos que o Brasil está menos miserável e, afinal de todas essas contas públicas e privadas, nunca fui mesmo adepta do trabalho escravo e exploração de mão de obra barata. Parabéns!

Aprovo a ideia de uma sociedade sem empregados domésticos servis e mal pagos. Até mesmo sem alguém sequer para fazer os serviços gerais da casa como sói ocorrer nos tais países desenvolvidos. Entretanto fica o dilema: as mulheres teriam de, novamente, voltar a ser donas de casa ou abdicar de uma vez por todas dessa história de ter filhos? 

Nos Estados Unidos acontece: mulheres abrem mão de suas carreiras pela maternidade ou não têm herdeiros e se tornam carreiristas de primeira grandeza. Na Europa, governos estudam estabelecer  uma espécie de compensação financeira aos casais para evitar que a taxa de natalidade caia para níveis inaceitáveis. Aliás, algumas nações (o Japão, por exemplo) já estão em situação periclitante. Ausência de futuras gerações ali no horizonte. 

Pois bem: o que fazer? Como posso trabalhar fora e dentro de casa ao mesmo tempo? Impossível. Algo vai sair mal feito, evidentemente. Meus filhos pagarão o preço de uma mãe neurastênica e estafada. Permanecer apenas no lar como mãe 24 horas também não parece ser uma opção viável para muitas mulheres. Várias  acabam matando seus filhos em acessos de loucura. As notícias macabras não desmentem a realidade. 

Peraí, não pensem que estou justificando insanidades, mas dá para ter um pouco de compaixão por essas mulheres trancafiadas em casa, massacradas pela intensa lida diária com comida, roupa, banheiro e educação dos filhos para lavar e passar a limpo. 

Sem falar que num mundo caro, competitivo e profundamente mercenário, ter crias demanda, a cada dia, recursos financeiros mais contundentes. Como dispensar um dos salários dos chefes da família? Como deixar para lá nossas conquistas feministas e voltar amenamente à condição de “subordinadas”? 

Eu acho que a saída para esse complexo impasse social passa pela flexibilização de horários no ambiente de trabalho, bem como na possibilidade de trabalhar em casa e manter o mesmo salário, além da existência de creches e jardins de infâncias públicos ou subsidiados pelas próprias empresas contratantes ou pelo governo.

Mães não deveriam exercer atividades funcionais por mais do que cinco horas nos primeiros cinco anos de vida de seu filho, pelo menos. Teríamos cidadãos muito mais equilibrados comandando a nação lá na frente, genitoras provavelmente mais sãs e profissionais muito mais competentes e comprometidas com suas corporações. 

Todavia, enquanto tudo isso não passa de ficção científica, a gente vira malabarista, equilibrista, psicóloga e psiquiatra. Tenta sacar se aquela candidata é psicótica, se é confiável, se é honesta, se... Testa e explica, explica e testa e segue afundada no desespero, sem encontrar ninguém. Sinceramente, não sei se mulheres que ainda não são mães deveriam ler esse texto. Posso estar colocando uma pá de cal na idílica maternidade.


Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Lu,

    o pior é quando vc arruma e ela faz tudo mal feito e ainda fica de cara feia...Por falar nisso, eu quero te dizer que não indique mais a Luzia, ela faz tudo muito mal feito e sem higiene.

    Encontramos várias louças e roupas sujas... Aqui em casa começou a ter barata, o banheiro da empregada ficou podre, pois até a roupa dela fede bastante....

    Amanhã vou demiti-la, pois já arrumei outra que começará semana que vem!

    Mas agradeço demais a sua indicação, pois sei q vc não estava a par de como é a Luzia.

    Beijos,
    Rogelma.

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  3. Pois é, Lu,

    que novela, hein?! Não conheço ninguém para te indicar, mas vou ver se lá no fim do mundo onde moro alguém conhece, quem sabe...

    Beijos e boa sorte,

    Marcita.

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  4. Amiga,sinceramente é uma barra!Sei bem o que é isso.Hoje,graças à Deus não preciso mais, pelo menos desse esquema de uma pessoa direto em casa.Mas não se desespere, iremos te ajudar...todos os seus leitores estão empenhados em procurar "a secretária" que você merece...Deus me ouça!
    bjão!Namastê!
    Cynthia

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  5. Aí, Loo!!! Como você, apoio totalmente o avanço do país a tal ponto que as empregadas domésticas sejam extintas - por arrumarem emprego melhores, bem entendido! Mas há de vir uma forma de as mães poderem ser mães ou de os pais poderem ser pais, com redução de jornada, compensação, alternando um com o outro, sei lá. Ainda não podemos nos dar ao luxo, economicamente falando, de dispensar uma renda, e emocionalmente falando, de dispensar outro tipo de realização. Bem-aventurados os que se realizam exclusivamente na maternidade/paternidade, é verdade. Eu amo meus filhos, mas não sou exclusivamente mãe. Então, sonho com esse horário de cinco horas, ainda que o salário fosse menor. Aliás, o governo deveria pagar para ter cidadãos psicologicamente saudáveis por terem pais presentes, e nem digo a nós, que temos bons empregos, mas a essas moças mesmo que nos ajudam e largam seus filhos em casa enquanto cuidam dos nossos.
    Beijo!

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  6. Ei Lu,

    concordo com sua proposta de política pública para lidar com essa frustrante dilema de filhos X trabalho, mas, para botar lenha na fogueira, acho que você deixou de fora um pequeno detalhe- onde os pais ficam nessa história? Eles não deveriam participar e compartilhar dessa angústia, tanto quanto a gente? E estamos criando nossos filhos para cuidar do lar e dos filhos ou para criticar as mulheres e suas " neuroses" ? Isso não daria um belo post?

    Beijos,

    Marina.


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    1. Olá MarinaMorenaDescolada,

      cê não pôs lenha na fogueira não porque eu concordo contigo em absolutamente tudo. Só que escrevi do ponto de vista feminino, do peso que é para a mãe encontrar essa espécie de "substituta" temporária.

      Claro que os pais devem fazer o mesmo que as mães, mas as mães amamentam, por exemplo. São as mulheres que engravidam e mudam de personalidade e de aparência física. Isso é muito doido e muito forte!

      Meu marido é um pãe. Faz de tudo e mais um pouco e, boa parte das vezes, é mais presente do que eu, mais "maternal" do que eu. Reflexo até dessa brutalidade que atinge as mulheres que vivem essa loucura de fazer dois, três turnos (casa, filhos, homens, profissão).

      Quem se arrebenta de fato somos nós, mas, talvez, a escolha tenha sido da gente mesmo: provar que éramos capazes, sei lá.

      Procuro criar meus filhos arrumando cama, lavando louça, acreditando que a mãe deles é tão competente e capaz quanto o pai deles. Que gostar de cuidar de crianças é uma tarefa sem sexo. Cabe a qualquer um na mesma medida. Espero que eles estejam aprendendo,né?:)

      Beijão, querida!!!

      Lulupisces.

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  7. "Quem se arrebenta de fato somos nós, mas, talvez, a escolha tenha sido da gente mesmo: provar que éramos capazes, sei lá."

    Você disse tudo Lu. Acho que nós carregamos um peso maior porque acreditamos que temos que carrega-lo , temos que sofrer para ser mães, enquanto os homens conseguem assumir diferentes papéis sem sofrer com a pressão de não ser perfeitos em todos eles. Porque só eles que encaram tudo como diversão, pra quê tanta serenidade?!

    Enfim, vários valores estão envolvidos, a começar por nossa educação. E era essa minha provocação, talvez para mim mesma. Vc tem dois filhos homens, talvez não passe pelo drama de se pegar educando diferenciadamente meninos e meninas. E se eu não quero que minha filha herde as minhas neuroses, tenho que ensiná-la que não só ela como o Kadu devem ser igualmente responsáveis por ajudar na casa e em outras atribuições essencialmente femininas.

    Beijos,

    Marina.

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  8. Oi Luciana,

    Eu passei 2 semanas na casa do meu primo em Aracaju no ano passado. Eu fiquei perplexa de ver como a empregada domestica eh explorada. Ela faz tudo. Ela da banho nos filhos do meu primo. Ela poe eles na pirua escolar. Ela alfabetiza as criancas. Ela corta o bife da Marina que com 7 anos ainda nao sabe cortar o proprio bifinho.
    Alem disso ela lava, passa roupa, joga agua no chao da casa todos os dias e faz todas as refeicoes.
    Ela folga a cada 15 dias. Ela ve seus filhos a cada 15 dias que eh quando ela volta para a casa dela que esta la toda empoerada e cheia de roupas para lavar.

    Nem todas as Americanas que tem filhos ficam em casa e desistem de suas carreiras. Elas trabalham tambem. Nao tem empregadas como as madames Brasileiras tem. Elas tem uma faxineira aqui e ali, talvez a ajuda dos pais ou dos sogros.
    Comem fora. Comem junk food. Acumulam cestas de roupas sujas mas elas nao tem o luxo que o Brasileiro tem. Porque como voce mesmo disse Luciana, nao da para fazer tudo bem feito.
    E a Hilda? a empregada do meu primo? como ela faz? ela eh mae tambem. Nao esta certo.
    Eu fico feliz que a profissao de empregada domestica esta em extincao. A empregada tem que ser muito bem paga e nao tem que ser mae das criancas enquanto a mae das criancas sei la eu oque esta fazendo... E ela tem que folgar 2 vezes por semana como as patroas folgam. Dificil? Well?
    Desculpa a sinceridade mais eh a pura verdade. Entao um conselho para quem quizer. Ofereca mais dinheiro e fique sem empregada no final de semana. Afinal de contas a empregada tem vida tambem.
    Ela nao co existe na terra para servir as patroas com carreiras.

    Obrigada,

    Evelyn

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  9. Dear Eve,

    você não precisa pedir desculpas pela sinceridade. Acho que tudo o que você falou está corretíssimo!! Seu primo realmente parece explorar a empregada dele. Mas essa é uma realidade muito comum, principalmente no Nordeste, onde muitos patrões confundem emprego doméstico com servidão.

    Aqui em casa, a minha super ajudante não precisa fazer tudo isso e eu pago dois salários mínimos, o que é um salário considerado muito bom para o setor. Não pago mais porque realmente não posso pagar mais. Além disso, ela vai embora todos os finais de semana. Sábado pela manhã ou mesmo na sexta à noite.

    Tento dar o melhor de mim para essas mulheres que tanto me ajudam. Mas sou, como escrevi no texto, favorável ao fim dessa profissão.Só acho que precisamos encontrar um meio de não sacrificar tanto as mulheres que querem ser mães e trabalhar. Inclusive as empregadas domésticas. Dar um emprego bom para elas significa que os filhos dela terão mais oportunidades do que elas tiveram, provavelmente.

    Afinal, boa parte delas só estudou alguns anos. E sem estudo, não há emprego melhor. Então, acho que quem emprega uma pessoa em casa e paga bem e trata bem esse empregado está, na verdade, aumentando as chances dos filhos desse alguém ser cidadãos mais prontos para a vida.

    Você deveria mandar o que escreveu para o seu primo. Quem sabe ele refletisse sobre a questão, não é mesmo? Os dois textos, o meu e o seu.

    Mega abraço,

    Lulupisces.

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  10. Dear Lu,

    Eu confesso que eu estava com medo de ler o seu comentário... Eu achei que você fosse ficar brava comigo! Depois que eu postei no seu blog, eu me senti um pouquinho mau. Parece que eu estava culpando você pelas as mazelas da profissão de empregada doméstica.

    Bem que eu gostaria que esse blog chegasse até o meu primo, ele deveria de ler. Não só ele, como a sua esposa que esta no quarto ano de faculdade de medicina. Mas eu mesma não vou começar uma intriga com ele. Pelo menos não agora.

    Quando eu estava lá, fiquei realmente indignada o que eu vi e pensei: como tem gente que vive mal neste mundo!!!! Obrigada por ter entendido o meu ponto de vista!!!

    Eu sei que essas mulheres pouco estudaram e pouco oportunidades tiveram. Mas será que elas precisam sofrer para o resto da vida?

    Boa sorte na sua procura e que até lá você consiga seguras as pontas ai!!!

    Super hug,

    Eve.

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