Independência ou morte!

Populações quilombolas, ianomamis, caigangues... Minorias sob o olhar vigilante de ONGs que estão sempre a postos para defendê-las, mas quem protege os dreadlocks deste Brazilzão de meu Deus? Por isso, lanço aqui um manifesto: Salvem os remanescentes de Woodstock!! A gente pode se divertir muito com eles.

O meu processo de conscientização acerca da relevância da população rasta, aquelas peças raras que carregam na cabeça cilindros de cabelo à la nós de marinheiro, aconteceu neste último fim de semana, quando acampei em São Jorge, vila que rodeia a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Fazia algo em torno de um século que eu não tomava parte num programa de índio dessas proporções.

Chuveirinho: planta típica do Cerrado

Foi revelador! Escolhemos um camping apinhadinho de dreads, garotos e garotas na faixa dos 20 anos curtindo a juventude na tranqüilidade e na marijuana porque ninguém é perfeito, afinal de contas. Mas conta aí, o que fez você sair em defesa dos locks? Ah, sei lá entende, aquele estilo de vida em que menos é mais sempre me seduziu. E São Jorge parece se erguer como o último bastião em nome da simplicidade. Lá, uma boa parte dos nativos carrega o lema “foda-se mundo consumista e cruel”. Irresistível!

Camping apinhadinho de dreads
A vila – nada daquela coisa neurastênica do filme do Shalamayan – é habitada por seres mágicos, personagens impressionantemente reais em suas fantasias de existir à margem do asfalto e de outros sinais estressantes presentes nas cidades. Tudo ali é pó, gente bestando nos banquinhos, cachorros em grupos de inspeção, aparições de extraterrestres e dreadlocks. Sob a proteção de São Jorge, eles podem sorrir sem ameaça de extinção. Será?

Quando penso em São Jorge, imagino que Visconde de Mauá, Arembepe e Trancoso também já foram assim, portais do estilo de viver batizado de alternativo. Mas, aos poucos, esses lugares foram ganhando sofisticação e toques urbanos, atraindo burgueses cada vez mais dispostos a pagar caro para ter um pouco de paz e desfrute da alternativa que abandonaram ao se renderem ao “sistema”.

O problema é que esta turma acaba inflacionando os pequenos e frágeis paraísos da rusticidade. Daqui a pouco só tem espaço para pousada de charme custando 400 reais a diária, restaurantes dos chefes tais e celebridades inúteis (uma redundância proposital) fingindo que não querem aparecer.

São Jorge, por estar tão próxima de Brasília, está ameaçada de sumir do mapa em sua configuração atual. E, se ela deixar de ser o que é, lá se vão os dreads e seus diálogos deliciosos:

- Pô, vi os emails e todo mundo acha que eu tô no Rio.

- Mas você tá aqui, né?

- É, tô aqui, mas eu vi os emails, véio, e os caras acham que tô no Rio.

- Mas você tá aqui... (e assim sucessivamente por cinco minutos)

No meio desta tribo não rola velocidade banda larga, não. “Dez minutos atrás de uma ideia já deu para uma teia de aranha crescer” não combina com essas meninas e meninos que passam o tempo em campings ouvindo boa música, rindo, desenhando e conversando potocas desconexas. A gente ri muito com eles e volta a ser romântico e a acreditar que dá pé dormir ao relento e acordar com o canto do “fogo apagou”.

Desbunde pleno

“Talvez por fugir drasticamente dos padrões de beleza adotados pela maioria da população ou talvez pela associação do estilo ao consumo de cannabis, o usuário de dreads sofre um imenso preconceito na maioria dos países”, afirma a Wikipédia. Não é fácil ser maluco beleza hoje em dia, né não? Abrace um lock, irmão, e abandone “suas velhas opiniões formadas sobre tudo”, morou?!

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