Hexadivagações

Veja bem. Quando a gente engata com essa, não se iluda: vem encrenca. Eu tive uma chefe que amava o tal do veja bem. Em seguida, ferrava a gente, desculpe o trocadilho em ano de Copa, de verde e amarelo. Falando nas nossas cores mais emblemáticas, o que deu na cabeça daquele paspalho do Alexandre Herchcovitch ao afirmar que acha essa combinação cromática “pavorosa”? O cara tá ficando mais rico com o modelo Dunga desfilando casaco de marinheiro da marca dele e tem coragem de ficar cuspindo na bandeira do país que compra as coisas que ele inventa? Eu avisei: o veja bem não tem boa fama.

Mas, veja bem. Eu escrevo esse texto numa quinta-feira e o jogo da verdade ainda demora 24 horas para acontecer. Não sei se o Brasil vai passar da Holanda, porque esse é o primeiro jogo de fato que vamos jogar nessa Copa. Mas eu torço, claro, para que façamos aquela final tão sonhada: Tupiniquins x Hermanos. É ou não é o desejo enrustido de todos nós? Sei que o risco de ter de engolir Maradona, o deus consagrado do mundo da bola, é pagar pra ver demais. Mas, veja bem: se a gente vencesse seria a suprema glória: divino!

Eu queria ver sangue na final. Roer as unhas até chegar no toco. Brasil x Uruguai (só pra contrariar). Brasil x Argentina...Mas algo me diz que os alemães vão despachar nossos rivais cabeludos. E não estou sendo influenciada pelas apostas do polvo vidente não. A Alemanha está jogando um bolão simpático, alegre, contagiante. Nessa Copa de bizarrices, até seres aquáticos dão seus palpites. Por que não eu? Uma mamífera apaixonada por esse esporte definido pela direita reaça dos Estados Unidos como terceiro mundista.

Eu disse que era bizarro. Cada uma. Essa galera dos EUA não brinca em serviço quando o lance é tomar partido. Se alguém é republicano, é mesmo. Nada de tucanagem e nem de veadagens, porque reaça de direita é muito macho até quando (lembra aquela piada de gaúcho?). O preconceito rola em alto em bom som. Não há espaço para panos quentes e evasivas na cabeça dessa turma abjeta.

Por isso mesmo é que eu quero é ver gol! Tô na torcida para que os cucarachas levem a febre do soccer em definitivo para o Tio Sam. Só vai ser chato ter de ver a “Stars and Stripes” também vitoriosa nos estádios de futebol. A gente tem um pouco de trauma daquele som do hino norte-americano tocando 150 vezes nas premiações olímpicas.

A Copa da África do Sul está bem africana: não tem glamour, não tem perfeição, não tem maquiagem que esconda os estádios nunca lotados, os arredores sempre empoeirados. A gente tem a real percepção de que os templos foram erguidos às pressas, sem infraestrutura de apoio adequada. Os times africanos foram sendo limpados da tabela sem chance de redenção, assim como são seus próprios países no cenário global.

O nível de sinistrice dessa jabulani está de arrepiar. Dava pra imaginar Nova Zelândia tentando jogar bola, Sérvia vencendo Alemanha e Japão x Paraguai? A partida rivotril da história das Copas! Valeu para tirar de Brasil x Portugal o título de o mais tedioso de 2010.

Essa Copa está tão esquisita que acabei me entregando a mais inexplicável das atividades: assistir aos programas da TV paga que discutem “em profundidade” as peripécias futebolísticas. Caramba, os caras se levam a sério de com força. Troca de Passes-África, SportTV News...Um time de gente que sabe o que rolou na partida que aconteceu no planeta Kaprutz e desclassificou o elenco dos Na’vi, que era, sem dúvida, o franco merecedor da vitória.

Por isso, sem mais delongas, uma vez que o importante é o drible, colocar a culpa na arbitragem, sacanear argentino e conferir o Kaká exercitando seu lado negro da força, faço minhas as palavras de Dom Diego: “Favorito é o Brasil, que ganha mesmo jogando mal”. Veja bem, se a taça vier para a nossa casa, algo mais importa?

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