“Aquele que não deve ser nomeado”

Li numa manchete de O Globo que a campanha eleitoral 2010 não está empolgando a classe artística e nem as celebridades. Por acaso está animando alguém? Desde que vivemos nessa democracia do voto popular, que não é lá muito democrática - se pensamos na obrigatoriedade de sair de casa para eleger representantes que acabam não nos representando - eu não sentia tanto desprazer por uma eleição.

Bons tempos aqueles em que, com cara pintada e faixa na mão, fomos para a frente do Congresso Nacional pedir o impeachment de Collor. Também fomos para a porta da mansão dele xingar com a paixão da juventude que estava se firmando como cidadã. Linda passagem da vida também aquela da primeira posse de Lula, a Esplanada coberta de povo. O choro incontido de eleger um presidente pra chamar de nosso. Bandeiras agitadas, abraços nacionalistas. O Brasil todo embalado numa esperança fervorosa.

Também não me esqueço do voto orgulhoso para Cristovam Buarque. Lá estava eu na porta da residência de Águas Claras, chorando (que manteiga derretida) e tietando, com direito a abraço no novo governador. Cria ser eu politicamente madura, participativa, debatedora. E eis que várias frustrações e escândalos depois, me deixei levar pelo nojo (no sentido amplo de luto incluído) de não querer votar em ninguém.

Que preguiça que estou de ir para a escola classe, enfrentar a fila e eleger mais dos mesmos somente para que outros ainda piores não usurpem o que resta da nossa alegria. Não, pior: o Horror, o Horror! Ver a possibilidade de retorno do exterminador do futuro da cidade: Joaquim Roriz. Só de escrever esse nome sinto repulsa. Uma dor no estômago aguda me acomete. Deve ser sintoma de estresse pós-traumático. Quem não se lembra da apuração angustiante em que Cristovam foi derrotado? Um dos dias mais tristes da história da capital.

Para mim, aquela vitória do político obsoleto e maquiavélico foi infinitas vezes mais cruel do que o mensalinho do DEM. Porque não posso acreditar que alguém realmente acreditava em José Roberto Arruda. Até hoje me pergunto como um milhão de pessoas puderam eleger um malandro como ele, que ridiculamente chorava para as câmeras como um mau ator à caça de holofotes. Ele devia andar com um potinho de vick vaporubi no bolso do paletó. Uma equipe de TV ali? Disfarça e passa. E faz cara de arrependido e rouba, mas faz.

Não estava disposta a escrever sobre essas eleições. Não curto a Dilma, não aguento o Serra. Por eliminação, me sobra a Marina, que parece legal, honesta e batalhadora. Mas assim era Lula e o seu governo, apesar de ter feito o país florescer em muitos aspectos, acabou falhando no que mais esperávamos dele: integridade e austeridade.

Mas hoje fui brindada com a notícia de que o TSE está do meu lado. Fora Roriz! Nenhum político como ele poderia, nem nos piores pesadelos, ainda estar na ativa destruindo a qualidade de vida das cidades e enriquecendo às custas da sangria da dignidade pública. Não chega a ser um grande alívio. O inominável ainda está no páreo e, provavelmente, vai chegar lá.

Só almejo que as pesquisas estejam mesmo no caminho certo e o empate técnico entre o Horror e Agnelo seja o pirilampo no fim do túnel. Mas, sinceramente, também não sinto firmeza de propósitos e de caráter no candidato do PT. Então, lá irei eu, porque sou obrigada, fazer valer o voto útil. Se pelo menos o Voldemort não vingar, já me permitirei repensar a postura azeda-alienada de plantão.

Comentários

  1. Hoje ouvi na CBN um comentarista político dizer que a dinastia Roriz provavelmente acabou. Tomara. O problema é que essas coisas se reproduzem porque fazem parte de um modelo político vigente na cabeça dos políticos e dos cidadãos. Será que nós mudamos? Tomara.

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  2. Caramba, a-do-rei o texto!

    Sua revolta contra esse coisa-ruim te deixou inspiradíssima, que coisa boa. Expressões ótimas que supercombinam com aquela peste: "Voldemort", "o exterminador do futuro", "o Horror, o Horror"... E "aquele que não deve ser nomeado"??? Nota mil!!! Ri demais. Só assim pra gente rir de algo que envolve essa criatura (que me faz pensar numa expressão ótima que aprendi com um amigo: "chuta que é macumba").
    Espero que você tenha recebido mais comentários de apoio do que xingamentos da corja dele (aposto como recebeu vários, né não!).
    Discutir política hoje em dia virou tarefa de torcida organizada, infelizmente. Como eu tenho minhas simpatias e minhas antipatias e não acho que ninguém seja perfeito, me recuso a passar recibo de torcida organizada, seja lá para quem for.
    Opiniões definitivas mesmo só tenho em relação a poucos, e aí nada vai me fazer arredar o pé, e um desses poucos é justamente essa praga aí embaixo.
    Parabéns pelo texto, Lulu!

    E, novamente, agradeço o cartão superlindo que você mandou (que já está no mural do meu quarto) e o cartão com a mostra Clint Eastwood (cujo rosto lindão está me encarando bem nesse momento, ao lado do meu computer).
    Um beijo e feliz 2012!

    Bjs. Débora

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