Dimensão assombrada



Amanhece 

o cobertor de nuvens

ainda esquenta 

as encostas. 

Garças preguiçosas

mantêm-se à distância

da água fria.

Parte das árvores,

braços desnudos,

clama piedade.

Resoluto,

São Pedro engole o choro até setembro.




Fotografar a ausência 

fantasmas sem lençóis 

de fato incorpóreos

indistinguíveis.  

O vazio do não dito

subentendido 

oculto pelas eras do tempo. 

Elementos imateriais

indícios 

refletem memórias 

fragmentadas pelos lapsos da senilidade.

Tomar decisões difíceis 

procurar rastros, vestígios 

símbolos que não estão mais lá. 

O não óbvio entrando em foco.

A natureza cobre, mas não apaga.

Cinza e sangue na seiva das árvores. 

A poeira das lembranças 

arrastada pela brisa

dimensão assombrada. 

Falta.

Qualquer detalhe que se vê no hoje 

resguarda vínculo ancestral.

Apelo visceral.




Uma canção resgata

a paixão mais leve que o ar

queimadura de primeiro grau

quase primeiro amor. 

Deixou um rastro incandescente 

Pericárdio marcado

incólume desejo

persistente. 




Descia a pirambeira adonde ficava a pousada na cidadezinha de Capitólio e encontrei a primeira galinha d'angola urbanoide da minha vida, ciscando no asfalto na maior tranquilidade. Mansa, mansa.
Ela é de estimação? É do moço dessa casa aí da porta aberta. Ela tem uns cinco anos. Conhece até qual é o barulho do carro dele.
Minha Minas predileta é a barroca, mas o mar mineiro tem lá seus encantos.
Tchau, Capitólio!

Comentários

  1. Amo seus textos! Longos ou curtos, sempre os amo!!
    Amo também suas fotos, você é também uma excelente fazedora de fotos!!
    Sou sua fã, LuA!! 👏👏

    Luciene Mesquita

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  2. Lindo!!! texto e fotos…adorei a galinha urbanóide, bem Minas😂
    Cynthia 😘

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  3. Piyutim iafim = Poemas bonitos!

    Elisabeth Ratz

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  4. Uau 🤩
    Adoooooro!

    Karol Simões

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  5. Eu amei a história da galinha de estimação!!!

    Bianca Duqueviz

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  6. Adorei, fotos lindas, poemas🤩 lindos.

    Renata Assumpção

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  7. Ah, como é bom ler seus pensamentos! 😍

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  8. Boa tarde Manalú!
    Muito especial o que escreve!
    O que brota de sua sensibilidade multifocal...
    Gosto muito, sempre...

    Marilena Assunção

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  9. Que bela junção, costura fina de linguagens distintas! Ler-ver, pensar-sentir. Há magia na realidade da lembrança, mesmo criada.

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  10. Lindo, Lu. sua poesia tb guarda uma mistura do metafísico com o cotidiano. Gosto muito!

    Re Osório

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