"Lá vem o pato, patiti, patacolá..."





"And it's all over now, baby blue". Não adiantou o Nobel premiar Bob Dylan como um alerta, uma aviso para deter o horror, o horror. Não adiantaram as denúncias de abuso sexual: milhares de mulheres foram às urnas para eleger Trump. Quando vi uma brasileira que vive na Flórida dizendo que iria votar em Trump por causa de seus valores, tive a certeza de que ele venceria.

Se em um estado progressista e libertário como Nova Iorque era possível ver centenas de carros e casas estampando adesivos de Trump, o que dizer dos EUA profundo? Deu no que deu. E agora a Idade Média se globalizará... Foi só no que pensei hoje, ao acordar: em como a história é cíclica. Só não estava a fim de viver isso nesse momento. Talvez na próxima encarnação, mas não já.

Nem ligamos os telejornais brasileiros hoje cedo. Acordamos deprimidos. A impressão que tenho é de que estou revivendo toda a loucura de 2001, com a vitória de Bush arrastando o mundo para a radicalização islâmica sem precedentes. Pensar que Trump pode alcançar níveis ainda mais baixos é avassalador.

Pensar também que oito anos de Obama e Michele nada serviram ao processo de educação moral e cívico dos EUA me deixa absolutamente devastada. Se após uma experiência de alto nível intelectual, social e humano promovido por essa dupla, a Casa Branca vai receber uma boneca inflável no posto de primeira-dama, o que esperar de nós, república da piada pronta? Quem o Brasil elegerá em 2018? Trevas...

Fui para a aula de pilates como uma autômata. Os colegas de classe, coroas brancos, remediados e cultos estavam todos deprimidos também. Uma névoa de angústia envolvia todos os olhares. O primeiro trecho de conversa que pesquei foi exatamente: "dark ages". Sim, eles também sabem que os EUA são capazes de promover a escuridão no planeta.

Um alucinado detém o poder da maior potência bélica mundial nas mãos, apoiado pela maioria do congresso americano. Muita insensatez pode brotar dessa conjunção astral nefasta.

O amigo Brian me pegou numa conversa longa ao telefone assim que terminou a minha aula. Também estava devastado, o coitado. Disse pensar em aceitar proposta para morar na Holanda.

Tomás e Rômulo seguiram para a escola tristes. Rômulo pediu para ouvir Faroeste Caboclo e eu pensei: sim, é o far west se apossando da evolução social para aprisioná-la num deserto de incivilidade.

Desci as escadas do prédio da YMCA e dei de cara com o cartaz que estampava as doces palavras: faith, peace, joy, love, hope, life. Quase ri de desgosto, de nervoso, de pavor. Segui para casa sem ligar para a garoa que molhava meus óculos. Qual é a vantagem de enxergar num cenário de breu?

Até o sol foi embora hoje. O dia é cinza para atestar que os americanos, para variar, foram longe demais. O ovo da Serpente está posto e vai eclodir. Quem vai pagar o pato do Donald?



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