Independência no Brasil: um grito do Ipiranga e dezenas de batalhas




Poucos brasileiros desconhecem a imagem portentosa de Dom Pedro I com a espada em riste vaticinando “Independência ou Morte!” reproduzida à exaustão nos livros didáticos de História. Trata-se de um recorte no gigantesco quadro do artista Pedro Américo que habita o Museu Paulista (antigo Museu do Ipiranga), em São Paulo, atualmente fechado para reformas e sem data para reabertura. 

E assim como essa imagem é apenas um fragmento da obra de proporções intimidadoras, cercada de polémicas quanto à veracidade de suas informações*, também é distorcida e fragmentada a visão que o povo brasileiro construiu sobre o processo de Independência do Brasil ao longo dos anos. 

A maioria dos brasileiros assimilou a narrativa de que nossa emancipação de Portugal se deu por meio de um parto natural tranquilo e rápido, quase indolor. Mas se aprofundarmos um pouco o olhar para os estudos mais verossímeis de importantes historiadores, começamos a pintar uma outra cena: a de uma independência conquistada com sangue, sim. Do corte do cordão umbilical com a pátria-mãe, jorraram rebeliões. 

A verdade é que o processo de independência do Brasil não foi pacífico. Após o 7 de setembro de 1822, várias manifestações contrárias à Independência tomaram corpo em regiões distintas do território nacional. Este movimento de resistência era composto, principalmente, por militares portugueses que moravam no Brasil. 

Dom Pedro I precisou reagir rapidamente para não colocar em risco a recém conquistada liberdade de Portugal. Seu objetivo era expulsar do país as tropas portuguesas. Mas como o Brasil ainda não possuía um exército, o imperador arregimentou milícias e contratou militares ingleses e franceses para combater os movimentos de resistência. Momento histórico chamado de “Guerras da Independência”. 

Bahia, Piauí, Maranhão e Grão-Pará, que hoje compreende os estados do Pará e do Amazonas, eram áreas de colonização mais antiga e por isso concentravam expressivo contingente de portu­gueses fieis à antiga metrópole. Sem contar que se tratavam de regiões onde a coroa portuguesa tinha amplo controle político e militar. Os conflitos, portanto, tornaram-se inevitáveis entre militares + comerciantes e funcionários públicos portugueses residentes, que não reconheciam o nascimento do novo império brasileiro. 

As Guerras da Independência eclodiram entre os anos de 1822 e 1825.Todavia, D. Pedro I conseguiu, com a colaboração da Inglaterra, que emprestou armamentos e a experiência de militares como Lord Cochrane, Greenfell e do mercenário francês Pierre Labatut, além da participação de populares e dos ricos agricultores brasileiros que doaram dinheiro para a compra de navios de guerra, vencer a resistência lusa. 

Muitos opositores, principalmente militares portugueses, foram presos e expulsos do Brasil. E, em 1825, Portugal reconheceu a emancipação política do Brasil. Vitória de D. Pedro I, que ainda manteve a unidade territorial. Um feito e tanto. 

Para alguns historiadores, dentre eles José Murilo de Carvalho, o imenso território da “América Portuguesa” se transformou em Brasil graças ao processo de independência ter sido encabeçado pelo príncipe-regente, ou seja, por quem já estava no poder governando, ao contrário do que aconteceu na América Espanhola. 

No caso do Brasil, a ruptura com a metrópole se deu de forma menos sangrenta, distante dos centros de poder e com pequena participação popular. A sociedade brasileira da época sustentou sua estrutura política, econômica e social. E a unidade do território não se alterou em relação ao período colonial. 

Desse modo, o príncipe-regente pôde unificar todo o território, uma vez que o Brasil, desde o período colonial, permaneceu com a característica continental intacta. 

Para ir além: 

Os focos de reação 

• Bahia: Uma divisão portuguesa comandada pelo general Madeira de Mello continuou fiel ao governo de Lisboa e não reconhecia a autoridade do Imperador. A resistência popular, que se iniciara em meados de 1822, tinha a liderança da elite baiana e contou com o reforço dos mercenários estrangeiros, a partir de 1823. Assim, o almirante Cochrane e o general Labatut foram decisivos para a vitória final dos brasileiros no célebre Dois de julho, data em que se comemora a libertação da Bahia. 

• Piauí: O major Cunha Fidié, Comandante de Armas da província, não aceitou a independência. Mesmo ven­cendo as tropas brasileiras num primeiro confronto, não resistiu à reação popular e ao bloqueio da esquadra de Lord Cochrane. 

• Maranhão: A Junta de Governo de São Luís recu­sou-se a reconhecer o Império e mobilizou as tropas lusas estacionadas na província. A ação dos populares mara­nhenses e a chegada de Cochrane abateram o ânimo dos portugueses e a província se integrou ao Império, em 26 de julho de 1823. 

• Grão-Pará: A luta do povo paraense contra o gover­no fiel à antiga metrópole teve a cobertura do almirante John Greenfell. A vitória brasileira culminou com a prisão dos membros da Junta de Governo, garantindo-se assim a ­incorporação da província e o reconhecimento da autoridade de D .Pedro I. 

• Cisplatina: Nessa província, que hoje é a República do Uruguai, o Comandante de Armas, D. Álvaro da Costa não aderiu ao Império, entrando em conflito com o general Frederico Lecor, responsável pela ocupação da área que foi anexada ao Brasil durante o governo de D. João VI. A luta entre as duas facções culminou com o cerco de Mon­tevidéu por Lecor e a rendição dos partidários das Cortes. Nesse momento, os uruguaios, liderados por Antônio La­valleja e Frutuoso Rivera, iniciavam a luta pela sua própria independência, levando à Guerra da Cisplatina.


*Entenda a polémica que cerca a obra artística “Independência ou Morte”: 



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