Arthur de pé descalço


Desde que nasceu, o menino era danado. Abria um olho e fechava o outro como se piscasse para a mãe e para o pai, respectivamente. Depois, sorria zombeteiro, virava o rosto para o lado e dormia até a próxima troca de fraldas.

Por isso, a mãe de Arthur não estranhou quando, cinco anos mais tarde, o menino cismou que os pés dele não eram feitos para calçar sapatos.

- Só vou para a escola que me deixar ficar descalço, decidiu.

Os pais se preocuparam e colocaram as mãos nas cabeças (cada um na sua própria cabeça, que fique bem explicado). Mas o menino estava realmente decidido: de tênis não andava. De sapato, então, nem pensar.

- Chinela. Sandália de surfista também serve, sugeriu o garoto.

E Arthur só tinha cinco anos quando tomou esta decisão, já imaginou?

- Este seu filho é da pá virada, reclamou o pai.
- Agora o filho é só meu, né? Respondeu a mãe, que, emburrada, completou: A culpa toda é do seu tio Aldegundes. Na minha família, os tios não ficam dando mal exemplo para os sobrinhos.

- Mas o que o tio Gundes tem a ver com isso? Retrucou o pai.

- Vai me dizer que não se lembra que seu tio vivia com um relógio em cada braço? Onde já se viu andar por aí com um relógio em cada braço? Coisa de quem não bate bem da bola, isso sim. Vai ver que o menino puxou ao tio.

Mal a mãe terminou a frase, Arthur entrou correndo pela sala batendo uma bolinha. De pé no chão, pois chuteira também não dava para calçar.

- E então, mãe, já encontrou a escola onde eu vou estudar descalço?

- Que ideia, rapazinho!! A escola é um lugar para aprender, não para pensar em sapatos, bronqueou o pai.

- Também acho, pai. Por isso é que eu não entendo porque tenho que ficar calçado quando quero ficar descalço. Os pés livres pensam melhor, filosofou Arthur.

Não adiantou. O garoto foi matriculado na escola. Mas a escola não queria saber de meninos descalços na sala de aula. A professora mandava Arthur todos os dias de volta para casa com um bilhete em letra de forma: SEM SAPATO NÃO SENTA!

Arthur passou a assistir às aulas de pé, mas não colocava o calçado de jeito nenhum.

O menino já estava com quase seis anos e um pouco cansado de ficar em pé durante toda a manhã, de segunda à sexta-feira. Foi aí que os pais dele encontraram uma escola diferente:

- Aqui seu filho pode ficar descalço, de chinela ou de sandália de surfista. O que importa é que ele aprenda, faça amigos e seja feliz. A nossa escola trabalha com a seguinte filosofia: os pés livres pensam melhor!, exclamou o diretor, estufando o peito.

Que felicidade! Os pais de Arthur correram para casa para contar a novidade ao filho. E o garoto, agora contente, foi para a escola diferente. E descalço. Havia dias em que ele calçava sua chinela. E em outros, aparecia na sala de aula com a sandália de surfista que sua mãe comprou na loja da esquina.

Arthur fez oito anos e tirava boas notas no colégio onde seus pés eram livres para pensar. Um dia no almoço, a mãe orgulhosa perguntou:

- Está gostando da escola, meu filho?
- Mãe, eu gosto de três coisas na escola: a aula de educação física, a hora do recreio e a hora de vir embora, concluiu o filósofo Arthur.

E a mãe suspirou, resignada e divertida, vendo o filho sumir porta afora ao encontro dos amigos.
 

FIM
 
 
 
 

Comentários

  1. Muito fofuchos os dois continhos... vc tem jeito mesmo! Faz uma com menininha na próxima? rsrsrsr

    Bjs
    Patty

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    1. Xi, tá difícil escrever sobre meninas, viu?:) Se bem que eu já escrevi sobre a sua garota, né? É que a minha ligação com os sobrinhos sempre foi mais intensa do que com as sobrinhas... Engraçado isso, né? Será que é por isso que eu tive dois meninos?
      Vamos ver se rola uma historinha de lacinhos cor-de-rosa... Vou experimentar!

      Beijão,

      Luzinha.

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  2. Muito bom, Luciana!
    Feliz Dia das Mães!

    Beijos,
    Cecilia

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  3. Boa, Lu! E tb gostei da sugestão da Patty: queremos mais! Uma menina seria legal. Lembro que li uma história infantil boa demais contada 5 vezes sob a ótica de 5 personagens, um deles inclusive o cachorro da família... um bom exercício de imaginação... :D
    bjus
    Isa

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  4. Oi, Lú!

    Estou arrepiada... até emocionada!
    Minha escola era assim, eu podia andar descalça, não tinha uniforme, estava contando pra Arthur esses dias que perambulava pela escola uma cabra, de nome Alcione! Kkkkk
    Alcione comia nossos trabalhinhos do Jardim que ficavam pendurados na varanda da sala....

    Vou mostrar esse texto pra ele... vou ver se acho aqui umas fotos da escola! Era muitooo legal!

    Obrigada pelo texto, me fez mais feliz!

    Noemia

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  5. Hahaha ��
    Li para todos aqui na sala
    Foi uma gaitada geral!
    Obrigada por compartilhar conosco!!

    Marcela Melo

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  6. Ameiiiiii prima!!! Meu Arthur ama meia, não curte muito sapato não!! kkkkk

    Lívia Marques

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  7. Depois que eu li esse texto com a minha turma, agora todo dia eles sempre tiram os sapatos pra entrar na minha sala pra estudar

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    1. Nossa, que testemunho incrível. Estou emocionada! Abraço e obrigada pelo comentário tão bonito!

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