Sobre a baixa estima coletiva

No jornal de hoje me deparo com a foto do presidente da Huyndai – uma das maiores empresas da Ásia – numa creche, vestindo um avental. Foi flagrado pelas lentes do fotógrafo ao dar mamadeira para um bebezinho. Que situação surreal para nosotros desse país tropical. O empresário septuagenário foi condenado por fraude e corrupção e, ao invés de ir para prisão, o judiciário sul-coreano determinou que ele cumprisse 300 horas de prestação de serviço à comunidade da qual ele deveria pensar 300 vezes antes de roubar.

Aqui no Brasil nem isso acontece. Ninguém que tem poder vira um reles mortal pagando penitência. Ninguém com dinheiro é preso e muito menos tem de passar por essa expiação. As pessoas atropelam, matam e pagam seu crime com cestas básicas. Marcos Valério, ‘mensaleiro”, é condenado a pagar uma multa ridícula de dois salários-mínimos por se lambuzar com muita, muita grana pública. Está achando que isso é clichê? Não é não, meus caros. Eu trabalho no Judiciário e vejo as brechas das leis deixar impunes os poderosos. Leis essas criadas pela elite para proteger a si própria.

E então me lembro de que a Coréia do Sul e o Brasil estavam no mesmo barco lá pelos idos de 70. Eram países em desenvolvimento com grandes esperanças de se tornarem potências. A Coréia do Sul deslanchou: investiu maciçamente em educação e hoje desponta como um país próspero, com qualidade de vida e decência para a maior parte da população.

Entretanto as altas expectativas em relação ao Brasil ainda não se concretizaram. Continuamos patinando sobre políticas públicas assistencialistas. A educação de qualidade é só discurso, a classe média se cerca nos condomínios e agora a classe média baixa também. É o novo boom imobiliário: apartamentos minúsculos com área de lazer completa para a baixa renda. E o espaço público do lado de fora da cerca? Que se lixe, que vire terra de ninguém: pichado, violentado, imundo, assassinado.

Caramba, que texto mais depressivo, vocês vão dizer. Mas de vez em quando é bom a gente fazer o mea culpa, dá uma de Diogo Mainardi insuportável. O que uma foto do presidente da Hyundai fala para os coreanos? Que a Justiça funciona para todos. A sensação de segurança aumenta em toda a sociedade daquele país. A autoestima do povo cresce. Eles se sentem envaidecidos ao mostrar para o mundo como estão lidando bem com os problemas internos.

O que essa mesma foto fala para os brasileiros? Pelo menos para mim não fala, grita. É um soco no estômago quando a gente pensa que na terra brasilis impunidade é quase sinônimo de poder. Que ainda somos o país do futuro e que esse futuro parece ser inexistente.

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