Comunicar para “cidadanizar”

“A empresa privada pode trocar de produto e de cliente. A pública não pode trocar de cidadão”. Assim o renomado professor e pesquisador francês Pierre Zémor instigou os participantes da palestra “Comunicação Pública – a experiência francesa” a pensar as particularidades de quem trabalha no setor para fornecer informações transparentes e didáticas à sociedade.

A palestra aconteceu no auditório da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e contou com a participação de quem milita na área e valeu para conhecermos a evolução da Comunicação Pública na França e debateram semelhanças e diferenças do trabalho existentes entre os dois países.

Pierre Zémor, que é pioneiro no estudo do tema e autor de vários livros referência, abriu a palestra enfatizando que Comunicação Pública é compartilhar, trocar informações de interesse coletivo produzidas por organizações investidas de missões que dizem respeito à sociedade.

Exatamente por isso, o trabalho dos profissionais de Comunicação que atuam na Administração Pública deve ser diferenciado do que é feito pelas empresas privadas, que utilizam ferramentas de marketing para ganhar a concorrência. “O direito à informação dos cidadãos implica um dever de comunicação. As informações úteis ao cidadão e à vida da cidade devem ser disponibilizadas ao público ao fim de dar conhecimento dos direitos e obrigações, procedimentos a seguir (trâmites, autorizações...), bem como os dados recolhidos (econômicos, demográficos, sociais) com vistas a organizar a vida coletiva”, enfatizou Zémor.

O professor defendeu a tese de que o melhor comunicador público é aquele que está inserido na empresa pública, ou seja, o servidor que detém o conhecimento necessário sobre a instituição para realizar o trabalho de divulgação das informações. “É esse profissional que deve ter lucidez em face da própria organização, incluindo as limitações dela, pois ele está lá diariamente e há mais tempo”, ressaltou

Zémor também apontou como condições essenciais para a realização da comunicação pública eficaz o aprofundado conhecimento do que deseja o cidadão e a criação de uma relação pró-ativa com a comunidade. “É fundamental que se estabeleça uma relação perene de confiança com o cidadão, pois não há informação quando não há um bom relacionamento”.

Interação é preciso - Outro ponto importante nesse processo de troca de informações é a interatividade. Para Zémor, a informação só perdura quando é ativa, ou seja, “quando inclui o receptor como se ele pudesse ter a oportunidade de interferir. Isto implica trocas para explicar e ajustar, ao entregar à sociedade conteúdos de interesse coletivo. Fortalecer o diálogo entre cidadãos usuários e os agentes públicos. Enfim, os comunicadores públicos precisam adotar uma atitude pedagógica”, enfatizou.

Também participaram do debate as professoras Elisabeth Brandão, que ressaltou que encontros como esse contribuem para a “recuperação do orgulho de ser servidor público”; e Heloíza Matos, que aproveitou a palavra para destacar que a comunicação pública não pode ser feita isoladamente: “É preciso criar espaço para as diferentes vozes da sociedade, numa rede social abrangente”.

Simpático e eloquente, Zémor finalizou a palestra em tom otimista: “Acho que vocês no Brasil estão evoluindo mais rapidamente do que nós, franceses, sempre presos às tradições. O fundamental é ter em mente que a comunicação faz parte do ato de governar. Os conflitos não podem ser descartados da divulgação. As instituições crescem no debate contraditório, no reconhecimento das dificuldades, na investigação, na participação e interação social”, concluiu.

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